Mediunidade com Kardec
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- 01. Quem é Allan Kardec?
Certamente, qualquer pessoa que tenha buscado informações sobre a doutrina espírita já deve ter lido ou ouvido falar de Allan Kardec. Mas, afinal, quem foi Allan Kardec? Quem é Allan Kardec? Allan Kardec é o pseudônimo de Hippolyte Léon Denizard Rivail, nascido em 3 de outubro de 1804, em Lyon, França. Com seu nome de batismo, Rivail destacou-se na área educacional, sendo um renomado pedagogo — discípulo de Pestalozzi e divulgador do Método Pestalozziano —, além de escritor e tradutor de diversos idiomas. No entanto, foi somente na década de 1850 que o pseudônimo Allan Kardec passou a fazer parte de sua vida, período em que começou a estudar e observar os fenômenos das mesas girantes, traçando as primeiras linhas que dariam origem à codificação do Espiritismo. Como educador, Hippolyte Léon Denizard Rivail fundou dois institutos educacionais e escreveu diversas obras didáticas, sempre mostrando-se à frente de seu tempo, com um trabalho de inestimável grandeza. Membro de várias sociedades científicas, Rivail possuía um caráter questionador e cético. O filho de Lyon era um homem íntegro, o que o tornou uma figura respeitada em toda a sociedade intelectual francesa. MESAS-GIRANTES Já em meados de 1855, por meio de um amigo, o Sr. Fortier — pesquisador do magnetismo —, Rivail ouviu falar pela primeira vez sobre o fenômeno das mesas girantes. A imprensa da época narra amplamente que, por toda a França, em salões, residências e até mesmo em apresentações teatrais, mesas levitavam, giravam e se moviam apenas com a imposição das mãos ou dos dedos dos participantes. Após a insistência de seu ilustre amigo, o cético Rivail permitiu-se observar tais episódios, inicialmente na casa da senhora Roger, depois na residência de madame Plainemaison e, por fim, no lar da família Baudin. Após presenciar, diversas vezes, que as mesas respondiam por meio de pancadas — ou outros movimentos — às perguntas que lhes eram direcionadas, Rivail passou a investigar a origem da inteligência por trás dessas respostas. Acreditando, a princípio, que tais movimentos eram causados unicamente pelo magnetismo ou, talvez, de um mero truque ilusório (chegando a desvendar, mais tarde, a técnica usada por diversos falsários), Rivail concluiu que, por trás de todo efeito inteligente, há uma causa inteligente. Com o passar do tempo, as comunicações, que antes eram obtidas por meio das mesas girantes e das sucessivas pancadas que indicavam as letras do alfabeto — formando frases e sentenças muitas vezes extensas, tornando o processo demorado e incômodo —, foram adaptadas para uma nova modalidade. Essa nova técnica, conhecida como panier à bec — já popular entre diversos médiuns quando foi adotada por Rivail para fins de experimentação — consistia no uso de uma cesta de bico com um lápis preso ao centro. Colocada sobre um papel, a cesta passava a escrever sob o influxo das mãos impostas. Por fim, a chamada cesta escrevente deu lugar à psicografia que conhecemos hoje, na qual a própria mão do médium escreve sob o estímulo da entidade comunicante, sem a necessidade de qualquer outro utensílio além do lápis (ou caneta) e do papel. Nesse meio tempo, por meio da mediunidade das jovens irmãs Caroline e Julie Baudin, Rivail recebeu diversas mensagens espirituais, incluindo uma revelação do Espírito Zéfiro, guia espiritual da família Baudin, sobre uma de suas vidas passadas, na qual teria sido um druida chamado Allan Kardec. Foi também nesse período que ele tomou consciência do compromisso assumido — ainda no mundo espiritual — de pesquisar e divulgar a doutrina dos Espíritos. MÉTODO CIENTÍFICO Para que o professor Rivail pudesse observar, investigar e analisar todos esses fenômenos de forma criteriosa, sem se deixar envolver por empolgação, fantasia ou fanatismo, era necessário adotar um método científico sério, idôneo e sistemático. O método científico utilizado por Kardec foi o da universalidade das informações advindas dos Espíritos, conhecido como Controle Universal do Ensino dos Espíritos. De modo prático, o codificador comparava as mensagens de diferentes médiuns (residentes em localidades distintas) e Espíritos, buscando concordância em suas ideias e princípios. Além disso, submetia as mensagens à análise racional, descartando aquelas que contrariassem o bom senso, a lógica e os conhecimentos científicos da época. Somente após um controle rigoroso e sistemático Kardec incorporava tais mensagens e ensinamentos em suas obras. As ideias presentes na codificação eram frequentemente confrontadas com novas mensagens mediúnicas, a fim de confirmar ou refutar seu conteúdo. É válido lembrar que, naquela época — década de 1850 —, a comunicação era bastante dificultosa, sendo quase sempre realizada por cartas ou, quando muito, por telégrafo. Também é justo mencionar que os médiuns envolvidos nesse processo não mantinham contato ou relação de amizade entre si, preservando, dessa maneira, a pureza e a individualidade das respostas, sem interferência, sugestão, indução ou manipulação por parte dos envolvidos. Ao término dessa fase, Rivail lançou, em 18 de abril de 1857, a primeira edição de O Livro dos Espíritos , concluindo que a inteligência por trás dos fenômenos das mesas falantes, dançantes ou girantes era, de fato, a dos Espíritos — isto é, as almas dos homens que outrora viveram sobre a Terra. ALLAN KARDEC Para diferenciar seu legado educacional, incluindo todas as obras assinadas com seu nome de nascimento, Rivail passou a adotar o pseudônimo de Allan Kardec em todas as obras que marcaram a codificação da doutrina dos Espíritos. O Espiritismo, ou a Doutrina dos Espíritos, recebeu esse nome porque foram os próprios Espíritos superiores, incluindo o Espírito da Verdade (Jesus Cristo), que o ajudaram nesse processo de observação e pesquisa, com o objetivo de trazer ao mundo o consolador prometido. OBRAS BÁSICAS Segundo o livro Catálogo Racional de Obras para se Fundar uma Biblioteca Espírita , especificamente no capítulo 1º — intitulado Obras Fundamentais da Doutrina Espírita —, Allan Kardec destaca que as obras básicas do Espiritismo são: O Livro dos Espíritos; O Livro dos Médiuns; O Evangelho Segundo o Espiritismo; O Céu e o Inferno; A Gênese; O Que é o Espiritismo; O Espiritismo na sua expressão mais simples; Resumo da lei dos fenômenos espíritas; Caráter da revelação espírita; Viagem espírita em 1862; Coleção Revista Espírita (a partir de 1858). Apesar de Kardec nunca ter limitado a cinco o número de obras consideradas básicas, no Brasil, esse termo ganhou popularidade ao se referir aos seguintes títulos: O Livro dos Espíritos (1857), O Livro dos Médiuns (1861), O Evangelho Segundo o Espiritismo (1864), O Céu e o Inferno (1865) e A Gênese (1868). Em suma, as obras básicas do Espiritismo são todas aquelas que Allan Kardec codificou, ou seja, um total de 23 obras, e não apenas as cinco mencionadas anteriormente. De todo o seu legado como Allan Kardec, O Livro dos Médiuns é, sem dúvidas, o maior tratado sobre mediunidade existente até hoje. Ninguém, em toda a sua trajetória, conseguiu agregar tanto valor a uma única obra — sobre os médiuns e os fenômenos mediúnicos — como Kardec o fez. Portanto, Kardec é um prisma, um norte, uma bússola que devemos seguir ao estudar ou pesquisar sobre qualquer assunto relacionado à mediunidade. DESENCARNE Em 31 de março de 1869, Kardec retorna à pátria espiritual aos 64 anos de idade. Casado com Amélie Boudet, companheira de ideal espírita e grande educadora, Kardec deixou seu nome registrado na história como o codificador da Doutrina Espírita, o ser iluminado que trouxe ao mundo o consolador prometido. Foi o antigo druida que, de forma abnegada, pesquisou e registrou as leis mediúnicas — que até hoje continuam comprovando a imortalidade da alma e, de forma segura, colaborando com todos aqueles que desejam educar suas faculdades. Kardec foi o homem, o educador, o esposo, a alma de escol que, verdadeiramente, ajudou a mudar o rumo do nosso planeta. Texto extraído do livro Mediunidade com Kardec de Patrick Lima . Capítulo 1: Kardec é um prisma Pergunta 01: Quem é Allan Kardec? Como citar: LIMA, Patrick. Mediunidade com Kardec. Poverello Edições, 2023. 1ª ed. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS SAUSSE , Henri. Biografia de Allan Kardec. Tradução de Evandro Noleto Bezerra. 1ª edição. FEB Editora, 2020. MAIOR , Marcel Souto. Kardec: a biografia. 5ª edição. Record, 2014. KARDEC , Allan. Catálogo Racional das Obras para se Fundar uma Biblioteca Espírita. Tradução de Julia Vidili. São Paulo: Madras, 2014.
- 71. Qual o papel da reforma íntima na superação da obsessão sutil?
Manoel Philomeno de Miranda, na obra Mediunidade: Desafios e Bênçãos , psicografada por Divaldo Franco, nos alerta: Pequenos deslizes morais, desrespeito ao equilíbrio social e familiar, atentados ao dever, ao pudor e à ordem, dissimulações de indignidade pessoal, pecadinhos da sociedade, ebriedade, tabagismo, calúnia, inveja, todo o séquito pernicioso do ego famigerado, são atitudes delituosas que abrem brechas para as obsessões sutis . Reforma íntima e obsessão sutil: qual a relação entre elas segundo o Espiritismo? Conforme expõe a visão espírita, obsessão é a influência persistente de um espírito malévolo sobre um indivíduo. Allan Kardec, em O Livro dos Médiuns (cap. XXIII), explica que ela pode se apresentar em diferentes graus, tais como a obsessão simples, a fascinação e a subjugação. Quando Philomeno de Miranda utiliza o termo obsessão sutil, ele se refere ao início desse processo. Trata-se de um estágio ainda discreto, em que, pela falta de vigilância e pelo descuido diante de pequenos deslizes cotidianos, o indivíduo dá ensejo à aproximação de Espíritos inferiores, que encontram sintonia em seu modo de pensar e agir . ( vide questão 62: O que os meus pensamentos revelam sobre as minhas companhias espirituais? ) Esses deslizes — chamados pelo autor de pecadinhos da sociedade — não são irrelevantes. Ao contrário, funcionam como portas de entrada para influências perniciosas, pois geram vibrações que atraem entidades afinadas com este tipo de conduta. Em termos simples, o desregramento do indivíduo funciona como um convite a Espíritos de natureza idêntica, isto é, que vibram nessa mesma frequência. Percebendo essa abertura, eles se aproximam e passam a influenciar sutilmente o pensamento, sugerindo ideias, emoções e comportamentos cada vez mais nocivos. Quando o encarnado, mesmo sem perceber, acolhe as sugestões do Espírito e passa a agir sob sua inspiração, um vínculo inicialmente sutil começa a se formar. Com o tempo, essa ligação se fortalece e se aprofunda, permitindo que a influência espiritual se intensifique gradualmente. À medida que esse laço se estreita, o processo obsessivo se instala com maior profundidade, tornando o desligamento entre obsessor e obsidiado uma tarefa cada vez mais difícil e dolorosa para ambos. Por já fazerem parte da rotina, esses hábitos negativos passam despercebidos, e o indivíduo vai se deixando envolver pelas companhias espirituais que atraiu, cedendo pouco a pouco às sugestões inferiores. Na maioria das vezes, a vítima não percebe a influência que a envolve. Quando algo incomum se apresenta, tende a interpretá-lo como simples ocorrência, sem maior significado. A este respeito, Manoel Philomeno, em sua obra destacada, nos previne ao dizer: As obsessões sutis devem ser combatidas desde as suas primeiras manifestações pelo paciente ainda lúcido , que se deve impor alteração da conduta para outra mais saudável, controle consciente do comportamento, recriando o clima mental e os hábitos corretos, propiciadores da saúde. COMO OCORRE A SINTONIA? A influência espiritual não se estabelece por imposição ou coerção externa, como se alguém fosse dominado sem escolha. Ela só é possível porque há afinidade vibratória entre obsessor e obsidiado. Isso se explica pela lei da sintonia, segundo a qual ninguém pode ser obsidiado se não oferecer, ainda que inconscientemente, campo de acesso . A sintonia espiritual pode ser comparada ao funcionamento de um rádio. Cada estação emite em uma frequência própria, e só ouvimos claramente a mensagem quando o aparelho está exatamente sintonizado nela. Da mesma forma, nossos pensamentos se manifestam como vibrações sutis que se espalham ao nosso redor. Aqueles que vibram na mesma frequência conseguem captar essas ondas, tornando-se receptores das ideias e sentimentos que compartilhamos. Assim, pensamentos de bondade e elevação atraem companhias afinadas com tais valores, enquanto pensamentos de desarmonia encontram eco em presenças igualmente perturbadas, que são atraídas, a semelhança de um imã, pela similitude vibratória entre os envolvidos. ( vide questão 56: Sintonia e Afinidade: Como os pensamentos atraem ou repelem certos Espíritos? ) O PAPEL DO OBSIDIADO A superação do quadro obsessivo inicia-se pelo esforço do próprio obsidiado. A partir do momento em que o paciente manifesta o desejo sincero de se recuperar e alcançar o equilíbrio, já se estabelece uma condição favorável à sua autorrecuperação. O primeiro passo em direção ao reequilíbrio é o reconhecimento da própria condição. Cabe ao obsidiado buscar o auxílio necessário no Centro Espírita que melhor atenda às suas necessidades. Para uma visão mais ampla sobre o tratamento indicado, sugerimos a leitura da questão 67: O que fazer em casos de obsessão? Entre o conjunto de práticas indicado pela Doutrina Espírita no processo de desobsessão, a reforma íntima ocupa um lugar de destaque. Bastante conhecida no meio espírita, essa prática é, acima de tudo, um compromisso pessoal e intransferível. Seu exercício requer constância, disciplina nos pensamentos, paciência diante das próprias imperfeições, perseverança no bem, domínio das más inclinações e firmeza moral para atravessar, sem esmorecer, as dificuldades naturais que surgem ao longo do caminho. Somado a esse movimento íntimo de renovação, o obsidiado em recuperação encontra grande auxílio ao agregar, em sua rotina, o trabalho no bem e as práticas de caridade. A isso se acrescentam recursos preciosos como a oração, o evangelho no lar, o passe, a água fluidificada e o estudo da doutrina espírita e da mediunidade, De modo complementar, o esclarecimento do Espírito obsessor é um mecanismo valioso no processo de desvinculação espiritual. Essa tarefa é realizada nas reuniões de desobsessão — conduzidas sem a presença