Mediunidade com Kardec
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- 59. Qual o perigo da vaidade na vida do médium?
Segundo o benfeitor Miramez (livro Médiuns , psicografado por João Nunes Maia), todo homem carrega, naturalmente, o sentimento de ostentação. A ostentação, nesse contexto, é o ato pelo qual o médium busca demonstrar superioridade e se destacar entre os demais, exibindo — com orgulho — seus dons mediúnicos, suas realizações, curas, comunicações recebidas, achando-se porta-voz da verdade absoluta e indiscutível, que sua presença é imprescindível e indispensável, entre outros comportamentos vaidosos ou exibicionistas. Não é a mediunidade que te distingue. É aquilo que fazes dela. (Emmanuel / Chico Xavier) Se o egoísmo, conforme apresentado na codificação, representa uma das grandes chagas da humanidade, a vaidade, para o médium, é o câncer que o corrói e destrói, fanatizando-o e conduzindo-o à ruína. A VAIDADE, SEGUNDO ALLAN KARDEC Em O Evangelho Segundo o Espiritismo , Kardec nos convida a meditar sobre a vaidade e os seus riscos, destacando que o médium que compreende o seu dever, longe de se orgulhar de uma faculdade que não lhe pertence, visto que lhe pode ser retirada, atribui a Deus as boas coisas que obtém. Se as suas comunicações receberem elogios, complementa o codificador, não se envaidecerá com isso, porque as sabe independentes do seu mérito pessoal; agradece a Deus o haver consentido que por seu intermédio bons Espíritos se manifestassem. Se dão lugar à crítica, não se ofende, porque não são obra do seu próprio Espírito. Ao contrário, reconhece no seu íntimo que não foi um instrumento bom e que não dispõe de todas as qualidades necessárias a obstar a imiscuência (impedir a intromissão) dos Espíritos maus. Cuida, então, de adquirir essas qualidades e suplica, por meio da prece, as forças que lhe faltam. FAMA E NOTORIEDADE Para Manoel Philomeno de Miranda, em Mediunidade: Desafios e Bênçãos , pela psicografia de Divaldo Franco, a busca atormentada da notoriedade, da fama, do exibicionismo, constitui terrível chaga moral, que o médium deve cicatrizar mediante a terapia da humildade e do trabalho anônimo. Desse modo, a arrogância, a presunção, a vaidade que exaltam o ego diminuem a qualidade dos ditados mediúnicos de que se faz portador aquele que assim se mantém. Já o benfeitor Miramez, por meio da psicografia de João Nunes Maia, no livro Segurança Mediúnica , nos adverte sobre os perigos e as consequências da vaidade na vida do medianeiro, dos quais destacamos, em síntese: “A vaidade, nos círculos mediúnicos, é fato comum. Os melindres ainda não deixaram de existir entre os companheiros que nos servem de instrumentos. Essas inferioridades são sutis, difíceis de serem registradas por seus possuidores, mas a reforma nunca é impossível, desde que a educação e a disciplina sejam constantes." Em seguida, dando continuidade ao seu pensamento, destaca o autor espiritual: "Deves ter cuidado com a vaidade. Ela é sutil, nos caminhos do iniciado e, muito mais, no iniciando. Mais ainda, ela tem o poder de transformação, para não ser reconhecida como tal. Foge do alarde do que fazes de bom. Não há necessidade de seres reconhecido como bom, como caridoso. A nossa obrigação dispensa toda espécie de vangloria, principalmente a autovalorização. [...] O médium que imagina, visualiza e começa a criar uma autoadmiração, não se lembrou de orar e vigiar. É levado pela falsa superioridade que desemboca na areia movediça.” RECOMENDAÇÕES BÁSICAS Na obra em questão, Miramez finaliza sua exposição oferecendo orientações valiosas sobre como superar a vaidade, o orgulho e outros sentimentos de autoexaltação. A seguir, transcrevemos — em síntese — os tópicos que resumem essas advertências e esclarecimentos. A vaidade orgulhosa faz-nos perder a sensibilidade, como nos desvia a audição e apaga a nossa visão de sorte a não sentirmos, não ouvirmos e não vermos os avisos de vigilância, que vêm de todos os lados. O candidato a médium deve suprimir da sua mente toda ordem de vaidade, todo tipo de impulso que o leva para o orgulho e a prepotência, sempre se esquecendo das ofensas recebidas. Desfaze-te dos pensamentos fixos, principalmente aqueles alimentados pela vaidade e pelo orgulho. Não queiras mostrar que tudo o que fazes é o certo; O homem de conduta reta é sempre abastecido de energias superiores, desde que o orgulho e a vaidade não tomem seu coração. O verdadeiro saber cobre-se com a simplicidade e