71. Qual o papel da reforma íntima na superação da obsessão sutil?
- Patrick Lima
- 29 de set.
- 6 min de leitura
Atualizado: 5 de out.
Manoel Philomeno de Miranda, na obra Mediunidade: Desafios e Bênçãos, psicografada por Divaldo Franco, nos alerta:
Pequenos deslizes morais, desrespeito ao equilíbrio social e familiar, atentados ao dever, ao pudor e à ordem, dissimulações de indignidade pessoal, pecadinhos da sociedade, ebriedade, tabagismo, calúnia, inveja, todo o séquito pernicioso do ego famigerado, são atitudes delituosas que abrem brechas para as obsessões sutis.

Conforme expõe a visão espírita, obsessão é a influência persistente de um espírito malévolo sobre um indivíduo. Allan Kardec, em O Livro dos Médiuns (cap. XXIII), explica que ela pode se apresentar em diferentes graus, tais como a obsessão simples, a fascinação e a subjugação.
Quando Philomeno de Miranda utiliza o termo obsessão sutil, ele se refere ao início desse processo. Trata-se de um estágio ainda discreto, em que, pela falta de vigilância e pelo descuido diante de pequenos deslizes cotidianos, o indivíduo dá ensejo à aproximação de Espíritos inferiores, que encontram sintonia em seu modo de pensar e agir. (vide questão 62: O que os meus pensamentos revelam sobre as minhas companhias espirituais?)
Esses deslizes — chamados pelo autor de pecadinhos da sociedade — não são irrelevantes. Ao contrário, funcionam como portas de entrada para influências perniciosas, pois geram vibrações que atraem entidades afinadas com este tipo de conduta. Em termos simples, o desregramento do indivíduo funciona como um convite a Espíritos de natureza idêntica, isto é, que vibram nessa mesma frequência. Percebendo essa abertura, eles se aproximam e passam a influenciar sutilmente o pensamento, sugerindo ideias, emoções e comportamentos cada vez mais nocivos.
Quando o encarnado, mesmo sem perceber, acolhe as sugestões do Espírito e passa a agir sob sua inspiração, um vínculo inicialmente sutil começa a se formar. Com o tempo, essa ligação se fortalece e se aprofunda, permitindo que a influência espiritual se intensifique gradualmente. À medida que esse laço se estreita, o processo obsessivo se instala com maior profundidade, tornando o desligamento entre obsessor e obsidiado uma tarefa cada vez mais difícil e dolorosa para ambos.
Por já fazerem parte da rotina, esses hábitos negativos passam despercebidos, e o indivíduo vai se deixando envolver pelas companhias espirituais que atraiu, cedendo pouco a pouco às sugestões inferiores. Na maioria das vezes, a vítima não percebe a influência que a envolve. Quando algo incomum se apresenta, tende a interpretá-lo como simples ocorrência, sem maior significado.
A este respeito, Manoel Philomeno, em sua obra destacada, nos previne ao dizer:
As obsessões sutis devem ser combatidas desde as suas primeiras manifestações pelo paciente ainda lúcido, que se deve impor alteração da conduta para outra mais saudável, controle consciente do comportamento, recriando o clima mental e os hábitos corretos, propiciadores da saúde.
COMO OCORRE A SINTONIA?
A influência espiritual não se estabelece por imposição ou coerção externa, como se alguém fosse dominado sem escolha. Ela só é possível porque há afinidade vibratória entre obsessor e obsidiado. Isso se explica pela lei da sintonia, segundo a qual ninguém pode ser obsidiado se não oferecer, ainda que inconscientemente, campo de acesso.
A sintonia espiritual pode ser comparada ao funcionamento de um rádio. Cada estação emite em uma frequência própria, e só ouvimos claramente a mensagem quando o aparelho está exatamente sintonizado nela. Da mesma forma, nossos pensamentos se manifestam como vibrações sutis que se espalham ao nosso redor. Aqueles que vibram na mesma frequência conseguem captar essas ondas, tornando-se receptores das ideias e sentimentos que compartilhamos.
Assim, pensamentos de bondade e elevação atraem companhias afinadas com tais valores, enquanto pensamentos de desarmonia encontram eco em presenças igualmente perturbadas, que são atraídas, a semelhança de um imã, pela similitude vibratória entre os envolvidos. (vide questão 56: Sintonia e Afinidade: Como os pensamentos atraem ou repelem certos Espíritos?)
O PAPEL DO OBSIDIADO
A superação do quadro obsessivo inicia-se pelo esforço do próprio obsidiado. A partir do momento em que o paciente manifesta o desejo sincero de se recuperar e alcançar o equilíbrio, já se estabelece uma condição favorável à sua autorrecuperação.
O primeiro passo em direção ao reequilíbrio é o reconhecimento da própria condição. Cabe ao obsidiado buscar o auxílio necessário no Centro Espírita que melhor atenda às suas necessidades. Para uma visão mais ampla sobre o tratamento indicado, sugerimos a leitura da questão 67: O que fazer em casos de obsessão?