do obsidiado — no ambiente da casa espírita onde ele buscou auxílio. Nesses encontros, trabalhadores encarnados, médiuns e dialogadores experientes, sob a inspiração e o amparo da equipe espiritual que os assiste, estabelecem um diálogo fraterno com o desencarnado, ajudando-o a compreender sua situação atual. Quando bem-sucedido, esse trabalho favorece o rompimento dos laços de dor que os unem, permitindo o início de um processo de libertação para ambos. As reuniões de desobsessão, de caráter reservado, fazem parte dos subsídios espirituais colocados à disposição daquele que, ao reconhecer a necessidade de mudança, busca auxílio e se dispõe a cooperar com o próprio processo de recuperação. A presença ativa da vontade, ainda que inicial, torna possível a ação conjunta da equipe espiritual e dos trabalhadores encarnados no atendimento ao Espírito comunicante, favorecendo a ruptura progressiva do vínculo obsessivo e a reorganização das condições morais de ambos os envolvidos. A IMPORTÂNCIA DA REFORMA ÍNTIMA Na experiência cotidiana dos atendimentos realizados nas instituições espíritas, observa-se que grande parte dos casos de obsessão tem origem em existências passadas; outros, porém, surgem na vida atual, resultando da afinidade e sintonia entre os envolvidos, como já foi explicado. Independentemente da origem, os obsessores agem com notável astúcia. Diante de suas vítimas, observam atentamente seus hábitos, gostos e fraquezas. Com paciência e frieza, identificam os pontos vulneráveis da personalidade, bem como as suas más tendências, inclinações inferiores e vícios morais. A partir daí, sugerem pensamentos prejudiciais, alimentam paixões inferiores e, lentamente, levam a vítima ao desequilíbrio. Para alcançar seus objetivos, os obsessores recorrem a estratégias variadas, muitas vezes influenciando pessoas próximas ao obsidiado, indivíduos com quem ele mantém vínculos afetivos, mas que, por fragilidade moral ou invigilância, tornam-se instrumentos involuntários de perturbação. Por meio dessas influências, surgem convites, sugestões e situações que estimulam a repetição de vícios, a retomada de hábitos prejudiciais e a entrega a comportamentos que comprometem seu equilíbrio. Considerando tais efeitos, torna-se indispensável refletir sobre as atitudes capazes de restituir a harmonia íntima. Conforme esclarece Manoel Philomeno de Miranda, na obra já mencionada, a superação desse quadro não se dá por soluções externas ou imediatas. Além da reforma íntima, destaca-se a prática da caridade como meio essencial. A caridade — amor em ação — constitui o esforço mais elevado que o ser humano pode empreender na busca da própria libertação, porque o aproxima intimamente de Jesus, o Cristo de Deus. É dessa sintonia com o Mestre que brotam a coragem e a força necessárias para superar as provas e os obstáculos do caminho. É importante lembrar, contudo, que a responsabilidade pela desvinculação espiritual é individual e não pode ser delegada. Médiuns, familiares e amigos podem auxiliar, seja por meio de passes, preces ou reuniões de desobsessão, mas a transformação verdadeira depende do próprio obsidiado. Cabe a ele modificar sua conduta, ajustar sua vida social e moral, e empenhar-se, de livre vontade, para sair do abismo em que se deixou cair. Só assim poderá recuperar a sua harmonia e saúde integral (espiritual, física e mental). Texto extraído do livro Mediunidade com Kardec de Patrick Lima . Capítulo 7: Obsessões Pergunta 71: Qual o papel da reforma íntima na superação da obsessão sutil? Como citar: LIMA, Patrick. Mediunidade com Kardec. Poverello Edições, 2023. 1ª ed. REFERÊNCIAS FRANCO , Divaldo Pereira (psicografia). Mediunidade: Desafios e Bênçãos. Manoel Philomeno De Miranda (espírito). Editora LEAL, 2019. KARDEC , Allan. O Livro dos Médiuns. Tradução de Salvador Gentile. 9ª edição. Editora Boa Nova, 2004.
- 70. Quais são os 5 tipos de obsessão segundo o Espiritismo?
Conforme estabelece a literatura espírita, os tipos de obsessão são variados, manifestando-se de maneiras diversas: de desencarnado para encarnado; de encarnado para desencarnado; de desencarnado para desencarnado; de encarnado para encarnado; auto-obsessão . Veja como Kardec e outros autores descrevem essas modalidades na literatura espírita. DE DESENCARNADO PARA ENCARNADO Entre as modalidades de obsessão, a mais conhecida é aquela em que um Espírito desencarnado, movido pelo desejo de vingança ou pelo simples intento de praticar o mal, influencia e persegue um ser encarnado, buscando impor-lhe a sua vontade. Allan Kardec, em O Livro dos Médiuns , esclarece que a influência dos Espíritos sobre os homens é constante; porém, em determinadas situações, essa influência adquire caráter de dominação. Os quatro principais graus de obsessão, descritos pelo Codificador e pertencentes à modalidade em análise, são: obsessão simples, fascinação, subjugação e possessão . (vide questão 67 ) DE ENCARNADO PARA DESENCARNADO Nem sempre a obsessão parte do mundo espiritual para o físico. Em muitas ocasiões, é o encarnado quem exerce influência sobre o desencarnado. A respeito dessa modalidade obsessiva, Manoel Philomeno de Miranda, em Mediunidade: Desafios e Bênçãos , esclarece: "São igualmente numerosos os casos em que as mentes atormentadas da Terra, angustiadas pela saudade ou dominadas por outros sentimentos, fixam-se em alguém desencarnado, iniciando-se um processo de perturbação que o angustia, em face das descargas doentias dos pensamentos que lhe são direcionados pelo deambulante na retaguarda física. Sucede que o sentimento — apaixonado, inamistoso ou revoltado — emite ondas desestruturadoras que atingem aquele a quem são direcionadas, dando lugar a transtorno obsessivo desencadeado pelo ser físico contra o espiritual..." Em outras palavras, a obsessão ocorre quando o encarnado mantém pensamentos persistentes, impregnados de emoções desequilibradas — como mágoa, ressentimento ou saudade doentia — dirigidos a um Espírito desencarnado. Não se trata de uma lembrança esporádica ou de um pensamento passageiro, mas de uma fixação emocional contínua e inferior. A repetição e a intensidade desses pensamentos geram uma sintonia específica, estabelecendo vínculos que podem interferir na harmonia, na evolução e no bem-estar do Espírito no plano espiritual. Por sua vez, pensamentos elevados e serenos, nutridos pelo amor e pela compreensão, irradiam vibrações benéficas que amparam e fortalecem o desencarnado, favorecendo-lhe o equilíbrio e o restabelecimento no plano espiritual. DE DESENCARNADO PARA DESENCARNADO O autor espiritual André Luiz, pela psicografia de Chico Xavier, foi um dos responsáveis por divulgar essa modalidade de obsessão, exposta na obra Libertação . Quase sempre, ela se manifesta nas regiões espirituais inferiores — chamadas Umbral —, onde Espíritos dominadores escravizam os recém-desencarnados, ou vítimas específicas, submetendo-os à hipnose mental e a regimes de cativeiro espiritual. Muitos desses subjugados são Espíritos que, ao desencarnar, trouxeram culpas e vícios não superados, sem buscar reparar os males causados a si mesmos e ao próximo durante a vida carnal. Por isso, tornam-se presas fáceis de entidades mais endurecidas. É justamente a consciência culpada que favorece a sintonia com os magnetizadores das trevas. Os obsessores-chefes — Espíritos especializados na perturbação de outras mentes — utilizam os recém-escravizados como instrumentos para perseguir encarnados, ampliar o sofrimento nas regiões umbralinas ou sustentar feudos de poder. Nesses casos, a terapêutica indicada requer a intervenção de equipes espirituais superiores, que atuam por meio de reuniões mediúnicas sérias na Terra e de operações socorristas no plano espiritual, a fim de amparar, esclarecer e encaminhar os recém-libertos ao tratamento adequado. DE ENCARNADO PARA ENCARNADO A obsessão de encarnado para encarnado caracteriza-se quando duas pessoas, ainda na vida física, estabelecem entre si um vínculo mental nocivo, alimentado por sentimentos como antipatia, rancor, ciúme ou paixões doentias. Nesse tipo de influência, cada uma passa a emitir pensamentos perturbadores contra a outra, numa tentativa, consciente ou não, de dominar-lhe os pensamentos e sentimentos. Essa influência não se limita ao estado de vigília. Durante o sono, quando ocorre o fenômeno da emancipação da alma — também chamado desdobramento, isto é, o desprendimento parcial do perispírito em relação ao corpo físico —, os desafetos costumam encontrar-se no plano espiritual para dar continuidade às discussões e disputas, ampliando a animosidade entre ambos. Um caso particular pode ocorrer nas paixões não correspondidas. Em si mesmas, tais situações fazem parte da vida e não representam perigo algum. No entanto, quando o desejo de conquistar alguém ultrapassa o limite natural do afeto e se transforma em uma insistência doentia, a mente da pessoa em questão passa a se fixar nesse objetivo de modo contínuo. Durante o dia, o indivíduo pode se prender a pensamentos persistentes de desejo e apego por alguém. Ao adormecer, ainda ligado a essas ideias, seu perispírito — em desdobramento — dirige-se ao objeto de suas paixões, buscando influenciá-lo de maneira coercitiva. Trata-se, portanto, de um assédio por vias espirituais. Caso venha a desencarnar sem ter superado esses sentimentos em desalinho, o sujeito desperta no mundo espiritual ainda fixado na mesma ideia, utilizando-se agora de outros recursos para perseguir aquele que não lhe acedeu aos caprichos tormentosos. Situações como essas exigem cautela, porque tais paixões e ódios atraem Espíritos desencarnados da mesma natureza moral, que passam a inspirar vinganças, estimular crimes e incitar represálias cruéis, como ocorre frequentemente na sociedade terrestre. Ao analisarmos as obras de Yvonne do Amaral Pereira e de André Luiz — especialmente Libertação — encontramos esclarecimentos profundos sobre a hipnose que se manifesta durante o desdobramento. Ao dormir, o indivíduo encarnado desprende-se do corpo físico e adentra as regiões umbralinas, onde está sujeito a sugestões hipnóticas de natureza inferior. Ao despertar, carrega consigo essas impressões nocivas que, com o tempo e na ausência de discernimento, podem levá-lo à prática de crimes hediondos e outros atos de igual gravidade, à medida que cede às sugestões recebidas durante o sono. AUTO-OBSESSÃO A auto-obsessão é um fenômeno em que o próprio indivíduo se torna algoz de si mesmo. Diferentemente de outras formas de obsessão, na qual ocorre a participação de uma terceira pessoa influenciando negativamente outra, na auto-obsessão não existe um agente externo: é a própria consciência que, envolvida em sentimentos de culpa, remorso ou ideias fixas, gera os tormentos que a fazem sofrer . Movido por sentimentos de culpa, remorso ou ideias fixas, o ser passa a gerar internamente os pensamentos e imagens que o afligem. Sem conseguir ressignificar os erros do passado ou transformá-los em aprendizado, permanece preso a lembranças dolorosas, que se repetem continuamente. Esse padrão mental cria um circuito de autopenalização, enfraquecendo gradualmente suas energias e afetando tanto o equilíbrio espiritual quanto a saúde do corpo físico. Em virtude do seu desajuste íntimo, o auto-obsedado pode atrair para junto de si a presença de Espíritos de igual natureza, ampliando a sua enfermidade psíquica e, por assim dizer, da alma. Apesar da presença desses companheiros afins, o núcleo do problema continua sendo o próprio indivíduo e o sentimento de culpa que o acompanha. O reequilíbrio, segundo a visão espírita, tem na reforma íntima seu ponto de partida. A renovação dos pensamentos, a prática do bem e da caridade, a fé raciocinada e o autoperdão são considerados recursos fundamentais nesse esforço contínuo de aprimoramento moral. No entanto, é preciso reconhecer que, dependendo da gravidade e das particularidades de cada caso, a reforma íntima por si só pode não ser suficiente para atender às necessidades do assistido. Nesses contextos, o acompanhamento psicológico — e, quando indicado, psiquiátrico — deve ser compreendido como parte fundamental do processo de equilíbrio e soerguimento. O suporte espiritual não substitui o cuidado clínico. Ambos podem atuar de forma complementar, conforme a necessidade apresentada. Que fique claro: o tratamento com profissionais da saúde não deve, em hipótese alguma, ser interrompido ou negligenciado em favor exclusivo de práticas espirituais . SIMBIOSE ESPIRITUAL Quando dois Espíritos, encarnados ou desencarnados, se afinizam pelos mesmos prazeres e tendências inferiores, acabam por entrelaçar-se gradualmente. A sintonia mental e emocional que se estabelece entre eles funciona como um encaixe perfeito — semelhante a um plugue ligado a uma tomada — formando uma simbiose em que, com o tempo, já não se distingue quem influencia ou é influenciado. Ambos alimentam e sustentam a perturbação mútua. Nos casos em que são inimigos declarados, e o perdão não se manifesta de parte alguma, o vínculo torna-se ainda mais destrutivo. Cada um passa a nutrir-se do conflito, fixando-se na ideia de prejudicar ou mesmo aniquilar o outro, retroalimentando continuamente a obsessão que os une. Sobre esse fenômeno, o autor Manoel Philomeno de Miranda, no já citado trabalho, observa que, uma vez instalada a parasitose espiritual, o invasor passa a nutrir-se das energias daquele em quem fincou suas raízes mentais, exaurindo-o, a pouco a pouco, culminando, quando o processo se prolonga, numa simbiose em que passa a depender das forças vitais que usurpa. Nesse estágio, com a simbiose já estabelecida, o afastamento entre os envolvidos ocorre de forma lenta e difícil, pois a dependência energética que os une pode, em certos casos, ser vital para ambos. Quando essa separação acontece de maneira abrupta e forçada, o encarnado pode não suportar o impacto inesperado, podendo vir a desencarnar em seguida. Texto extraído do livro Mediunidade com Kardec de Patrick Lima . Capítulo 7: Obsessões Pergunta 70: Quais são os 5 tipos de obsessão segundo o Espiritismo? Como citar: LIMA, Patrick. Mediunidade com Kardec. Poverello Edições, 2023. 1ª ed. REFERÊNCIAS KARDEC , Allan. O Livro dos Médiuns. Tradução de Salvador Gentile. 9ª edição. Editora Boa Nova, 2004. FRANCO , Divaldo Pereira (psicografia). Mediunidade: Desafios e Bênçãos. Manoel Philomeno De Miranda (espírito). Editora LEAL, 2019. XAVIER , Francisco Cândido. Libertação. André Luiz (espírito). FEB Editora, 2019.