a discrição. Quase sempre esses médiuns sucumbem, por despertarem em seus sentimentos a vaidade, o orgulho e a autoadmiração. Diante do que foi exposto, podemos concluir que a vaidade constitui uma ameaça significativa à trajetória e à vida do médium. Manifestando-se de forma gradual e silenciosa, esse sentimento/atitude pode levá-lo a um estado de autoengano e autoilusão, abrindo precedentes que culminarão fatalmente em um processo de fascinação e mistificação, tornando-o um joguete dos Espíritos inferiores. MÉDIUNS x ELOGIOS Elogios aparentemente inofensivos, por menores e mais sinceros que possam ser, quase sempre despertam sentimentos de orgulho, vaidade e exaltação em quem os recebe. À vista disso, o médium deve evitar todos os tipos de elogios, bajulações e, principalmente, o endeusamento que frequentemente se apresenta em seu dia a dia. Em única palavra: deves crer que tudo provém de Deus e de seus emissários superiores, sendo ele, o médium, apenas um instrumento a ser manuseado pelas mãos invisíveis da caridade divina, assim como o cirurgião manuseia seu bisturi em prol de ajudar os enfermos. Para ser um bom instrumento, além das diretrizes acima destacadas, o medianeiro deve buscar banir do seu trabalho mediúnico, assim como da sua vida, toda espécie de vaidade e orgulho, abrindo espaço para que a caridade e a humildade se façam cada vez mais presentes no seu íntimo. IMPORTÂNCIA DA HUMILDADE, POR HERMÍNIO C. MIRANDA O autor espírita Hermínio de Miranda, em Diversidade dos Carismas , destaca que são muitos, ainda, os que julgam que basta sentar-se à mesa mediúnica para começar a produzir fenômenos notáveis, receber espíritos elevados, ter vidências espetaculares ou curar doenças irredutíveis. Nada disso. A primeira atitude a adotar-se, seja ou não este conselho tido como "pregação", é a de humildade. Complementando seu pensamento, adverte-nos o autor: " Não pense que sua mediunidade vai abalar o mundo ou servir de veículo a revelações sensacionais. É mais fácil perder-se uma oportunidade de exercício mediúnico razoável pela vaidade do que por qualquer outro obstáculo; e mais desastroso, porque, em vez de uma contribuição modesta, porém positiva, optamos pelo desacerto." Ainda na referida obra, Hermínio esclarece que não é nada difícil para um espírito (ou uma equipe deles) promover fenômenos insólitos em grupamentos humanos despreparados, fazer revelações pessoais, prever acontecimentos de pequena monta, que acabam por ocorrer mesmo, e até promover curas. Por meio de tais artifícios acabam por conquistar a confiança ilimitada dos incautos. Daí em diante, será simples continuidade, impingindo tranquilamente instruções, impondo rituais, formulando doutrinas exóticas, criando até uma nova seita. Por fim, Hermínio C. Miranda conclui o seu raciocínio, afirmando que a habilidade e a malícia de alguns desses espíritos só é superada pela ingenuidade e excesso de confiança dos encarnados que a eles se submetem. Assim sendo, a humildade, a prática constante da caridade e o estudo aprofundado da Doutrina Espírita são as melhores formas que o medianeiro possui de se proteger contra essas influências mistificadoras. A humildade foi uma das virtudes ensinadas e exemplificadas pelo próprio Cristo. Portanto, cabe ao médium compreender que, todo e qualquer indício de vaidade, por menor que seja, é sempre uma porta de entrada para diversos males em sua vida. Logo, o médium que se considera um ser privilegiado, superior aos demais, vaidoso, presunçoso, egoísta e orgulhoso, é, por sua própria natureza, um ser desequilibrado. Essa desarmonia interna o torna suscetível à convivência com entidades mistificadoras, que, em pouco tempo, o levarão ao ridículo, à humilhação, à fascinação e à possessão. Texto extraído do livro Mediunidade com Kardec de Patrick Lima . Capítulo 6: Aspectos Morais da Mediunidade Pergunta 59: Qual o perigo da vaidade na vida do médium? Como citar: LIMA, Patrick. Mediunidade com Kardec. Poverello Edições, 2023. 1ª ed. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS MAIA , João Nunes (psicografia). Médiuns. Miramez (espírito). Fonte Viva, 19ª edição, 2017. KARDEC , Allan. O Evangelho Segundo o Espiritismo. Tradução de Salvador Gentile. 21ª edição. Editora Boa Nova, 2017. FRANCO , Divaldo Pereira (psicografia). Mediunidade: Desafios e Bênçãos. Manoel Philomeno De Miranda (espírito). Editora LEAL, 2019. MIRANDA , Hermínio C. Diversidade dos Carismas. LACHATRE, novembro de 2019, 9ª edição.