Entre o conjunto de práticas indicado pela Doutrina Espírita no processo de desobsessão, a reforma íntima ocupa um lugar de destaque. Bastante conhecida no meio espírita, essa prática é, acima de tudo, um compromisso pessoal e intransferível. Seu exercício requer constância, disciplina nos pensamentos, paciência diante das próprias imperfeições, perseverança no bem, domínio das más inclinações e firmeza moral para atravessar, sem esmorecer, as dificuldades naturais que surgem ao longo do caminho. Somado a esse movimento íntimo de renovação, o obsidiado em recuperação encontra grande auxílio ao agregar, em sua rotina, o trabalho no bem e as práticas de caridade. A isso se acrescentam recursos preciosos como a oração, o evangelho no lar, o passe, a água fluidificada e o estudo da doutrina espírita e da mediunidade,
De modo complementar, o esclarecimento do Espírito obsessor é um mecanismo valioso no processo de desvinculação espiritual. Essa tarefa é realizada nas reuniões de desobsessão — conduzidas sem a presença do obsidiado — no ambiente da casa espírita onde ele buscou auxílio. Nesses encontros, trabalhadores encarnados, médiuns e dialogadores experientes, sob a inspiração e o amparo da equipe espiritual que os assiste, estabelecem um diálogo fraterno com o desencarnado, ajudando-o a compreender sua situação atual. Quando bem-sucedido, esse trabalho favorece o rompimento dos laços de dor que os unem, permitindo o início de um processo de libertação para ambos.
As reuniões de desobsessão, de caráter reservado, fazem parte dos subsídios espirituais colocados à disposição daquele que, ao reconhecer a necessidade de mudança, busca auxílio e se dispõe a cooperar com o próprio processo de recuperação. A presença ativa da vontade, ainda que inicial, torna possível a ação conjunta da equipe espiritual e dos trabalhadores encarnados no atendimento ao Espírito comunicante, favorecendo a ruptura progressiva do vínculo obsessivo e a reorganização das condições morais de ambos os envolvidos.
A IMPORTÂNCIA DA REFORMA ÍNTIMA
Na experiência cotidiana dos atendimentos realizados nas instituições espíritas, observa-se que grande parte dos casos de obsessão tem origem em existências passadas; outros, porém, surgem na vida atual, resultando da afinidade e sintonia entre os envolvidos, como já foi explicado.
Independentemente da origem, os obsessores agem com notável astúcia. Diante de suas vítimas, observam atentamente seus hábitos, gostos e fraquezas. Com paciência e frieza, identificam os pontos vulneráveis da personalidade, bem como as suas más tendências, inclinações inferiores e vícios morais. A partir daí, sugerem pensamentos prejudiciais, alimentam paixões inferiores e, lentamente, levam a vítima ao desequilíbrio.
Para alcançar seus objetivos, os obsessores recorrem a estratégias variadas, muitas vezes influenciando pessoas próximas ao obsidiado, indivíduos com quem ele mantém vínculos afetivos, mas que, por fragilidade moral ou invigilância, tornam-se instrumentos involuntários de perturbação. Por meio dessas influências, surgem convites, sugestões e situações que estimulam a repetição de vícios, a retomada de hábitos prejudiciais e a entrega a comportamentos que comprometem seu equilíbrio.
Considerando tais efeitos, torna-se indispensável refletir sobre as atitudes capazes de restituir a harmonia íntima. Conforme esclarece Manoel Philomeno de Miranda, na obra já mencionada, a superação desse quadro não se dá por soluções externas ou imediatas. Além da reforma íntima, destaca-se a prática da caridade como meio essencial.
A caridade — amor em ação — constitui o esforço mais elevado que o ser humano pode empreender na busca da própria libertação, porque o aproxima intimamente de Jesus, o Cristo de Deus. É dessa sintonia com o Mestre que brotam a coragem e a força necessárias para superar as provas e os obstáculos do caminho.
É importante lembrar, contudo, que a responsabilidade pela desvinculação espiritual é individual e não pode ser delegada. Médiuns, familiares e amigos podem auxiliar, seja por meio de passes, preces ou reuniões de desobsessão, mas a transformação verdadeira depende do próprio obsidiado. Cabe a ele modificar sua conduta, ajustar sua vida social e moral, e empenhar-se, de livre vontade, para sair do abismo em que se deixou cair. Só assim poderá recuperar a sua harmonia e saúde integral (espiritual, física e mental).
Texto extraído do livro Mediunidade com Kardec de Patrick Lima.
Capítulo 7: Obsessões
Pergunta 71: Qual o papel da reforma íntima na superação da obsessão sutil?
Como citar: LIMA, Patrick. Mediunidade com Kardec. Poverello Edições, 2023. 1ª ed.
REFERÊNCIAS
FRANCO, Divaldo Pereira (psicografia). Mediunidade: Desafios e Bênçãos. Manoel Philomeno De Miranda (espírito). Editora LEAL, 2019. KARDEC, Allan. O Livro dos Médiuns. Tradução de Salvador Gentile. 9ª edição. Editora Boa Nova, 2004.