- 45. A vestimenta dos médiuns e o uso de toalhas brancas impacta a prática mediúnica nas reuniões espíritas?
Apesar do Espiritismo não ter em sua base o uso de ritualísticas de nenhuma ordem, tornou-se costume – principalmente no Brasil – o uso de toalhas de mesa na cor branca revestindo o móvel que serve de apoio aos médiuns no decorrer das reuniões mediúnicas. A vestimenta dos médiuns e o uso de toalhas brancas impacta a prática mediúnica nas reuniões espíritas? Essa prática se tornou tão marcante que ainda hoje é possível ouvirmos alguém se utilizando da expressão espiritismo de mesa branca para diferenciar a doutrina espírita de outras linhagens espiritualistas, ou dando a entender – erroneamente – que existem dois tipos de Espiritismo, o bom/elevado e o ruim/inferior. ( vide questão 44 ) A FUNÇÃO DA MESA E DAS TOALHAS BRANCAS De início precisamos compreender que a mesa utilizada nas salas de reuniões mediúnicas é mero acessório que proporciona um conforto maior aos que se encontram em sua volta, na qual podem apoiar seus braços, escrever, colocar uma jarra de água ou uma obra espírita, a exemplo de O Evangelho Segundo o Espiritismo , etc. Geralmente as salas que são utilizadas para os encontros que visam a prática e o estudo da mediunidade, tal como o GEM (Grupo de Estudo Mediúnico), não possuem mesas, visto que a quantidade de pessoas presentes não comportaria em torno desse móvel. Por conseguinte, teremos uma sala com várias cadeiras, sem nenhuma mesa e, ainda assim, o exercício da mediunidade ocorre sem nenhum empecilho. Em alguns centros também será possível observar o uso de pranchetas auxiliando o exercício da psicografia, na qual o médium se utiliza deste acessório (prancheta) para lhe dar apoio na hora da escrita. A mesa não tem, portanto, nenhuma função espiritual, muito menos a cor da toalha que a reveste. DADOS IMPORTANTES Isto posto e entendido, passamos adiante. De acordo com o último censo do IBGE (2022), o número de pessoas que se declaram Espíritas no Brasil caiu de 3,8 milhões (2,2% da população em 2010) para cerca de 3,7 milhões (1,8% da população em 2022). Apesar desse significativo declínio, o Espiritismo mantém-se como a terceira religião em número de adeptos no país, ficando atrás apenas do catolicismo (56,7%) e do protestantismo (26,9%). Embora não tenhamos um número exato, diversos estudos apontam que muitos dos adeptos do espiritismo no Brasil são oriundos do catolicismo, fato este que ocorre desde a segunda metade do século XIX, com a chegada das obras espíritas em solo brasileiro. Dessa maneira, podemos compreender que, muito provavelmente, estes novos prosélitos (ex-católicos) da doutrina espírita trouxeram arraigados em seu íntimo os costumes de sua antiga crença, dentre eles, a famosa toalha branca que comumente ornamenta o altar nas missas católicas (sendo agora usada para cobrir as mesas nos centros espíritas e nas reuniões mediúnicas). No contexto atual, pelo que nos foi dado a observar, as cores da toalha utilizada em diversos centros espíritas são de variadas tonalidades, incluindo a branca, mas também cores neutras ou estampadas, e em tantos outros, não há o uso sequer de toalhas (sendo apenas a mesa de madeira ou qualquer outro material), assim como, o uso de lonas mais escuras (o que facilita a sua limpeza). COR DA ROUPA Outro ponto refere-se à roupa do médium espírita. Assim como a cor da toalha, da mesa ou da lona, a cor da roupa do médium em nada interfere no seu mediunismo, seja ela branca, preta, rosa, azul, dentre outras. A única ressalva nesse caso encontra-se para os tipos de roupas que possam vir a atrapalhar ou influenciar negativamente os médiuns de um modo geral. Atentando para o bom senso e discernimento, todos os membros do agrupamento mediúnico devem buscar evitar alguns comportamentos e extravagâncias. A título de exemplo, podemos citar: Uso de perfumes fortes: devido ao tamanho geralmente reduzido das salas onde as reuniões mediúnicas ocorrem, o uso de perfumes ou outras fragrâncias muito fortes podem atrapalhar o andamento dos trabalhos em curso, visto que algumas pessoas tendem a ficar enjoadas, sem concentração, com dores de cabeça ou espirrando diante de certos estímulos olfativos. Roupas cavadas, minúsculas ou com transparências: é importante destacar, logo de início, que cada pessoa é livre para usar a roupa que bem entender e isso não é motivo para escândalos ou assédio por parte de ninguém, principalmente dentro de uma instituição espírita. Aqui nos referimos a um momento de trabalho santificado na seara de Jesus e isso exige de nós algumas diretrizes básicas que ajudam a manter ou cultivar a harmonia do grupo mediúnico, além de preservar a própria intimidade do médium. Em alguns casos o medianeiro pode sofrer o baque ao receber um Espírito desequilibrado. Quando o médium (que é sempre o responsável por toda comunicação que ocorre por seu intermédio) não detém o controle do seu mediunismo, julgando o Espírito muito forte para ele controlar , pode ocorrer que ele venha a se desequilibrar e cair. Utilizando determinadas roupas, como saia ou um vestido curto, nessa queda, pode ser que a sua roupa íntima fique a mostra, à visão de todos os presentes. O QUE DIZ KARDEC? Ao longo das obras de Allan Kardec não iremos encontrar nenhuma menção sobre o tipo ou a cor da roupa que o médium espírita deve usar durante as reuniões mediúnicas. A mesma sentença também é válida para a mesa e a toalha que a reveste. Se este tópico fosse realmente fundamental ou fizesse alguma diferença na prática espírita ou mediúnica, não tenhamos dúvidas que o próprio codificador teria pincelado, mesmo que superficialmente, algo a este respeito. Em suma, o mais importante para o médium espírita é se vestir de forma discreta, simples, decente, confortável e respeitosa. Isso ajuda a manter um ambiente de seriedade, harmonia e concentração, sem distrações visuais ou olfativas que possam interferir no trabalho espiritual em andamento. Nas casas propriamente espíritas, não há nenhuma obrigatoriedade em usar trajes específicos ou de uma determinada cor. Atenção! Não devemos confundir a casa espírita com as casas mistas – aquelas que se declaram como espíritas , mas que mesclam o espiritismo com outros segmentos espiritualistas, confundindo os seus adeptos e frequentadores menos instruídos –, tampouco com outras vertentes espiritualistas, como a umbanda, candomblé, etc. Para os espíritas, a cor da roupa é indiferente, o que realmente importa é a cor do coração , é a intenção do médium e a sua disposição para o trabalho mediúnico. Vale ressaltar que algumas casas espíritas podem ter regras ou costumes específicos sobre a vestimenta dos seus trabalhadores (como a oposição quanto ao uso de bermudas, shorts, camisetas, regatas, bonés, etc.). Ao medianeiro da doutrina dos Espíritos, é sempre de bom alvitre consultar o centro que se pretenda vincular para saber se há alguma orientação a este respeito; tais instruções devem ser sempre analisadas através da lógica e da razão, evitando misticismos e excentricidades. Nossas ponderações acima descritas são direcionadas, de modo particular, aos médiuns espíritas, ficando os demais segmentos religiosos livres para seguirem as diretrizes que melhor lhes convém. Não se trata aqui de certo ou errado, mas sim, de que cada vertente siga as orientações que melhor lhes aprouver, cabendo sempre o respeito a todos os trabalhadores do bem. Texto extraído do livro Mediunidade com Kardec de Patrick Lima . Capítulo 4: O Médium e a Casa Espírita Pergunta 45: A vestimenta dos médiuns e o uso de toalhas brancas impacta a prática mediúnica nas reuniões espíritas? Como citar: LIMA, Patrick. Mediunidade com Kardec. Poverello Edições, 2023. 1ª ed. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Censo demográfico 2022: características gerais da população. Rio de Janeiro: IBGE, 2022.
- 69. Qual a relação entre transtornos psicológicos e obsessão espiritual?
A ansiedade, a depressão, o transtorno obsessivo-compulsivo (TOC) e o narcisismo patológico figuram entre os transtornos psicológicos mais conhecidos. Em muitos casos, essas perturbações psíquicas causam profundo sofrimento e comprometem o dia a dia de quem as enfrenta, afetando a sua forma de pensar, sentir e relacionar-se com o próximo. A fascinação leva o indivíduo a assumir posturas caricatas e comportamentos ridículos. Do ponto de vista espírita, é justo afirmar que todas as desordens psicológicas, quaisquer que sejam, podem favorecer a implantação de um quadro obsessivo, visto que todo desequilíbrio íntimo é força atrativa para mentes de igual natureza. ( vide questão 56 ) Por possuírem causas diversas, é difícil descrever — com exatidão — onde termina a ação biológica, psicológica ou social e onde começa a influência espiritual, pois uma pode suceder à outra. Em alguns casos, o transtorno psicológico tem origem orgânica, agravando-se com a aproximação de Espíritos que se alimentam de emoções inferiores, encontrando terreno fértil para suas influências. Em outros, o processo é inverso: a gênese está no fator espiritual, quando um Espírito vingativo, aproximando-se de sua vítima, passa a sugerir-lhe ideias perturbadoras e a enfraquecer-lhe os recursos de defesa, conduzindo-a gradualmente a estados depressivos e obsessivos cada vez mais graves. A CAUSA É ORGÂNICA OU ESPIRITUAL? De forma mais clara, as desordens de cunho emocional podem ter como ponto de partida dois aspectos fundamentais e complementares: o orgânico e o espiritual. Grande parte das perturbações psíquicas conhecidas tem origem no aspecto físico — sem participação espiritual direta — podendo decorrer de fatores biológicos (alterações em neurotransmissores), psicológicos (experiências traumáticas, padrões de pensamento disfuncionais, dificuldades emocionais, características de personalidade) ou sociais (violência, exclusão, pressões econômicas, relações familiares conflituosas e ambientes estressantes). Frequentemente, esses fatores se entrelaçam, combinando química cerebral, experiências de vida e condicionamentos psicológicos. Entretanto, pela lei de afinidade e sintonia, o indivíduo em desalinho íntimo passa a atrair para junto de si Espíritos de baixo grau evolutivo. Estes, por sua vez, alimentam-se do padrão mental que encontram e buscam reforçá-lo, influenciando-o repetidamente para que permaneça no estado que lhes é conveniente, garantindo-lhes os recursos energéticos de que necessitam. Nesse caso, o ponto de partida foi físico, sobre o qual se sobrepôs um agravante espiritual. É importante ressaltar que, nesse modelo, os Espíritos que se aproximam nem sempre possuem vínculo anterior com a vítima; muitas vezes, foram apenas atraídos pela sintonia com o seu padrão mental. O oposto também ocorre: um indivíduo que se encontra relativamente equilibrado em seus aspectos biológicos, psicológicos e sociais pode tornar-se alvo de um Espírito vingativo, com quem mantém laços pretéritos. Esse obsessor passa, então, a atuar de forma sutil e contínua, impregnando a mente de sua vítima com ideias perturbadoras sempre que encontra brechas para tal. À medida que o encarnado cede a essas sugestões, abre espaço para processos obsessivos mais graves, como a fascinação e a subjugação ( vide questão 67 ). Perceba que, nesse último caso, a origem é espiritual, e os efeitos — psicológicos e até físicos — surgem como consequência da obsessão instalada. Em suma, os transtornos psicológicos podem ter origem física (orgânica) e serem agravados por influências espirituais (como a aproximação de Espíritos vampirizadores) ou, de maneira inversa, podem ter origem espiritual (obsessão) e, a partir dela, conduzir ao adoecimento psicológico e físico. Em muitos casos, trata-se de uma interação entre esses dois fatores, tornando difícil delimitar onde termina a causa orgânica e começa a influência espiritual, ou vice-versa. NARCISISMO x FASCINAÇÃO Entre os diversos distúrbios psíquicos existentes, o narcisismo é um dos mais perigosos para os médiuns. O médium narcisista geralmente apresenta um padrão de comportamento marcado por autoestima inflada, necessidade constante de admiração e dificuldade em reconhecer falhas. Comumente, o narcisista fascinado adota uma fachada de falsa humildade, ao mesmo tempo em que se julga o mais inteligente, o mais apto e o único detentor da verdade. Segundo Manoel Philomeno de Miranda, em Mediunidade: Desafios e Bênçãos , pela psicografia de Divaldo Franco, o narcisismo pode estar relacionado a conflitos e frustrações pessoais, induzindo o indivíduo a um estado psicológico semelhante ao da infância, no qual busca fugir da realidade por meio de uma postura de superioridade. Sob esse engano, o médium passa a acreditar que todas as comunicações que recebe são de Espíritos elevados e que, por sua suposta elevação espiritual , foi escolhido para uma missão única, impossível de ser confiada a qualquer outro. MÉDIUM NARCISISTA Esquecendo-se da humildade e dos valiosos ensinamentos de Jesus e de Allan Kardec, o narcisista abre as portas para a fascinação e acaba preso a companhias perturbadoras, das quais dificilmente se libertará sem duras consequências. Como resultado desse conúbio, veremos o médium ser conduzido por seus pseudoguias ao isolamento, à perda da afetividade, à depressão e, por fim, ao suicídio. A fascinação é muito mais comum do que se imagina, e ninguém pode dizer-se totalmente imune a esse perigo. Por isso, o médium deve manter vigilância constante sobre seus pensamentos e desejos, cultivar a humildade verdadeira, aprofundar-se no estudo da Codificação Espírita e, sempre que necessário, buscar apoio psicológico especializado, preservando assim o equilíbrio e a harmonia de sua vida mental e espiritual. Texto extraído do livro Mediunidade com Kardec de Patrick Lima . Capítulo 7: Obsessões Pergunta 69: Qual a relação entre transtornos psicológicos e obsessão espiritual? Como citar: LIMA, Patrick. Mediunidade com Kardec. Poverello Edições, 2023. 1ª ed. REFERÊNCIAS FRANCO , Divaldo Pereira (psicografia). Mediunidade: Desafios e Bênçãos. Manoel Philomeno De Miranda (espírito). Editora LEAL, 2019. AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION . Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais – DSM-5. 5. ed. Porto Alegre: Artmed, 2014. ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE . Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas Relacionados à Saúde – CID-11. 11. ed. Genebra: OMS, 2019. ENGEL , George L. The clinical application of the biopsychosocial model. American Journal of Psychiatry, v. 137, n. 5, p. 535–544, 1980. NATIONAL INSTITUTE OF MENTAL HEALTH . Mental Health Information. Bethesda: NIMH, 2023. Disponível em: https://www.nimh.nih.gov. AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION . Practice Guidelines for the Psychiatric Evaluation of Adults. 3. ed. Washington: APA, 2016.