- 66. Como saber se o que estou sentindo é físico ou espiritual?
A nuvem de testemunhas descrita pelo apóstolo Paulo em Hebreus 12:1 faz referência, segundo a literatura espírita, aos Espíritos que nos observam constantemente, independentemente de onde estivermos. Isto é, homens e Espíritos transitam acotovelando-se sem cessar ( O que é o Espiritismo? ) ; ou de forma mais clara: há Espíritos em todos os lugares, visto que a matéria não lhes oferece barreiras ( O Livro dos Espíritos , questão 91) Como identificar se a origem do que sinto é física ou espiritual? Também podemos afirmar que cada ambiente se encontra impregnado por fluidos que podem ser salutares ou perniciosos, conforme o padrão de pensamento emitido por seus frequentadores ou moradores¹. Os encarnados, por sua vez, apresentam suas mazelas físicas e mentais, que se manifestam na forma de energias (revelando o seu estado íntimo), influenciando o ambiente e as pessoas ao seu redor. Já os Espíritos, quando se aproximam dos encarnados, transmitem impressões condizentes com o seu estado evolutivo. Os bons apresentam sempre uma sensação agradável, enquanto que os menos elevados são percebidos pelo desconforto (mal-estar) que costumam irradiar. Contudo, a maneira como essas energias são percebidas varia de pessoa para pessoa, sendo que algumas — como os médiuns ostensivos — possuem uma sensibilidade maior para captar e interpretar essas impressões. Segundo Hermínio Corrêa de Miranda, em Diversidade dos Carismas , os médiuns são sensíveis não apenas aos seres desencarnados, mas também às pressões e sentimentos, mesmo não expressos, das pessoas encarnadas que os cercam durante o trabalho. Ao médium recai a responsabilidade de discernir quanto a origem das sensações que registra. MEDIUNIDADE OU DOENÇA FÍSICA? No livro Plantão de Respostas — Pinga Fogo II , Chico Xavier e Emmanuel, seu mentor espiritual, abordam a importância da educação mediúnica como um caminho para distinguir as percepções espirituais dos sintomas relacionados a doenças físicas: A segurança em distinguir os efeitos da mediunidade dos sintomas de doenças físicas, só pode ser alcançada com a educação da própria mediunidade. O ideal é que inicialmente se procure um médico para certificar-se que o mal não é físico e, uma vez confirmada a inexistência de doença, deve-se procurar a orientação espiritual. A experiência tem demonstrado diversas situações em que a medicina convencional não conseguiu diagnosticar com precisão certos problemas de saúde, mesmo após o uso dos mais sofisticados exames e protocolos disponíveis. Sem alternativas viáveis dentro das ciências médicas, muitos pacientes encontraram, por meio da orientação espiritual — nas casas espíritas — o diagnóstico real dos males que os afligiam. É prudente alertar que o enfermo não deve, sob nenhuma circunstância, interromper seu tratamento médico convencional para se limitar exclusivamente ao tratamento espiritual ou a qualquer outra abordagem terapêutica, integrativa ou holística. O mais adequado, nesses casos, é que o acompanhamento dos médicos terrestres seja mantido ao longo de todo o tratamento espiritual. COMO DISTINGUIR CADA SENSAÇÃO? A célebre frase "conhece-te a ti mesmo" possui grande relevância para aqueles que buscam iniciar a sua reforma íntima. Quanto mais uma pessoa se conhece, mais facilmente ela percebe as próprias imperfeições, o que a leva a corrigir os seus defeitos — quando disposta a se melhorar — e a domar as suas más inclinações. Em vista disso, um médium experiente, que já conhece a sua forma de pensar e agir, ao se deparar com ideias que não condizem com seu padrão habitual, costuma se questionar: O que estou sentindo tem uma causa física, orgânica? Trata-se de uma influência espiritual? Será o reflexo da egrégora do ambiente ou algo anímico (uma criação da minha própria mente)? O autoconhecimento, aliado à educação mediúnica, constitui a chave essencial para que o médium identifique as diversas influências que atuam sobre ele. À medida que se aprofunda nos estudos espíritas e exerce corretamente sua mediunidade, o medianeiro desenvolve a habilidade de perceber e lidar com diferentes tipos de fluídos. Com isso, adquire uma sensibilidade mais apurada, que lhe permite reconhecer com maior clareza as energias e as entidades com as quais entra em contato. Clarificando nossa linha de raciocínio, Kardec, em um diálogo com o Espírito de Santo Agostinho, registrado nas questões 919 e 919-a de O Livro dos Espíritos , faz as seguintes indagações: — Qual é o meio prático mais eficaz para se melhorar nesta vida e resistir ao arrastamento do mal? Um sábio da Antiguidade vos disse: Conhece-te a ti mesmo. — Compreendemos toda a sabedoria dessa máxima, mas a dificuldade está precisamente em se conhecer a si próprio. Qual o meio de chegar a isso? Fazei o que eu fazia quando vivi na Terra: no fim de cada dia, interrogava a minha consciência, passava em revista o que havia feito e me perguntava a mim mesmo se não tinha faltado ao cumprimento de algum dever, se ninguém teria tido motivo para se queixar de mim. Foi assim que cheguei a me conhecer e a ver o que em mim necessitava de reforma. Aquele que todas as noites lembrasse todas as suas ações do dia e se perguntasse o que fez de bem e de mal, pedindo a Deus e ao seu anjo guardião que o esclarecessem, adquiriria uma grande força para se aperfeiçoar, porque, acreditai-me, Deus o assistirá. É importante destacar que não existe uma fórmula única e infalível para distinguir com precisão as sensações registradas pelos médiuns. No entanto, como mencionamos anteriormente, é por meio do autoconhecimento e do estudo da própria mediunidade que o médium adquirirá a confiança necessária para alcançar o propósito exposto. ¹Esse fenômeno, popularmente conhecido como egrégora , será abordado em maior profundidade na questão 96. Texto extraído do livro Mediunidade com Kardec de Patrick Lima . Capítulo 7: Obsessões Pergunta 66: Como saber se o que estou sentindo é físico ou espiritual? Como citar: LIMA, Patrick. Mediunidade com Kardec. Poverello Edições, 2023. 1ª ed. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BÍBLIA DE JERUSALÉM . Hebreus 12:1. 14ª impressão. Editora PAULUS, 2017. KARDEC , Allan. O que é o Espiritismo. Tradução de Evandro Noleto Bezerra. FEB Editora, 2016. KARDEC , Allan. O Livro dos Espíritos. Tradução de Guillon Ribeiro. FEB; 93ª edição. Rio de Janeiro, 2014. MIRANDA , Hermínio C. Diversidade dos Carismas. LACHATRE, novembro de 2019, 9ª edição. XAVIER , Francisco Cândido. Plantão de Respostas - Pinga Fogo II. Ceu, 2015.
- 44. "Kardecista" é um termo redundante?
Allan Kardec, ao ser confrontado por um visitante que o referenciava como o criador de um sistema filosófico – conforme relatado na obra O que é o Espiritismo – enfatizou que o Espiritismo tem auxiliares de maior preponderância , e que ele, se comparado a esses auxiliares, seria apenas um átomo . Dessa forma, Kardec reafirma que o espiritismo é uma doutrina originária dos Espíritos e não de um homem (referindo-se a si próprio), e adverte que, nesse caso, jamais se poderia dizer: a doutrina de Allan Kardec . "Kardecista" é um termo redundante? Afinal, por que os termos kardecista e espiritismo de mesa branca são usados atualmente? Existe um kardecismo ou diferentes tipos de espiritismo? NEOLOGISMOS CRIADOS POR KARDEC O patriarca do espiritismo criou uma série de neologismos – tais como espiritismo, espíritas, espiritistas, perispírito , dentre outros – para que estes termos pudessem expressar uma ideia nova e assim, não serem confundidos com as ideologias em voga, a exemplo do espiritualismo moderno. Esses vocábulos podem ser mais facilmente encontrados a partir de 18 de abril de 1857, data de lançamento de O Livro dos Espíritos , momento este que marca o nascimento do espiritismo na França. Porém, aqui chamamos a atenção para o ano de 1854, em especial para o livro The Spirit-Rapper, do americano Orestes Augustus Brownson, que anterior ao lançamento da obra primeira de Allan Kardec (1857), já trazia termos semelhantes ao adotado pelo codificador francês. Ao total são 9 menções ao termo spiritists e 15 para spiritualists . Para aprofundarmos nossa compreensão, analisemos o trecho a seguir (p. 311) da obra supracitada de Orestes Augustus Brownson, com destaque para os termos em negrito. The Spiritualists or Spiritists do not deny they assert that the manifestations they witness are strictly anal ogous to the class of facts which have been always re garded as Satanic At first the spirits communicated by rapping and moving furniture But now besides rapping mediums there are writing mediums seeing mediums and speaking mediums . Os espiritualistas ou espíritas não negam, eles afirmam que as manifestações que testemunham são estritamente análogas à classe de fatos que sempre foram considerados satânicos. No início, os espíritos se comunicavam batendo e movendo móveis. Mas agora, além de médiuns que batem, há médiuns escreventes, médiuns videntes e médiuns falantes. Em 1854, havia