- 67. Obsessão, fascinação, subjugação e possessão: como Kardec as distingue?
A obsessão, conforme expõe Allan Kardec em O Livro dos Médiuns , constitui um dos mais sérios entraves à prática mediúnica, impondo desafios consideráveis, sobretudo aos médiuns que se encontram nos primeiros estágios de desenvolvimento, os quais, por vezes, ainda não dispõem da experiência necessária para reconhecer e enfrentar adequadamente esse obstáculo. Como diferenciar obsessão, subjugação, fascinação e possessão? De acordo com Kardec, em O Evangelho Segundo o Espiritismo , a obsessão é a influência persistente de um espírito malévolo sobre um indivíduo. Suas manifestações variam amplamente, desde uma simples influência moral, sem sinais exteriores perceptíveis, até a perturbação completa do organismo e das faculdades mentais. Por apresentar características distintas, a obsessão deve ser analisada com atenção, considerando o grau de domínio que exerce e os efeitos que provoca. Sob essa perspectiva, o termo obsessão pode ser entendido como uma designação genérica para esse tipo de fenômeno, que se classifica, essencialmente, em três categorias: obsessão simples, fascinação e subjugação . OBSESSÃO, SUBJUGAÇÃO E FASCINAÇÃO Com base em O Livro dos Médiuns e na Revista Espírita – outubro de 1858 , vejamos como o codificador distingue e apresenta cada um desses fenômenos. OBSESSÃO SIMPLES: A obsessão é a ação quase permanente de um espírito estranho, que leva a pessoa a sentir uma necessidade incessante de agir de determinada maneira e de realizar certas ações. A obsessão simples ocorre quando um espírito malfazejo (perturbador) se impõe a um médium, intrometendo-se, contra a sua vontade, nas comunicações que ele recebe. Esse espírito impede a comunicação com outros e se apresenta no lugar daqueles que são evocados. A obsessão, portanto, consiste na persistência de um espírito do qual a pessoa não consegue se livrar. Na obsessão simples, o médium tem plena consciência de que está sob a influência de um espírito mentiroso (enganador), que não se disfarça nem tenta ocultar suas más intenções. O médium reconhece facilmente a felonia (malícia, maldade) e, por estar vigilante, raramente é enganado. Esse tipo de obsessão é, portanto, apenas desagradável, sem outros inconvenientes, além de obstruir as comunicações que o médium desejaria receber de Espíritos sérios ou afetuosos. FASCINAÇÃO: A fascinação é uma forma de ilusão provocada pela ação direta de um espírito estranho ou por seus raciocínios ardilosos, que buscam confundir para induzir ao erro. Essa ilusão deturpa a percepção das questões morais, distorce o julgamento e leva a tomar o mal pelo bem. Diferentemente da obsessão simples, na qual o médium reconhece a presença de um espírito enganador, na fascinação, a influência espiritual se disfarça com astúcia. Trata-se de uma ilusão gerada pela ação direta do espírito sobre o pensamento do médium, a ponto de, em certo grau, paralisar-lhe o raciocínio diante das comunicações. O médium fascinado não percebe que está sendo enganado: o Espírito, com astúcia, consegue inspirar-lhe uma confiança cega, dificultando-lhe perceber a mentira e a armadilha em que está envolvido, além de impedir que ele note o absurdo de suas palavras, mesmo quando esse absurdo é claro para todos ao seu redor. Devido à ilusão que dela decorre, o espírito conduz aquele a quem se apossou como faria com um cego, podendo levá-lo a aceitar as doutrinas mais estranhas, as teorias mais falsas como se fossem a única expressão da verdade. Além disso, pode induzi-lo a situações ridículas, comprometedoras e até perigosas. SUBJUGAÇÃO: A subjugação é caracterizada por um domínio ainda mais profundo do que na obsessão e na fascinação. Enquanto a obsessão envolve uma influência persistente e a fascinação, uma ilusão que distorce o julgamento, a subjugação é um controle mais absoluto, no qual o Espírito anula a autonomia da pessoa, forçando-a a agir de maneira contrária à sua própria vontade. Trata-se de uma ligação moral que paralisa a vontade do indivíduo, conduzindo-o a atitudes irracionais, frequentemente contrárias aos seus próprios interesses. Em outras palavras, o sujeito encontra-se sob um verdadeiro jugo. A subjugação pode se manifestar de duas maneiras: moral ou corporal. Na subjugação moral, o sujeito é levado a realizar escolhas frequentemente irracionais, mas que ele acredita serem sensatas, devido à distorção causada pela influência espiritual. Esse fenômeno, semelhante à fascinação, impede o discernimento do médium. Já na subjugação corporal, o espírito age diretamente sobre os órgãos físicos, provocando movimentos involuntários. Em casos mais graves, esses movimentos resultam em atitudes ridículas, e, embora o sujeito tenha plena consciência do absurdo de suas ações, não consegue resistir à força que o domina. POSSESSÃO Entre os processos obsessivos, incluem-se também a possessão e o fenômeno de poltergeist¹ . Kardec acreditou por muito tempo que a possessão real não existia, considerando tais episódios como manifestações de subjugação. No entanto, após um longo período de observações, o pensador lionês revisou sua posição, corrigindo seus escritos e reconhecendo a veracidade da possessão, classificando-a como um grau ainda mais intenso do que a fascinação e a subjugação . Essa retificação está registrada na Revista Espírita — dezembro de 1863 , no relato do caso da Senhorita Júlia. Vejamos o que expôs o codificador: “Temos dito que não havia possessos (ver LE-473, por exemplo) no sentido vulgar do vocábulo mas somente subjugados. Voltamos a esta asserção absoluta porque agora nos é demonstrado que pode haver verdadeira possessão , isto é, substituição, posto que parcial, de um Espírito errante a um encarnado.” Em A Gênese , capítulo XIV, o filho de Lyon retoma o tema da possessão², diferenciando-a da obsessão. Sobre isso, ele explica: “ Na possessão, em vez de agir exteriormente, o Espírito atuante se substitui, por assim dizer, ao Espírito encarnado; toma-lhe o corpo para domicílio, sem que este, no entanto, seja abandonado pelo seu dono, pois que isso só se pode dar pela morte. A possessão, conseguintemente, é sempre temporária e intermitente, porque um Espírito desencarnado não pode tomar definitivamente o lugar de um encarnado, pela razão de que a união molecular do perispírito e do corpo só se pode operar no momento da concepção." Dando continuidade, conclui o mestre lionês: " De posse momentânea do corpo do encarnado, o Espírito se serve dele como se seu próprio fora: fala pela sua boca, vê pelos seus olhos, opera com seus braços, conforme o faria se estivesse vivo. Não é como na mediunidade falante, em que o Espírito encarnado fala transmitindo o pensamento de um desencarnado; no caso da possessão é mesmo o último que fala e age; quem o tenha conhecido em vida, reconhece-lhe a linguagem, a voz, os gestos e até a expressão da fisionomia.” RECONHECENDO A OBSESSÃO No item 242 de O Livro dos Médiuns , Kardec afirma que a obsessão, independentemente do grau, é sempre exercida por um mau Espírito, nunca por um Espírito benfeitor. Complementando seu raciocínio, o autor enfatiza que toda comunicação transmitida por um médium obsidiado é de origem suspeita e não merece confiança . De acordo com o codificador, no livro acima citado, podemos reconhecer a obsessão pelas seguintes características³: Persistência de um Espírito em se comunicar, bom ou mau grado, pela escrita, pela audição, pela tiptologia, etc., opondo-se a que outros Espíritos o façam. Ilusão que, não obstante a inteligência do médium, o impede de reconhecer a falsidade e o ridículo das comunicações que recebe. Crença na infalibilidade e na identidade absoluta dos Espíritos que se comunicam e que, sob nomes respeitáveis e venerados, dizem coisas falsas ou absurdas. Confiança do médium nos elogios que lhe dispensam os Espíritos que por ele se comunicam; Disposição para se afastar das pessoas que podem emitir opiniões aproveitáveis. Tomar a mal a crítica das comunicações que recebe. Necessidade incessante e inoportuna de escrever. Constrangimento físico qualquer, dominando-lhe a vontade e forçando-o a agir ou falar a seu mau grado. Rumores e desordens persistentes ao redor do médium, sendo ele de tudo a causa, ou o objeto. O QUE FAZER EM CASOS DE OBSESSÃO? Allan Kardec enfatiza que são as nossas imperfeições morais que nos tornam mais suscetíveis às influências de Espíritos inferiores. Para nos libertarmos dessa condição, é essencial que busquemos o fortalecimento espiritual, o que só pode ser alcançado por meio da reforma íntima e da nossa transformação moral. Kardec também explica que, na maioria das vezes, a obsessão nasce de um desejo de vingança. Quando um Espírito se sente prejudicado por outro — seja nesta ou em vidas anteriores — ele tenta fazer justiça por conta própria, o que pode gerar obsessões mais intensas e de difícil desvinculação. No entanto, nem todas as obsessões têm esse impulso vingativo; algumas surgem apenas do prazer em causar o mal, sem qualquer ligação pretérita ou razão moral evidente. Quando o obsidiado não consegue, por si só, afastar a entidade obsessora, torna-se necessária a intervenção de terceiros. Nesse contexto, os médiuns espíritas que atuam em reuniões de desobsessão desempenham um papel fundamental. Com conhecimento e preparo, esses trabalhadores abnegados auxiliam no restabelecimento do equilíbrio do indivíduo, buscando desfazer os laços de influência estabelecidos pela entidade perturbadora. Além das reuniões de desobsessão, o passe espírita se destaca como um recurso essencial no tratamento da obsessão. Envolvido por fluidos negativos que comprometem seu estado mental e físico, o obsidiado necessita dissipar essas energias prejudiciais. O passe atua como um mecanismo de reequilíbrio energético, promovendo a substituição dessas vibrações nocivas por fluidos revigorantes, favorecendo, assim, sua recuperação e fortalecimento espiritual. Contudo, a simples dispersão das energias deletérias não é suficiente para garantir a libertação definitiva do processo obsessivo. Para que essa condição seja superada em sua totalidade, é imprescindível que o Espírito perseguidor seja esclarecido e renuncie às motivações que o levam a influenciar negativamente seu alvo. Esse esclarecimento envolve a compreensão do valor do perdão, do amor ao próximo e da necessidade de transformação moral, permitindo que ele abandone antigos padrões de pensamento e conduta para trilhar um caminho de renovação espiritual. No caso da fascinação, contudo, a libertação torna-se mais complexa. O obsidiado, seduzido e iludido pela influência persistente do perseguidor, não percebe sua condição de subjugação. Por acreditar estar no controle de seus próprios pensamentos e decisões, ele tende a rejeitar qualquer tentativa de auxílio externo. Além disso, raramente recorre à prece como meio de proteção e fortalecimento, o que favorece a manutenção do vínculo obsessivo e dificulta a possibilidade de uma intervenção eficaz. ¹ O fenômeno de poltergeist será tratado de forma individualizada em um capítulo subsequente desta obra. ² Para um maior aprofundamento sobre o tema da possessão, recomendamos a leitura do livro Condomínio Espiritual , de Hermínio Corrêa de Miranda, além dos artigos As Três Faces de Eva (publicado na Reformador – Dezembro de 1959) e Sybil – O Drama da Possessão (publicado na Reformador – Março de 1974), ambos do mesmo autor. Texto extraído do livro Mediunidade com Kardec de Patrick Lima . Capítulo 7: Obsessões Pergunta 67: Obsessão, fascinação, subjugação e possessão: como Kardec as distingue? Como citar: LIMA, Patrick. Mediunidade com Kardec. Poverello Edições, 2023. 1ª ed. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS KARDEC , Allan. O Livro dos Médiuns. Tradução de Salvador Gentile. 9ª edição. Editora Boa Nova, 2004. KARDEC , Allan. O Evangelho Segundo o Espiritismo. Tradução de Salvador Gentile. 21ª edição. Editora Boa Nova, 2017 KARDEC , Allan. Revista Espírita – Jornal de estudos psicológicos – outubro de 1858. Tradução de Julio Abreu Filho. Edicel; 2ª edição, julho 2002. KARDEC , Allan. Revista Espírita – Jornal de estudos psicológicos – agosto de 1863. Tradução de Julio Abreu Filho. Edicel, 1ª edição, julho de 2002. KARDEC , Allan. A Gênese. Tradução de Evandro Noleto Bezerra. FEB Editora, 2013.