nos Estados Unidos uma onda espiritualista em ascensão, devido aos últimos acontecimentos de Hydesville (iniciados em 1844, ganhando maior amplitude em 1847 com a chegada da família Fox). Observando o texto acima ( The Spirit-Rapper ) iremos constatar que os vocábulos spiritualists or spiritists (espiritualistas ou espíritas) eram equivalentes em seu significado, tidos na época como sinônimos. Ou seja, na língua inglesa, em meados de 1854, as palavras espiritualistas e espíritas possuíam o mesmo significado, conceito ou definição. Essa onda espiritualista passou da América do Norte para a Europa, fase esta em que surgiram as primeiras notícias sobre as mesas-girantes nas terras do velho mundo. Através das mesas-girantes, como bem sabemos , surgiu o Espiritismo ( vide questão 01 ). Ao leitor atento, será possível perceber que as ideias de comunicação entre os dois planos já eram anteriores a Kardec, sendo estudadas e observadas por diversos outros autores e pesquisadores ao longo dos milênios. Com isso, ao começar seus estudos sobre os fenômenos em questão, Allan Kardec (que era fluente em diversos idiomas, inclusive o inglês) teve a oportunidade, acreditamos nós, de perceber a similaridade dessas palavras e, sabiamente, ao escrever em sua língua nativa, criou neologismos – adaptando-os para o francês –, dando-lhes um significado mais específico, justamente para que não houvessem erros de interpretação quanto aos conceitos apresentados ao longo de suas obras. Sim! Kardec criou termos novos – em francês – para especificar conceitos próprios. Mas qual a origem etimológica desses vocábulos em análise? Atentando ao radical – em negrito – dos termos inicialmente em inglês, poderemos verificar de onde, provavelmente, cada palavra foi originária. Exemplos: Spirit ist (inglês) e Spirit es (francês) Spiritualist s (inglês) e Spiritualist es (francês) Não é de se admirar que o filho de Lyon, ao perceber a imprecisão na qual os termos originários eram empregados em solo americano, passou a dar-lhes um significado mais claro e definido, diferenciando os termos já existentes na língua inglesa dos seus neologismos adaptados para o francês. Desse modo, asseverou sabiamente que todo espírita era espiritualista, mas nem todo espiritualista era espírita. Aos espíritas mais ortodoxos, essas informações podem não ser muito bem-vindas. Mas calma, isso não tira nenhum mérito do exímio codificador. A língua está em constante transformação e é natural que ela se modifique e vá ganhando novas grafias e significados. Salvo raríssimas exceções, todas as palavras que conhecemos hoje tem sua raiz etimológica em alguma outra, a exemplo do vocábulo perispírito que é formada pela junção dos elementos peri (prefixo grego que significa em torno de ou ao redor de ) e spiritus (palavra latina que significa espírito, sopro , alma ) – resultando em um termo que significa, literalmente, em torno do espírito ou envoltório do espírito . ESPÍRITAS KARDECISTAS Ao longo de toda codificação, encontraremos uma única menção – Revista espírita de 1865 – ao termo kardecista. No artigo intitulado Partida de um adversário do Espiritismo para o mundo dos Espíritos, o então padre (o adversário) recém-desencarnado ao ser evocado por Allan Kardec, ressalta: '" Já se operaram divisões entre vós. Existem duas grandes seitas entre os espíritas: os espiritualistas da escola americana e os espíritas da escola francesa. Mas consideremos apenas esta última. Ela é una? Não. Eis, de um lado, os puristas ou kardecistas , que só admitem uma verdade depois de um exame atento e da concordância com todos os dados;" Após a comunicação do padre, Kardec disserta sob as diversas objeções destacadas pelo recém-desencarnado, clarificando ponto a ponto as questões levantadas. Contudo, há uma delas que o codificador não chegou a refutar, nesse caso, nos referimos aos termos puristas ou kardecistas manifestado pelo pároco. Sabemos bem que Kardec priorizava o uso correto das palavras (para evitar dúvidas ou ambiguidade), e nesse caso, não havendo contestação direta por parte do autor, compreendemos que o codificador da doutrina aceitou a definição do termo kardecista ou purista para representar os espíritas que só admitem uma verdade depois de um exame atento e da concordância com todos os dados. O vocábulo kardecista, desse modo, não entra em contradição com a fala anterior de Kardec – encontrada em O que é o Espiritismo –, ao advertir que jamais poderíamos nos referir ao espiritismo como a doutrina de Allan Kardec. De