- 68. Fenômeno Poltergeist: origem, causas e como ocorre.
Entre os muitos acontecimentos que intrigam o pensamento humano e desafiam as explicações puramente materiais, encontram-se aqueles episódios que, não raro, são associados ao que se convencionou chamar de fenômeno poltergeist . De origem alemã, o termo poltergeist resulta da junção de poltern (fazer barulho, bater) com Geist (Espírito), o que lhe confere a tradução literal de Espírito barulhento . O que é o fenômeno poltergeist? Em diversos relatos, tais manifestações surgem de forma persistente e desconcertante: pedras que caem sobre o telhado sem que se encontre uma origem visível, objetos que se partem sozinhos, ou ainda cortinas que repentinamente se incendeiam sem causa aparente. À medida que tais manifestações se intensificam, ampliam sua ação, ultrapassando o campo dos objetos e interferindo também na vivência daqueles que compartilham cotidianamente aquele espaço. Esses, por sua vez, passam a experimentar sensações inusitadas, como puxões inesperados nos cabelos, deslocamentos bruscos das cobertas, tabefes ou empurrões sem qualquer causa visível. RAÍZES HISTÓRICAS Desde a Antiguidade, há relatos sobre ruídos misteriosos, objetos que se movem sozinhos e eventos incomuns. Esses fenômenos, durante a Idade Média, eram atribuídos a maldições, possessões demoníacas ou forças sobrenaturais. Tais interpretações refletiam o conhecimento e as crenças da época, já que ainda não existia um estudo sistemático ou uma abordagem racional sobre esse tipo de ocorrência. Um dos registros mais antigos de um caso que se assemelha ao que hoje chamamos de poltergeist vem das cartas de Plínio, o Jovem , notável autor e advogado romano do século I. Em uma de suas correspondências a Lucius Licinius Sura ( Epistulae, Livro VII, Carta 27 ), Plínio descreve uma casa em Atenas que era assombrada por sons de correntes sendo arrastadas e pela aparição de um velho espectral. Esses eventos de cunho perturbadores tornaram a casa inabitável. A narrativa de Plínio detalha como o filósofo estoico Atenodoro, corajoso e destemido, decidiu alugar a casa. Ele confrontou o fantasma , que o conduziu até determinado ponto do terreno. Após escavações no local, foram descobertos ossos humanos acorrentados. Uma vez que os restos foram devidamente sepultados, a assombração cessou. AS IRMÃS FOX: O MARCO DO ESPIRITUALISMO MODERNO Os relatos de Plínio, marcados por manifestações sonoras e visuais de natureza misteriosa, correspondem de forma análoga aos fenômenos ocorridos com as irmãs Fox, em Hydesville, Nova York, no século XIX. Apesar de separados por séculos e culturas, o caso relatado por Plínio e os episódios vivenciados pelas irmãs Fox revelam manifestações de efeitos físicos com características semelhantes. O caso de Hydesville, no entanto, ultrapassou os limites do ambiente doméstico e alcançou ampla repercussão pública, contribuindo diretamente para o surgimento do espiritualismo moderno. É importante observar que foi somente a partir desse período — meados do século XIX —, com o advento do espiritualismo moderno nos Estados Unidos e do Espiritismo na Europa, que os fenômenos de natureza mediúnica, tanto físicos quanto inteligentes, passaram a ser estudados de forma sistemática e aprofundada. O trabalho pioneiro de Allan Kardec foi essencial nesse processo, conferindo rigor e clareza ao exame dessas manifestações e situando-as no campo das leis naturais. Arthur Conan Doyle, o célebre criador de Sherlock Holmes e estudioso do espiritualismo, relata em sua obra A História do Espiritualismo que o ponto de partida para o espiritualismo moderno ocorreu em 31 de março de 1848, na vila de Hydesville, estado de Nova York (EUA), quando a família Fox passou a ouvir batidas misteriosas, arranhões, móveis que se moviam sozinhos e portas que se abriam sem causa aparente. Esses sons, descritos como rappings (batidas), pareciam responder de forma inteligente às perguntas feitas pelas meninas, que desenvolveram um sistema rudimentar de comunicação com a entidade invisível. Através desse código, o Espírito se identificou como um homem assassinado na casa anos antes. A notoriedade do caso aumentou quando vizinhos, líderes religiosos e a imprensa começaram a testemunhar os fenômenos, dando origem não apenas à fama das irmãs, mas ao surgimento de uma nova fase na era do espiritualismo. Um detalhe relevante é que os fenômenos físicos cessavam ou se enfraqueciam quando as irmãs estavam separadas, indicando uma possível ligação mediúnica entre elas e os eventos, característica também observada em muitos casos de poltergeist , que frequentemente envolvem adolescentes ou jovens como epicentros das manifestações . Doyle relata ainda que, após Hydesville, as irmãs passaram a realizar sessões públicas em grandes cidades como Nova York, Filadélfia e Boston, onde os mesmos tipos de manifestações físicas (ruídos, toques invisíveis, mesas que se moviam) continuaram a ocorrer diante do público e de investigadores. AS IRMÃS FOX: PARA ALÉM DAS ACUSAÇÕES DE FRAUDE Apesar da relevância histórica e espiritual atribuída ao caso das Irmãs Fox, o final da trajetória das médiuns foi marcado por polêmicas, acusações de fraude e até confissões públicas de impostura. Em 1888, Margaret Fox declarou, em uma palestra no Academy of Music , em Nova York, que os ruídos produzidos nas sessões eram falsos e feitos por estalos das articulações dos dedos dos pés. A imprensa reagiu com escândalo, e o episódio foi largamente usado por céticos como prova de fraude. No entanto, Arthur Conan Doyle, espiritualista convicto e defensor dos fenômenos psíquicos, oferece uma leitura crítica e ponderada dessas retratações. Ele destaca que as confissões ocorreram em momentos de extrema fragilidade emocional, influenciadas pelo alcoolismo das irmãs (em especial Margaret e Catherine), por pressões financeiras e pela exploração sensacionalista da mídia. Além disso, Doyle argumenta que, durante décadas, as irmãs demonstraram consistentemente habilidades extraordinárias diante de testemunhas respeitáveis, em ambientes controlados. Doyle também lembra que, mesmo após as confissões, investigadores de renome, como o cientista e físico Sir William Crookes, confirmaram a veracidade de manifestações físicas em presença das médiuns. Crookes conduziu experimentos rigorosos, com controle das condições e observação direta, atestando a movimentação de objetos, sons inexplicáveis e aparições tangíveis, fenômenos que ultrapassavam qualquer habilidade muscular consciente. A esse respeito, é interessante notar que Allan Kardec, em O Livro dos Médiuns (Cap. IV, item 41), já havia analisado o chamado sistema do músculo estalante , teoria apresentada por médicos como Jobert de Lamballe, segundo a qual as batidas espirituais seriam apenas contrações de músculos do pé. Kardec reconhece que, de fato, há pessoas com essa habilidade física, mas demonstra que essa explicação não é suficiente para justificar os fenômenos observados nas mesas girantes e nas manifestações auditivas coletivas. Ele argumenta que o estalido muscular não poderia, por exemplo, repercutir à distância, deslocar objetos ou causar vibrações em móveis onde ninguém tocava, muito menos responder inteligentemente a perguntas complexas, como frequentemente ocorria nas sessões. Ademais, Kardec esclarece em diversos trechos de sua respectiva obra que, embora a mediunidade seja uma faculdade de ordem física — ou seja, independe da moral do indivíduo para existir — sua manifestação segura e proveitosa requer seriedade, humildade e elevação de sentimentos . Tais qualidades são essenciais para favorecer a ação dos Espíritos esclarecidos e reduzir a influência de entidades levianas ou mistificadoras. Essas entidades, segundo Kardec, se aproveitam da vaidade, da imprudência e da credulidade dos médiuns e dos grupos, especialmente quando os fenômenos se tornam objeto de curiosidade, lucro ou exaltação pública, como ocorreu em certos episódios envolvendo as irmãs Fox. No capítulo XVII da mesma obra, ele afirma claramente que os bons Espíritos se afastam dos médiuns que utilizam seus dons para fins comerciais ou frívolos : Este dom de Deus não é concedido ao médium para seu deleite e, ainda menos, para satisfação de suas ambições (...). Se o Espírito verifica que o médium já não corresponde às suas vistas (...), afasta-se, em busca de um protegido mais digno. Esse princípio nos ajuda a enxergar com mais clareza o caso das irmãs Fox. Ao longo do tempo, pressionadas pela fama, pela cobrança do público e pelas dificuldades financeiras, é possível que elas tenham se desviado do propósito inicial. Com a perda do amparo espiritual, os fenômenos genuínos podem ter cessado, levando-as, eventualmente, à simulação como meio de manter o sustento e a visibilidade. Por sua vez, Margaret Fox declarou, mais tarde, que não compreendia totalmente os próprios poderes e que muito do que acontecia não vinha dela, mas de uma força independente, ligada a leis ocultas da natureza ( vide questão 67 , referente à subjugação e aos processos obsessivos). No entendimento de Doyle, esse tipo de confissão tardia não invalida a autenticidade inicial das manifestações, mas evidencia a complexidade da mediunidade e a vulnerabilidade dos médiuns diante de pressões externas e internas. Diante disso, Conan Doyle não ignora os escândalos, ele os contextualiza, tanto do ponto de vista histórico quanto humano. Para ele, a confissão de Margaret não anula a origem legítima dos fenômenos, mas revela as dificuldades enfrentadas por médiuns em um mundo que frequentemente se mostra hostil ao invisível. O POLTERGEIST SEGUNDO KARDEC O fenômeno conhecido como poltergeist , sob a ótica da literatura espírita, enquadra-se na categoria dos efeitos físicos . Os efeitos físicos são manifestações espirituais que provocam alterações perceptíveis no mundo material, tais como ruídos, movimentações de objetos, levitação, pancadas, materializações, transporte de corpos, entre outros fenômenos que envolvem a ação direta do Espírito sobre a matéria. De acordo com Allan Kardec, essas manifestações ocorrem por meio de leis naturais, com base em elementos fluídicos que possibilitam a intervenção dos Espíritos no mundo material (produzindo efeitos visíveis no plano físico). Essas manifestações são explicadas detalhadamente em O Livro dos Médiuns , capítulos IV, V, VI e XIV. A partir desses ensinamentos, compreendemos que, na base de qualquer fenômeno mediúnico de efeitos físicos, há necessariamente a presença de três elementos fundamentais: Espírito : Agente inteligente que deseja produzir o fenômeno. Fluido Universal : Matéria sutil que serve de intermediário entre o Espírito e a matéria. Fluido Vital do Médium : Energia orgânica necessária para vitalizar temporariamente os corpos inertes ou mover objetos. O codificador reitera, na obra supracitada, que o Espírito age sobre a matéria com o auxílio do fluido universal, que é o agente primitivo das manifestações . Esse fluido, combinado com o fluido vital do médium, permite ao Espírito animar momentaneamente um objeto, torná-lo leve, móvel ou até lançá-lo a distância, conforme sua vontade. O PAPEL DO MÉDIUM DE EFEITOS FÍSICOS Para que tais fenômenos ocorram, geralmente é necessária a presença de um médium de efeitos físicos, isto é, alguém dotado de uma constituição orgânica específica, cuja energia vital possa ser utilizada pelos Espíritos. Nem todos os médiuns têm consciência da ação que se realiza através deles. Alguns são ativos e voluntários (atuam conscientemente em sessões); outros são passivos ou inconscientes (o fenômeno ocorre sem sua participação direta). Esses médiuns podem ser adultos ou jovens, homens ou mulheres. O que importa é a condição fluídica, não a idade. A juventude pode favorecer certos casos, mas não é um critério exclusivo. A esse respeito, o autor e pesquisador espírita Hermínio C. Miranda — em sua obra Diversidade dos Carismas — destaca que, nesse tipo de manifestação, não ocorre transe, perda de consciência ou a chamada incorporação . Na análise de Miranda, os Espíritos responsáveis pelos distúrbios utilizam, de maneira espontânea e sem o conhecimento dos envolvidos, a energia vital das pessoas mais suscetíveis para viabilizar o fenômeno. CARACTERÍSTICAS DO POLTERGEIST Entre os diversos tipos de efeitos físicos, o poltergeist se destaca por sua intensidade, desordem e caráter perturbador. Esses casos envolvem pancadas inexplicáveis, objetos lançados no ar, móveis arrastados, lâmpadas que estouram, portas que se abrem ou fecham sozinhas, e até agressões físicas a pessoas (como puxões de cabelo ou arranhões). Esses fenômenos, muitas vezes retratados como assombrações em produções cinematográficas, possuem uma explicação lógica à luz da doutrina espírita. Segundo os ensinamentos das obras de Allan Kardec, tratam-se de manifestações provocadas por Espíritos em condição inferior , que se utilizam de determinadas circunstâncias para agir de forma perturbadora no plano físico. Por trás de um fenômeno físico, como o de poltergeist , iremos sempre encontrar: Presença de um médium involuntário: Geralmente um jovem em fase de puberdade ou adolescência, com grande sensibilidade fluídica, mas sem preparo moral ou espiritual. Desconhecimento da própria mediunidade: O fenômeno ocorre sem a vontade consciente desse jovem médium, que não compreende sua participação. Ambiente fluídico instável: Casas ou locais com desequilíbrio emocional ou moral favorecem a atuação de Espíritos perturbadores. Espíritos pouco evoluídos: Não se trata de manifestações elevadas ou instrutivas, mas de entidades em sofrimento ou revolta, que agem por ignorância, brincadeira ou maldade. A esse respeito, Kardec observa e destaca que há médiuns cuja influência parece dar uma coloração especial às manifestações. Uns são mais próprios para os efeitos físicos, como os ruídos, movimentos dos corpos inertes, etc. (LM, cap. XIV). Também veremos Hermínio C. Miranda, em Diversidade dos Carismas , compartilhando desse mesmo pensamento ao escrever: Isso tudo quer dizer uma só coisa — que o espírito desencarnado precisa de certa quota de magnetismo ou energia vital do ser encarnado para manifestar-se, movimentando objetos ou instrumentos a isso destinados. Em seguida, complementa o autor: Nem sempre a pessoa que fornece tais recursos magnéticos tem consciência da sua participação no fenômeno, como costuma ocorrer nos casos de poltergeist, na maioria dos quais somente se identifica com precisão o doador de fluidos quando, afastada determinada pessoa, os fenômenos cessam como por encanto e, às vezes, acompanham a pessoa por onde ela for. Já em Mecanismos da Mediunidade , André Luiz — pela psicografia de Chico Xavier e Waldo Vieira — confirma essa linha de raciocínio ao escrever: Se a personalidade encarnada acusa possibilidades de larga desarticulação das próprias forças anímicas, encontramos aí a mediunidade de efeitos físicos, suscetível de exteriorizar-se em graus diversos. Eis porque comumente somos defrontados na Terra por jovens mal saídos da primeira infância, servindo de medianeiros a desencarnados menos esclarecidos que com eles se afinam, na produção dos fenômenos físicos de espécie inferior, como sejam batidas, sinais, deslocamentos e vozes de feição espetacular. Na obra acima assinalada, o autor espiritual continua a nos esclarecer, mostrando-nos o caminho para que esses efeitos cessem de imediato: É certo que semelhantes evidências do plano extrafísico se devam, de modo geral, a entidades de pouca evolução, porquanto, imanizadas aos médiuns naturais a que se condicionam, entremostram-se entre os homens, à maneira de caprichosas crianças, em afetos e desafetos desgoverados, bastando, às vezes, simples intervenção de alguma autoridade moral, através da exortação ou da prece, para que as perturbações em andamento cessem de imediato . Portanto, o hábito da prece sincera, dos bons pensamentos, da vibração elevada e do desejo de praticar o bem aproxima de nós os Espíritos benfeitores, que passam a nos resguardar das investidas inferiores e do extravio fluídico por parte de entidades em desajuste que antes manipulavam os recursos do médium para produzir os fenômenos aqui abordados. Uma curiosidade relacionada a esses episódios diz respeito à presença direta ou à distância do médium, cujo fluido está sendo utilizado. Em muitos casos, o fenômeno se manifesta na própria residência do doador de fluidos. Em outros, o médium pode residir apenas nas redondezas, sendo o fluido por ele emitido captado e transportado até o local em que os efeitos físicos ocorrem. COMO OCORRE O POLTERGEIST? Levando em conta a autenticidade do fenômeno e a possibilidade de acontecimentos de natureza mediúnica, como o poltergeist , como é possível que uma pedra seja lançada ao telhado por forças invisíveis? O que se passa, de fato, por trás de uma manifestação como essa? Para responder a essa pergunta, precisamos compreender os elementos que atuam por trás de uma manifestação desse tipo, explicando passo a passo como esse processo ocorre na prática. A Vontade do Espírito : Primeiramente, é essencial entender que toda movimentação de objeto causada por um Espírito tem uma origem inteligente, nesse caso, a vontade do Espírito. Ele deseja que a pedra se mova, mas, como não possui corpo físico, não pode interagir diretamente com a matéria. Por isso, precisa de um intermediário para realizar essa ação. O Fluido Cósmico Universal : Esse intermediário é o fluido cósmico universal, definido por Allan Kardec como o agente primitivo de todas as manifestações espirituais e a substância que permite ao Espírito agir sobre a matéria. Podemos pensar nesse fluido como a matéria-prima etérea que o Espírito molda com sua vontade e pensamento para atingir seu propósito. Contudo, esse fluido, em seu estado natural, não tem energia suficiente para movimentar um objeto pesado, como uma pedra. O Fluido Vital do Médium: Para que a ação se concretize no plano material, é necessário um reforço energético. Esse reforço vem do Fluido Vital, uma energia orgânica peculiar aos seres vivos, especialmente abundante em alguns indivíduos que chamamos de médiuns de efeitos físicos. Esse fluido é como uma bateria ou um combustível que o Espírito pode utilizar. É importante notar que o médium, muitas vezes, não tem consciência de que seu fluido está sendo empregado. O fluido vital e a mão invisível : É nesse momento que entra o fluido vital do médium. Esse fluido é uma energia orgânica que o médium possui em grande quantidade, especialmente aqueles conhecidos como médiuns de efeitos físicos. Sem que o médium perceba, essa energia é captada pelo Espírito e somada ao fluido universal, formando uma espécie de campo energético ou mão invisível que envolve a pedra. Assim, o Espírito consegue suspender seu peso e lançá-la, como se tivesse um instrumento invisível para agir no mundo material. O Papel do Médium Inconsciente: Por fim, é importante destacar que, em muitos casos, o médium envolvido é um jovem em fase de puberdade, que possui grande quantidade de fluido vital, mas ainda não tem consciência nem controle da mediunidade que manifesta. Ele pode estar realizando suas atividades comuns, enquanto seu fluido é utilizado pelos Espíritos para dar corpo ao fenômeno poltergeist. Em suma, o fenômeno de poltergeist , longe de ser uma ação demoníaca , ilustra o funcionamento das leis naturais que regem a interação entre o mundo espiritual e o mundo material. Conforme os ensinos de Allan Kardec presente em O Livro dos Médiuns , os Espíritos não dispõem de força física, como os encarnados, mas agem sobre a matéria por meio do fluido cósmico universal , uma substância sutil e maleável, moldada pela vontade do Espírito. No entanto, para deslocar objetos pesados, como uma pedra, essa ação exige um complemento, o fluido vital (ou animalizado) de um médium encarnado, que funciona como fonte adicional de energia. A combinação desses dois elementos — o fluido cósmico e o fluido vital — possibilita ao Espírito formar uma espécie de mão invisível , capaz de envolver, erguer e movimentar objetos no mundo físico, de acordo com a sua intenção. Texto extraído do livro Mediunidade com Kardec de Patrick Lima . Capítulo 7: Obsessões Pergunta 68: Fenômeno Poltergeist: origem, causas e como ocorre. Como citar: LIMA, Patrick. Mediunidade com Kardec. Poverello Edições, 2023. 1ª ed. REFERÊNCIAS PLÍNIO , O Jovem. Epistulae. Livro VII, Carta 27. Tradução de Maria Cecília de Miranda. 1ª edição. Editora Unesp, 2013. DOYLE , Arthur Conan. A História do Espiritualismo. Tradução de José Carlos da Silva Silveira. 1ª edição. FEB Editora, 1 agosto 2013. KARDEC , Allan. O Livro dos Médiuns. Tradução de Salvador Gentile. 9ª edição. Editora Boa Nova, 2004. MIRANDA , Hermínio C. Diversidade dos Carismas. LACHATRE, novembro de 2019, 9ª edição. XAVIER , Francisco Cândido; VIEIRA, Waldo (psicografia). Mecanismos da Mediunidade. André Luiz (espírito). FEB Editora, 2013.
- 50. Quem é o meu mentor espiritual? Como posso descobrir sua identidade?
Deus, em sua infinita sabedoria, estendeu um véu sobre os homens, impedindo-lhes o acesso às suas existências pretéritas, assim como o conhecimento direto de quem sejam seus anjos guardiões. Todavia, de acordo com a necessidade e a compreensão da espiritualidade superior, é permitido ao médium – muito raramente – uma percepção rasa ou incompleta de suas vidas pregressas, bem como a apresentação direta de seu mentor espiritual. Quem é o meu mentor espiritual? Como posso descobrir sua identidade? Dito isto, não podemos deixar de advertir, pelo bem dos próprios médiuns, que tenham sempre prudência a esse respeito. Em nome da vaidade e da satisfação do ego, muitos se perdem em sua caminhada espiritual, procurando conhecer demasiadamente quem são os seus guias e mentores, querendo que estes se apresentem para, enfim, descobrirem se possuem nomes respeitáveis sobre a Terra ou se são entidades altamente evoluídas, etc. A este respeito, em Diversidade dos Carismas , o autor espírita Hermínio de Miranda destaca que os guias experimentados não costumam realmente identificar-se. Se foram personalidades importantes na Terra, os médiuns poderiam ficar intoleravelmente vaidosos. Se, por outro lado, tenham sido pessoas obscuras, o médium pode ficar decepcionado. Dando continuidade ao seu ponto de vista referente aos guias espirituais, ainda na referida obra, Hermínio de Miranda nos esclarece ao dizer que os guias espirituais raramente se identificam com algum nome conhecido do passado. Optam pelo anonimato e preferem ser avaliados pelo trabalho que realizam, pelas ideias que transmitem, pelos ensinamentos que ministram. Costumam ser simples, tranquilos, profundamente humanos e compreensivos. Enérgicos, quando necessário, mas nunca são autoritários. O QUE DIZ KARDEC? Em O Livro dos Espíritos , questão 501, Kardec aborda este tema ao perguntar: – Por que a ação dos Espíritos em nossa vida é oculta, e por que, quando eles nos protegem, não o fazem de maneira ostensiva? Resposta dos Espíritos: “Se contásseis com o seu apoio, não agiríeis por vós mesmos e o vosso Espírito não progrediria. Para que ele possa adiantar-se, necessita de experiência e em geral é preciso que adquira à sua custa; é necessário que exercite as suas forças, sem o que seria como uma criança a quem não deixam andar sozinha. A ação dos Espíritos que vos querem bem é sempre regulada de maneira a vos deixar o livre-arbítrio, porque se não tivésseis responsabilidade não vos adiantaríeis na senda que vos deve conduzir a Deus. Não vendo quem o ampara, o homem se entrega às suas próprias forças; não obstante, o seu guia vela por ele e de quando em quando o adverte do perigo.” De modo direto, ainda na referida obra, Kardec passa a indagar: 504 – Podemos sempre saber o nome do nosso Espírito protetor ou anjo da guarda? R: “Como quereis saber nomes que não existem para vós? Acreditais, então, que só existem os Espíritos que conheceis?” 504 – a) Como então o invocar, se não o conhecemos? R: “Dai-lhe o nome que quiserdes, o de um Espírito superior pelo qual tendes simpatia e veneração; vosso espírito protetor atenderá a esse apelo, porque todos os bons Espíritos são irmãos e se assistem mutuamente.” O CRISTO COMO GUIA DE TODOS NÓS O instrutor espiritual Miramez, através do livro Médiuns , pela psicografia de João Nunes Maia, ilumina nossa mente ao dissertar que a primeira preocupação dos candidatos ao desenvolvimento mediúnico é saber quem são os seus guias. Na sequência, o benfeitor espiritual nos recomenda que não concentremos demasiada atenção na busca incessante pela identidade de nosso protetor espiritual. Ao invés disso, devemos relembrar a passagem onde Jesus afirma ser o caminho, a verdade e a vida, e que ninguém vai ao Pai senão por ele (João 14:6). Desse modo, considerando o Cristo como nosso guia principal, os outros Espíritos se manifestarão de forma natural, sem que precisemos insistir as vossas presenças. Ainda na referida obra, arremata Miramez: "Não vamos tirar de todo o direito, e esse não é o nosso propósito, do médium interessar-se pela personalidade espiritual que o dirige ou acompanha. O que o bom senso reclama é não tornar isso um fanatismo. ” Portanto, não é necessário para o médium saber o nome ou quem é o seu mentor espiritual. Caso isso seja oportuno – útil e proveitoso –, tal situação ocorrerá de maneira natural, espontânea, pois a própria espiritualidade sabe quando deve ou não se manifestar. De outro modo, o médium invigilante, insistindo no desejo pueril de descobrir insistentemente o nome do seu protetor espiritual, acaba por ser vítima da sua própria vaidade e ambição, abrindo precedentes para o fanatismo, a mistificação, a fascinação e, em alguns casos, a possessão. ANÁLISE DAS MENSAGENS DOS GUIAS ESPIRITUAIS Como praxe, todas as Casas Espíritas e, consequentemente, seus grupos mediúnicos, recebem – com certa frequência – comunicações provenientes dos seus guias e mentores espirituais, responsáveis pelos trabalhos em andamento. Sobre este tópico, Hermínio C. Miranda, em Diversidade dos Carismas , nos encoraja a adotar uma abordagem racional ao avaliar todas as mensagens e informações obtidas pelo grupo mediúnico, independentemente do médium que as recebeu ou dos Espíritos que as assinaram. Segundo o autor, referindo-se aos guias espirituais que se comunicam nas reuniões, se eles forem mesmo o que dizem ser, não se aborrecerão com isto (com a análise racional da mensagem) ; ao contrário, chegarão até a sugeri-lo. A fé raciocinada e o bom senso, a vigilância e a prudência, bem como os ensinamentos de Kardec por meio de suas obras, devem sempre prevalecer diante de qualquer intercâmbio espiritual, ainda mais se estas comunicações forem assinadas por entidades elevadas e de renome. O grupo deve também atentar para supostos guias que se apresentam de forma autoritária e impaciente, ditando ordens, impondo comportamentos esdrúxulos e exigindo determinadas posturas e vestimentas próprias, como adereços, entre outros. Os elogios fartos e constantes também devem ser vistos como sinal de alerta. Diante disso, o grupo unido e coeso deve examinar todas essas questões com bastante racionalidade, senso crítico e cautela, não se deixando envolver em armadilhas terríveis, cuja consequência é sempre dolorosa. Por fim, no que tange a este tema, de acordo com a obra supracitada, esclarece-nos o autor e pesquisador espírita Hermínio C. Miranda: “Os espíritos confiáveis, mesmo quando tem de advertir, fazem-no com respeito ao livre-arbítrio, e à condição daqueles a quem se dirigem. Preferem aconselhar de maneira indireta, que sirva para todo o grupo, sem agredir, sem proibir, sem expor ninguém ao ridículo ou à repreensão pública ou reservada, e são muito sombrios, quase avaros no elogio. ” Texto extraído do livro Mediunidade com Kardec de Patrick Lima . Capítulo 5: Mentores Espirituais Pergunta 50: Quem é o meu mentor espiritual? Como posso descobrir sua identidade? Como citar: LIMA, Patrick. Mediunidade com Kardec. Poverello Edições, 2023. 1ª ed. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS MIRANDA , Hermínio C. Diversidade dos Carismas. LACHATRE, novembro de 2019, 9ª edição. KARDEC , Allan. O Livro dos Espíritos. Tradução de Guillon Ribeiro. FEB; 93ª edição. Rio de Janeiro, 2014. MAIA , João Nunes (psicografia). Médiuns. Miramez (espírito). Fonte Viva, 19ª edição, 2017.