fato, a doutrina tem como origem os ensinos dos Espíritos, sendo Kardec o seu fiel codificador, o bom-senso encarnado, segundo os dizeres do astrônomo francês e autor espírita, Camille Flammarion. Não se contradiz, pois o termo kardecista aqui exposto não infere que a doutrina seja de Allan Kardec, criada por ele, sendo obra de um homem encarnado, mas sim, como uma definição mais específica dentre os diversos tipos, graus ou variações de adeptos do Espiritismo. O kardecista é, portanto – seja na época de Kardec, como na atualidade –, aquele que segue o modus operandi ensinado pelo codificador, isto é, aquele que adota uma postura cautelosa em relação à aceitação das variadas informações fornecidas pelos Espíritos e os demais autores/pesquisadores (encarnados e desencarnados). O modus operandi usado por Kardec, ou melhor, o seu método científico, popularmente conhecido como Controle Universal do Ensino dos Espíritos, se baseia na universalidade das informações. DIFERENÇAS ENTRE CADA TERMO Vale recordar que até recentemente os censos demográficos realizados pelo IBGE – e algumas outras pesquisas – compreendiam as religiões e doutrinas de cunho espiritualistas (ou mediúnicas) como partes de um todo. Ao se declarar espírita , o indivíduo tinha de descrever – em seguida – a qual categoria pertencia, se era espírita kardecista ou de mesa branca, umbandista, candomblecista, etc. Nós dias atuais ainda há quem confunda, por falta de conhecimento ou má vontade, as religiões e doutrinas mediúnicas. Para estes o espiritismo e os demais segmentos espiritualistas formam – ou são – uma única vertente. Ilustrando esta explanação, podemos citar as livrarias ou sites de livros que, ainda na atualidade, vendem sob o letreiro obras espíritas uma infinidade de títulos pertencentes a outras denominações mediúnicas, incluindo temas como magia, bruxaria, simpatias, esoterismo, teosofia, etc. Tais representantes comerciais, assim como a grande parcela da população, enxergam o espiritismo e as demais religiões mediúnicas como partes de um mesmo pacote, sendo a nomenclatura espírita escolhida para representar todos esses segmentos. Desse modo, tudo indica que, pela herança cultural, os termos kardecistas e espiritismo de mesa branca passaram a ser utilizados – com mais frequência no Brasil, perdurando até os dias atuais – para distinguir o espiritista (adepto do espiritismo) dos demais seguidores de outros segmentos, como o próprio espiritualismo, a umbanda, candomblé, etc. Nesse contexto, a expressão kardecista ganha sentido diverso – e mais abrangente – do significado original. De modo sucinto, o espiritismo puro não tem nenhuma ligação com cartas de tarô, búzios, trabalhos de amarração amorosa, de feitiçaria, simpatias, adivinhações, aberturas de caminho, imolação de animais ou cobranças de qualquer espécie. Todas essas práticas não são condizentes com a doutrina espírita, bem como as diretrizes deixadas por Kardec ao longo das suas obras. QUEM É QUEM? Espírita ou espiritista é todo aquele que concorda ou simpatize com, pelo menos, uma parte dos princípios fundamentais do espiritismo, tais como: existência de Deus; imortalidade da alma; reencarnação; pluralidade dos mundos habitados; comunicação com os Espíritos; lei de causa e efeito; etc. No último capítulo (Conclusão) de O Livro dos Espíritos , Kardec classifica os espíritas, dividindo-os em três classes ou graus, sendo: ESPÍRITAS EXPERIMENTADORES - PRIMEIRA CLASSE São aqueles que acreditam nas manifestações dos espíritos e se limitam a comprová-las. Para esses, o Espiritismo é essencialmente uma ciência experimental. Estão interessados nos fenômenos mediúnicos e buscam evidências concretas da existência e comunicação dos espíritos. ESPÍRITAS IMPERFEITOS - SEGUNDA CLASSE São os que percebem as consequências morais do Espiritismo e entendem que os ensinamentos dos espíritos têm implicações éticas e comportamentais. Em outras palavras, são os simpatizantes da filosofia espírita. No entanto, embora reconheçam a importância da moral espírita, ainda não a praticam de forma completa ou constante. ESPÍRITAS VERDADEIROS OU CRISTÃOS - TERCEIRA CLASSE São aqueles que não apenas compreendem e aceitam as consequências morais do Espiritismo, mas também se esforçam por praticar essa moral em suas vidas (transformação moral). Esses espíritas aplicam os ensinamentos de caridade, amor ao próximo, humildade e reforma íntima em sua conduta diária. O Kardecista ou purista , isto é, aquele que só admite uma verdade depois de um