- 54. O médium espírita pode cobrar ou obter ganhos financeiros por meio da mediunidade?
Eternizado pelo apóstolo Mateus, o dai de graça o que de graça recebestes é uma das principais orientações morais descritas no evangelho de Jesus. (Mateus 10:8) Todo aquele que, atentamente, examina a vida e os ensinamentos do Mestre Nazareno encontra uma orientação segura quanto à gratuidade da mediunidade. Afinal, qual era o valor que Jesus cobrava para curar ou ajudar os que lhe procuravam? Como bem sabemos, o Cristo nunca cobrou por seus atendimentos ou jamais esperou receber algo em troca. A mediunidade pode ser considerada uma profissão como qualquer outra? Por conseguinte, Allan Kardec, sob a supervisão dos Espíritos superiores – dentre eles o Espírito da Verdade, Jesus Cristo – , nos elucida sobre a gratuidade da mediunidade em diversos momentos da codificação. Em O Evangelho Segundo o Espiritismo, Kardec destaca que os médiuns atuais – pois que também os apóstolos tinham mediunidade – igualmente receberam de Deus um dom gratuito: o de serem intérpretes dos Espíritos, para instrução dos homens, para lhes mostrar o caminho do bem e conduzi-los à fé, não para lhes vender palavras que não lhes pertencem, a eles médiuns, visto que não são fruto de suas concepções, nem de suas pesquisas, nem de seus trabalhos pessoais. Dando continuidade, o codificador ressalta que Deus quer que a luz chegue a todos; não quer que o mais pobre fique dela privado e possa dizer: não tenho fé, porque não a pude pagar; não tive o consolo de receber os encorajamentos e os testemunhos de afeição dos que pranteio, porque sou pobre. Tal a razão por que a mediunidade não constitui privilégio e se encontra por toda parte. Fazê-la paga seria, pois, desviá-la do seu providencial objetivo. A MEDIUNIDADE PODE SER CONSIDERADA UMA PROFISSÃO? Ainda na referida obra, Kardec nos convida a meditar um pouco mais sobre essa temática ao indagar que a mediunidade séria não pode ser e não o será nunca uma profissão , não só porque se desacreditaria moralmente, identificada para logo com a dos ledores da boa sorte, como também porque um obstáculo a isso se opõe. É que se trata de uma faculdade essencialmente móvel, fugidia e mutável, com cuja perenidade, pois, ninguém pode contar. Segundo o codificador, na obra em destaque, a mediunidade representaria para quem a explora uma fonte de renda extremamente instável, que pode desaparecer no momento mais crítico. Em contraste, o talento desenvolvido por meio do estudo e trabalho é uma propriedade real e legítima do indivíduo, que pode usá-lo conforme desejar. A mediunidade, no entanto, não é uma arte nem um talento, e por isso, não pode ser considerada uma ocupação profissional regular. Kardec volta ao falar desse assunto, dessa vez em O que é o Espiritismo, afirmando que seria um erro compararmos a mediunidade a uma propriedade do talento. Para o codificador, o talento adquire-se pelo trabalho, quem o possui é sempre dele senhor; ao passo que o médium nunca o é de sua faculdade, pois que ela depende de vontade estranha. Essa vontade na qual Kardec faz referência tem relação direta com a colaboração dos Espíritos. De acordo com o filho de Lyon, a mediunidade não existe sem o concurso dos Espíritos; faltando estes, já não há mediunidade. Pode subsistir a aptidão, mas o seu exercício se anula. Daí vem não haver no mundo um único médium capaz de garantir a obtenção de qualquer fenômeno espírita em dado instante. Explorar alguém a mediunidade é, conseguintemente, dispor de uma coisa da qual não é realmente dono. Afirmar o contrário é enganar a quem paga. (O Evangelho Segundo o Espiritismo) MEDIUNIDADE GRATUITA Os médiuns verdadeiramente sérios e devotados, de acordo com Kardec, quando não possuem uma existência independente, procuram recursos no trabalho ordinário e não abandonam suas profissões; eles não consagram à mediunidade senão o tempo que lhe podem dar, sem prejuízo de outras ocupações; empregando parte do tempo destinado aos divertimentos e repouso, nesse trabalho mais útil, eles se mostram devotados, tornam-se apreciados e respeitados. (O que é o Espiritismo) Portanto, cabe ao medianeiro buscar seu sustento através dos talentos que dispõe e nunca fazendo da mediunidade o seu ganha-pão diário. Em outros termos, o médium não deve fazer do seu mediunismo uma profissão para obter lucros financeiros ou no intuito de garantir ou esperar quaisquer vantagens (presentes, favores, fama, reconhecimento, gratidão, etc). Por fim, em O Evangelho Segundo o Espiritismo , Kardec conclui o seu raciocínio ao nos advertir: Procure, pois, aquele que carece do que viver, recursos em qualquer parte, menos na mediunidade; não lhe consagre, se assim for preciso, senão o tempo de que materialmente possa dispor. Os Espíritos lhe levarão em conta o devotamento e os sacrifícios, ao passo que se afastam dos que esperam fazer deles uma escada por onde subam. Em suma, a mediunidade não é uma profissão e, dessa forma, por ser algo que não nos pertence de fato, deve ser sempre gratuita e de ordem coletiva. Sendo assim, não existe a profissão médium, e os que exercem essa atividade – abusando e explorando os que lhes procuram – em troca de dinheiro, favores ou reconhecimento, ou são charlatões/enganadores ou não conhecem as leis divinas e o Evangelho de Jesus. PAGUEI POR DETERMINADO "SERVIÇO" MEDIÚNICO Sabemos ainda que os Espíritos superiores naturalmente se afastam dos médiuns que desviam a mediunidade da sua verdadeira finalidade, ficando o medianeiro, muitas vezes, assistido por entidades inferiores, que se comprazem no mal, na ganância, na exploração e na enganação. ( vide questão 18 ) Os médiuns que utilizam os serviços dessas entidades (popularmente conhecidas no meio espiritualista como kiumbas ) para trabalhos variados, tais como a leitura da sorte, amarrações, adivinhações, aberturas de caminhos e similares, desde a presente encarnação, já sofrem o baque originário da comunhão desditosa com esses Espíritos inferiores, sendo o seu padecimento prolongando e intensificando após o desencarne. Ao desencarnarem, passam a ser perseguidos, escravizados, vampirizados e subjugados por esses mesmos Espíritos que outrora lhes serviam. Aos que procuram por tais assistências: a partir do momento em que alguém busca esse tipo de serviço ou auxílio , um processo obsessivo começa a ser desencadeado paulatinamente. Ao entrar nesses espaços, o cliente – que não mede as consequências para atingir o objetivo proposto – passa a ter como companhias invisíveis, Espíritos da mais baixa estirpe. Estes, por sua vez, o acompanham de retorno à sua casa e passam a lhe sugerir ou intuir os mais diversos tipos de pensamento, causando-lhe inúmeras perturbações e infortúnios. Geralmente, preso a esses tipos de inquietações e pensamentos em desequilíbrio, o sujeito retorna ao local onde o trabalho foi realizado, para uma nova consulta. Quase sempre, o fim desses consulentes é o mesmo dos médiuns que os atenderam, conforme descrevemos acima. Eis o real salário que essas entidades inferiores cobram para ajudar os medianeiros imprudentes a realizarem suas práticas mediúnicas pautadas na cobiça, ganância, cupidez ou qualquer tipo de maldade, assim como, daqueles que buscam por seus serviços . MERCANTILIZAÇÃO CAMUFLADA O autor espírita Hermínio C. Miranda, em Diversidade dos Carismas , destaca que mil e um artifícios são inventados para justificar a cobrança dos 'serviços' sem que pareça ostensivamente estarem pondo em prática uma 'feira de milagres'. Pode ser sob forma de donativos 'espontâneos' ao grupo, ao médium ou aos dirigentes, ou presentes materiais, testemunhos de reconhecimento, traduzidos em alguma forma concreta, material, e outros artifícios sutis ou mesmo não tão sutis.” Dando continuidade ao seu pensamento, ainda na referida obra, Hermínio de Miranda conclui que mesmo que o grupo não enverede, porém, pela mercantilização aberta ou camuflada , muitas vezes permite, e até estimula, o endeusamento do médium, que assume a condição de verdadeiro e infalível guru, adota posturas teatrais e começa a vestir-se de maneira diferente, estapafúrdia, ornado de adereços, símbolos secretos e talismãs misteriosos. Isso nada tem a ver com as práticas recomendadas pela doutrina espírita. Trata-se de exercício inadequado da mediunidade. De forma concisa, a mediunidade não é um obstáculo à vida normal, nem deve ser usada para obter vantagens financeiras ou notoriedade, sob o falso pretexto de compensar o tempo dedicado ao trabalho mediúnico. Texto extraído do livro Mediunidade com Kardec de Patrick Lima . Capítulo 6: Aspectos Morais da Mediunidade Pergunta 54: O médium espírita pode cobrar ou obter ganhos financeiros por meio da mediunidade? Como citar: LIMA, Patrick. Mediunidade com Kardec. Poverello Edições, 2023. 1ª ed. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BÍBLIA DE JERUSALÉM . Mateus 10:8. 14ª impressão. Editora PAULUS, 2017. KARDEC , Allan. O Evangelho Segundo o Espiritismo. Tradução de Salvador Gentile. 21ª edição. Editora Boa Nova, 2017. KARDEC , Allan. O que é o Espiritismo. Tradução de Evandro Noleto Bezerra. FEB Editora, 2016. MIRANDA , Hermínio C. Diversidade dos Carismas. LACHATRE, novembro de 2019, 9ª edição.
- 47. Espíritos de outras tradições espiritualistas podem trabalhar em Centros Espíritas?