exame atento e da concordância com todos os dados, tendo como modus operandi o método científico ensinado por Kardec (Controle Universal do Ensino dos Espíritos), pode estar associado a qualquer uma das classes ou graus acima. Em suma, espírita ou kardecista é o adepto do espiritismo, doutrina codificada por Allan Kardec; assim como, os umbandistas são os que seguem a umbanda; candomblecistas os que são partidários do candomblé; quimbandeiros os adeptos da quimbanda; daimistas os que seguem o santo daime; catimbozeiros os sectários do catimbó; etc. Todos esses segmentos possuem a mediunidade como ponto em comum, mas apesar de qualquer similaridade que eventualmente possa existir, cada religião ou doutrina acima descrita é única no seu modo de proceder ou, ainda mais claro, são diferentes entre si. TERMO REDUNDANTE? Com o advento do Espiritismo no Brasil, ainda em meados do século XIX, diversos grupos espíritas surgiram, impulsionados pelas notícias e relatos das mesas-girantes na Europa e pela difusão das ideias espíritas nos jornais da época. Estudos históricos sobre os grupos espíritas recém-formados revelam uma diversidade de pensamentos e práticas peculiares a cada um deles. Havia grupos que se interessavam apenas pela parte experimental do espiritismo; outros se dedicavam exclusivamente à prática da caridade; alguns não viam necessidade no uso da prece; enquanto outra parcela considerava que a comunicação com os Espíritos não era mais necessária... Tais divergências de interpretações ainda perduram na atualidade, o que fez com que a parcela dos espíritas que zelam pela pureza doutrinária das obras e ensinos de Kardec, isto é, aqueles que seguem o método científico proposto pelo codificador , só admitindo uma verdade depois de um exame atento e da concordância com todos os dados, passasse a usar o termo kardecista de forma explícita e proposital, a fim de se distinguirem dos adeptos do espiritismo à brasileira (os espíritas que não seguem o controle das informações ensinado e adotado por Kardec). Além disso, devido a inúmeros fatores como o sincretismo religioso e os preconceitos enraizados em nossa cultura, a doutrina dos espíritos – codificada por Allan Kardec – é sempre vista de forma generalizada, como se abrangesse uma gama de outras doutrinas e religiões mediúnicas, mesmo não tendo nenhuma similaridade em seu modo de atuação com essas demais vertentes. Desse modo, a expressão kardecista também é usada – no Brasil – para representar o adepto do espiritismo (seja ele pertencente a quaisquer uma das classes ou graus expostos pelo codificador), distinguindo-o dos demais partidários de outros segmentos, como umbanda, candomblé, etc. Sendo assim, não há nenhuma redundância ao usar o termo kardecista para se referir a alguém que é adepto do espiritismo dentro desses contextos apresentados. Ainda hoje esse tema gera bastante efervescência entre os espíritas de diversos graus, porém, desde que pautados no respeito e no amor, todos os estudos acerca desse tópico são válidos. COMPARAÇÃO ENTRE OS TERMOS | EN - FR - PT Vejamos a comparação entre as duas línguas – inglês e francês – usadas pelos autores acima descritos, além de sua tradução para o português: INGLÊS FRANCÊS PORTUGUÊS Spiritists Spirites Espíritas Spiritualists Spiritualistes Espiritualistas KARDEC CRIOU O TERMO MÉDIUM ? Embora Kardec nunca tenha reivindicado a autoria do termo médium , muitos são os estudantes espíritas que acreditam ser esse mais um dos neologismos criados pelo codificador. Vale destacar que o vocábulo médium já era empregado por diversos autores antes mesmo do surgimento do espiritismo em 1857. Na obra supracitada de Orestes Augustus Brownson (1854), os termos médium e médiums aparecem 23 vezes; em 1853, o químico e físico americano Robert Hare publicou a obra Experimental Investigation of the Spirit Manifestations , na qual a palavra médium é usada para descrever aqueles que se comunicam com os espíritos. Nesse mesmo sentido – em eras recuadas, anteriores a Kardec –, também encontraremos o termo apresentado sendo referenciado em obras ocultistas e místicas, assim como, textos que tratam de magia, teosofia e outras práticas esotéricas. CONTROLE UNIVERSAL DO ENSINO DOS ESPÍRITOS Em um breve resumo (sem esgotarmos o tema), podemos dissertar que o controle universal proposto por Kardec, no qual as suas obras se baseiam, tem como norte: a análise crítica e minuciosa das mensagens transmitidas pelos Espíritos, buscando assim, evitar possíveis contradições e