Não apenas podem como trabalham com frequência. Espíritos como Pretos-Velhos, Caboclos, Boiadeiros, entre outros, costumam ter suas presenças solicitadas – por uma parcela dos dirigentes espíritas – para colaborarem nas atividades pertinentes às reuniões mediúnicas, auxiliando nos processos de desobsessão, desmanche de trabalhos de magia, etc. Espíritos de outras tradições espiritualistas podem trabalhar em Centros Espíritas? Além disso, como nos foi dado a observar, há uma infinidade de médiuns espíritas que têm como guias espirituais entidades que se apresentam sob variados arquétipos, como Marinheiros, Exus, Pombagiras, Erês, Ciganas... Consequentemente, quando esses medianeiros participam de suas respectivas reuniões nas casas espíritas, seus mentores também estão presentes, buscando auxiliá-los conforme os trabalhos em andamento. Da mesma forma, os Espíritos benfeitores que trabalham nas casas espíritas – como Bezerra de Menezes e outros – também costumam colaborar em variados núcleos espiritualistas ou religiosos, tal qual os templos evangélicos, igrejas católicas, mosteiros, etc. BEZERRA DE MENEZES COMO UM PRETO-VELHO? Pela psicografia de João Nunes Maia, o autor espiritual Lancellin conta-nos uma história onde a equipe espiritual que ele faz parte, sob a supervisão do benfeitor Miramez, colabora em um trabalho espiritual de matriz africana ( Iniciação – Viagem Astral ; cap. Aprimorando ideias). Em seu livro Loucura e Obsessão, Manoel Philomeno de Miranda – por meio da mediunidade de Divaldo Franco – relata um curioso caso em que o médico dos pobres, Dr. Bezerra de Menezes, realiza um atendimento em um templo umbandista sob o arquétipo de um preto-velho. Casos semelhantes aos descritos acima são bastante frequentes na literatura e na prática espírita. Entretanto, devido ao preconceito ainda enraizado em nossa cultura, diversos núcleos, autores e oradores espiritistas, optam por manter-se discretos sobre esses assuntos, evitando comentar a participação ativa dessas entidades nas casas e reuniões propriamente espíritas. Lamentavelmente, o preconceito e a intolerância religiosa ainda prevalecem na maioria das instituições kardecistas (sob o uso do termo kardecista , vide questão 44 ). Como efeito, entidades que não apresentam o perfil do homem branco ou de ancestralidade europeia são discriminadas e rejeitadas ao se manifestarem nas reuniões espiritistas. Apesar disso, esses Espíritos iluminados e compassivos continuam a nos ajudar, adotando aparências que nos tragam a sensação de simpatia e confiança. Acerca do preconceito e da intolerância acima citados, não nos referimos à doutrina espírita em si, mas sim às pessoas que lideram instituições e núcleos espiritistas e que, eventualmente, ainda manifestam atitudes preconceituosas, comportamentos elitistas ou qualquer pensamento contrário aos ensinos do Cristo (que tem como base o amor, a caridade e o respeito para com o próximo). ARQUÉTIPOS Ao usarmos a expressão arquétipo (do grego arkhétypon ; do latim archetypum ) no contexto espiritual, estamos nos referindo a um conceito presente nas religiões de matriz afro-brasileira. Nesses segmentos religiosos, cada entidade se manifesta usando a roupagem fluídica que melhor expressa a sua linha de trabalho, isto é, que reflita as características pertencentes ao seu estado evolutivo, como a bondade e sapiência, a caridade e o amor, a sabedoria e a humildade... É importante frisar que estas entidades que se apresentam sob a aparência de índios, ex-escravizados e ciganas, por exemplo, não necessariamente foram – em encarnações pretéritas – estas personalidades. Voltando ao exemplo acima, referente ao Dr. Bezerra de Menezes, veremos que o benfeitor espírita aqui mencionado, em sua última encarnação, atuara como médico. Este fato não lhe impediu de colaborar espiritualmente em um terreiro de umbanda sob a roupagem de um Preto-Velho, ou seja, um Espírito de um ex-escravizado que geralmente se apresenta com linguagem simples e sábia, com humildade e paciência, com amor e carinho. Entretanto, não esqueçamos a velha sabedoria popular: as aparências enganam! E como enganam! Kardec, em seus escritos, já nos alertava sobre as artimanhas de Espíritos levianos, inteligentes e astutos, que, estando moralmente atrasados, se disfarçam de figuras ilustres (com nomes veneráveis) e empregam palavras rebuscadas para ludibriar e iludir o agrupamento mediúnico. COMO SABER SE UM ESPÍRITO É DE ORDEM ELEVADA OU INFERIOR? Reconhece-se um espírito por sua linguagem, assim nos orientou Allan Kardec. Segundo o codificador, por meio da obra Resumo da Lei dos Fenômenos Espíritas , os Espíritos de ordem elevada – que são verdadeiramente superiores e bons – apresentam linguagem sempre digna, nobre, lógica e isenta de contradições ou palavras inúteis; suas comunicações refletem sua sabedoria, a benevolência, a modéstia e a mais pura moral. Já os Espíritos menos evoluídos, marcados pela vaidade, orgulho ou pela ignorância, frequentemente compensam a superficialidade de suas ideias com um discurso excessivo e vazio. Pensamentos equivocados, máximas contrárias à moral, conselhos insensatos, expressões grosseiras ou fúteis, enfim, qualquer indício de malevolência, presunção ou arrogância, são sinais inequívocos da inferioridade de um Espírito. Além da linguagem, ideias e conceitos, a impressão física/orgânica que os Espíritos emanam ao se aproximarem dos médiuns — ou de pessoas mais sensíveis — podem revelar o seu grau de desenvolvimento e adiantamento espiritual. A aproximação de um Espírito superior é sempre acompanhada por uma sensação boa e agradável, um sentimento de paz e quietude, alegria e bem-estar, bom ânimo e tranquilidade. Já as entidades menos evoluídas, ao se aproximarem dos médiuns, despertam-lhes um abalo desagradável, incidindo em um mix de desânimo e irritabilidade, bem como, perturbações psíquicas e orgânicas, dentre outras percepções negativas. LINGUAGEM ERUDITA x LINGUAGEM SIMPLES Ao mencionar o termo linguagem , Kardec se referia ao conteúdo moral da mensagem exposta pelo Espírito comunicante, e não a sua forma de falar, isto é, se a mesma é rebuscada, culta, erudita, simples ou regional. Muitos são os que apresentam o pensamento errôneo ao acreditar que uma entidade que se manifesta com um teor acentuado de boa oratória, é por isso mais elevada do que aquelas que se comunicam de maneira mais simples ou fora da norma culta. Frequentemente, esse é o argumento inicial utilizado pelos dirigentes espíritas ao rejeitarem a manifestação de entidades que, segundo as suas observações, não seguem o padrão convencional de linguagem. Para finalizarmos, os Espíritos esclarecidos e elevados, despojados de quaisquer formalismos terrenos, preocupam-se primordialmente com o teor da mensagem que desejam transmitir. Muito mais do que impressionar pelo tipo de linguagem utilizada, estes Espíritos – nobres e superiores – atentam-se ao conteúdo moral da mensagem que visam repassar, tornando-a compreensíveis a todos, independentemente de ser culta, erudita, coloquial, formal, regional, popular, dentre outras. ( Mediunidade: Desafios e Bênçãos | Manoel Philomeno de Miranda, pela psicografia de Divaldo Franco). EXU NÃO É DIABO Muitas pessoas também acreditam, equivocadamente, que essas entidades representam o mal. Essas crenças fazem parte de um preconceito enraizado em nossa sociedade, que supervaloriza a cultura europeia e do homem branco, enquanto demoniza tudo o que tem origem africana e/ou está ligado ao homem negro e sua ancestralidade. No livro Prazer, Umbanda! , o autor e cientista religioso Bernardo D'Oxóssi destaca que ao contrário do que muitos acham ou falam até hoje, Exu não faz o mal. Na verdade, essa imagem de fazedor do mal se deve a influência Católica na colonização e formação político-social do Brasil, onde Exu foi logo associado ao Diabo e essa ideia foi reforçada através da ligação do arquétipo Exu aos demônios da Goetia europeia nos primórdios da Umbanda e da Kimbanda. De fato, certas vertentes mediúnicas têm como objetivo a prática do mal, como é o caso da Kiumbanda ou Quiumbanda (não confundir com a Kimbanda). A Kiumbanda trabalha espiritualmente com Espíritos conhecidos como Kiumbas. Esses Kiumbas, quando encarnados, já praticavam a maldade e, agora, no plano espiritual, continuam a agir de forma maléfica por livre e espontânea vontade, compreendendo plenamente suas ações. Em resumo, os Kiumbas são Espíritos que sentem prazer em praticar o mal e se deleitam com cada oportunidade de atormentar os encarnados, fazendo isso sem medir esforços. Já a Umbanda possui três conceitos fundamentais que são: Luz, Amor e Caridade. À semelhança do Espiritismo, na Umbanda não há nenhuma prática do mal. Para os Umbandistas, Jesus também é tido como referência central, modelo e guia. Desse modo, a prática da caridade, o amor fraternal e o Evangelho de Jesus são os seus pilares centrais. EMMANUEL COMO SENADOR ROMANO Sabemos ainda que os Espíritos que se apresentam sob as vestes da simplicidade cabocla ou africana, por exemplo, não se apresentam dessa maneira por estarem presas ao seu passado, mas por escolha própria. Da mesma forma, encontraremos o benfeitor Emmanuel – guia espiritual de Chico Xavier – sob a aparência do senador romano Publius Lentulus (uma de suas reencarnações). É sabido que Emmanuel reencarnou outras vezes, seja como padre, bispo, escravizado, educador, dentre outras, mas, que prefere apresentar-se sob a figura da sua encarnação romana, à época de Jesus. O que não significa que ele esteja preso a essa encarnação ou aparência, muito menos seja considerado inferior por isso; é apenas a forma, o molde que ele prefere se apresentar. USO DE CACHIMBOS E VELAS NA CASA ESPÍRITA? Há um argumento recorrente entre os dirigentes espíritas para impedir a manifestação de entidades que, segundo eles, não se alinham ao padrão europeu de civilidade . Para tais dirigentes, esses Espíritos – popularmente associados a outras vertentes mediúnicas, como umbanda e candomblé – são considerados inferiores por utilizarem cachimbos, bebidas, velas, defumadores, etc. Entretanto, o uso desses elementos não denota nenhuma inferioridade. O álcool, por exemplo, utilizado geralmente pelos Exus e Pombagiras, é usado para garantir a integridade energética do médium (e não do Espírito). Já o fumo, comumente associado aos Pretos-Velhos, costuma ser utilizado como meio de descarrego, dispersando as energias malsãs (equivalente ao passe espírita). Desse modo, podemos concluir que essas entidades não bebem ou fumam, elas manipulam com maestria as energias fluídicas desses elementos, usando-as para variados fins. Esses mesmos Espíritos que se utilizam dessas ferramentas em seus atendimentos, quando se apresentam para trabalhar em outros ambientes – como as casas espíritas –, na qual esses hábitos não são aceitos ou não são de costume, realizam seus trabalhos da mesma maneira, sem necessariamente terem estes elementos em mãos, ao seu dispor. É dessa forma que estas linhagens espirituais também trabalham nos centros espíritas, respeitando a cultura e o modo de trabalho de cada lugar. FRANZ MESMER COMO VOVÔ PEDRO Para refletirmos sobre nossos preconceitos, é fundamental lembrar da origem da Pomada Vovô Pedro, que ainda hoje proporciona cura e alívio a diversas enfermidades, incluindo a hanseníase. No início da década de 1970, o médium João Nunes Maia acabara de psicografar a obra Além do Ódio , pelo Espírito Sinhozinho Cardoso. A pedido da espiritualidade, o livro foi lançado na colônia de hansenianos Santa Isabel (Betim/MG), na qual todas as famílias presentes receberam um exemplar da obra gratuitamente. Ao término do evento, um cortejo de Espíritos desencarnados, sob a visão mediúnica de João Nunes Maia, adentrou o salão. Dentre os Espíritos que se mostraram visivelmente como ex-escravizados, um deles ganhou destaque especial. Assinando sob o nome de Vovô Pedro, esse Espírito ditou a receita de uma pomada que, por apenas um preço – Deus lhe pague – se tornaria um símbolo de cura. Anos depois, ao visitar a Biblioteca Municipal de São Paulo, em posse de uma enciclopédia, o médium João Nunes Maia se depara com uma fotografia que lhe chama a atenção, reconhecendo ali, naquela imagem, a figura do Espírito Vovô Pedro. Eis que surge – em Espírito –, o criador da teoria do magnetismo animal (mesmerismo), o médico, teólogo, linguista e filósofo austríaco Franz Mesmer, que diante de João Nunes Maia revela o seu verdadeiro nome (referente à sua última encarnação conhecida). Portanto, o Espírito que outrora apresentou-se com um nome sem elegância , rodeado por ex-escravizados , ditando uma fórmula simples para uma pomada simples (como costumava chamar), era na verdade, um dos personagens mais ilustres da nossa história, um Espírito de escol, responsável por trazer a lume os estudos referentes aos fluidos e a cura pelas mãos; a posteriori, o seu trabalho influenciou diretamente os estudos e pesquisas de Allan Kardec, cujas obras da codificação mencionam diretamente – e por diversas vezes – o magnetismo descrito por Mesmer, além da atribuição de três mensagens mediúnicas escritas/ditadas por Mesmer, publicadas nas edições de janeiro de 1864, outubro de 1864 e maio de 1865 da Revista Espírita. Texto extraído do livro Mediunidade com Kardec de Patrick Lima . Capítulo 4: O Médium e a Casa Espírita Pergunta 47: Espíritos de outras tradições espiritualistas podem trabalhar em Centros Espíritas? Como citar: LIMA, Patrick. Mediunidade com Kardec. Poverello Edições, 2023. 1ª ed. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS MAIA , João Nunes (psicografia). Iniciação Viagem Astral. Lancelin (espírito). Fonte Viva, 22ª edição, 2017. FRANCO , Divaldo Pereira (psicografia). Loucura e Obsessão. Manoel Philomeno De Miranda (espírito). FEB Editora, 2016. KARDEC , Allan. Resumo da Lei dos Fenômenos Espíritas. Tradução de Salvador Gentile. IDE Editora, 2012. FRANCO , Divaldo Pereira (psicografia). Mediunidade: Desafios e Bênçãos. Manoel Philomeno De Miranda (espírito). Editora LEAL, 2019. D'OXÓSSI , Bernardo. Prazer, Umbanda!: História, Conceitos e Teorias. Reconecte Produções, 2021.