deturpações. a comparação das mensagens recebidas por diversos médiuns (de diferentes localidades), acerca dos mesmos temas; a similaridade entre as mensagens (quando provenientes de fontes confiáveis, devem apresentar concordância entre si, não havendo espaço para contradições); o discernimento perante a qualidade das comunicações (se são mensagens confiáveis, anímicas ou mistificadoras); o uso da razão, bom senso e coerência; conformidade com as leis universais (as mensagens eram avaliadas em sua consonância com as leis naturais e morais). De modo prático, o codificador comparava as mensagens de diferentes médiuns e Espíritos, buscando por concordância em suas ideias e princípios; submetia as mensagens à análise racional, descartando aquelas que contrariassem o bom senso, a lógica e os conhecimentos científicos da época. Somente após um controle rigoroso e sistemático é que Kardec acrescentava tais mensagens/ensinos em suas obras. As ideias presentes nas obras da codificação eram frequentemente confrontadas com novas mensagens mediúnicas, buscando confirmação ou refutação. Um dos exemplos mais notáveis da aplicação do Controle Universal do Ensino dos Espíritos por Kardec se encontra em O Livro dos Espíritos, ou melhor, nos bastidores de como essa obra foi criada. Ao reunir as respostas dos Espíritos sobre variados temas, o autor identificou algumas contradições e inconsistências. Através de um processo minucioso de análise e confronto, Kardec refez diversas perguntas aos Espíritos, buscando elucidar as dúvidas e aprimorar a clareza das informações. Essa postura crítica e metódica foi essencial para a construção de uma obra sólida e confiável, que se tornou um dos pilares da doutrina espírita. O mestre de Lyon, por meio de sua aplicação exemplar do Controle Universal do Ensino dos Espíritos, legou um modelo de análise crítica fundamental para o estudo e a prática da doutrina espírita. Todavia, será que ainda podemos afirmar que esse controle proposto, usado e ensinado por Kardec, ainda está em voga no seio do Espiritismo brasileiro, ou de forma específica, se algum dia esse modelo foi utilizado pelos espíritas brasileiros? ATUALIZAÇÃO DAS OBRAS DE KARDEC? Aqui não estamos propondo nenhuma modificação em relação a nomenclatura ou quaisquer alterações ou atualizações nas obras deixadas por Kardec, seus ensinos ou outras diretrizes kardequianas. Ao trazermos essa reflexão, objetivamos apenas entender, se assim tivermos condições, uma fresta do pensamento proposto pelo codificador, assim como, compreender o processo historiográfico do espiritismo no Brasil, além de buscar diferenciar as instituições que seguem o modelo proposto por Kardec (do controle universal das informações) das demais vertentes ou ramificações (mesmo que temporárias) que também atendem pela bandeira ou ideal espírita. Texto extraído do livro Mediunidade com Kardec de Patrick Lima . Capítulo 4: O Médium e a Casa Espírita Pergunta 44: "Kardecista" é um termo redundante? Como citar: LIMA, Patrick. Mediunidade com Kardec. Poverello Edições, 2023. 1ª ed. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS KARDEC , Allan. O que é o Espiritismo. Tradução de Evandro Noleto Bezerra. FEB Editora, 2016. BROWNSON , Orestes Augustus. The Spirit-Rapper. Hardpress Publishing, 2020. KARDEC , Allan. O Livro dos Espíritos. Tradução de Guillon Ribeiro. FEB; 93ª edição. Rio de Janeiro, 2014. KARDEC , Allan. O Evangelho Segundo o Espiritismo. Tradução de Salvador Gentile. 21ª edição. Editora Boa Nova, 2017. KARDEC , Allan. Revista Espírita – Jornal de estudos psicológicos – outubro de 1865. Tradução de Julio Abreu Filho. Edicel, 1ª edição, julho de 2002.
- 65. Os Espíritos podem influenciar nossos atos e pensamentos?
De início, pode parecer preocupante a ideia de que estamos sendo guiados ou manipulados por Espíritos. A palavra influenciação também pode nos causar certo estranhamento, especialmente quando lembramos que influenciar , de acordo com alguns dicionários, é uma ação psicológica em que uma pessoa é induzida a realizar algo, adotar uma conduta ou formar uma opinião específica. Sobre este tema, na questão 459 de O Livro dos Espíritos , Kardec pergunta se os Espíritos influenciam nossos pensamentos e ações. Mais do que imaginais, respondem os benfeitores, pois com bastante frequência são eles que vos dirigem. No capítulo II da obra O que é o Espiritismo? , o codificador destaca que os Espíritos estão em toda parte, ao nosso lado, acotovelando-nos e observando-nos sem cessar. Essa é, sem dúvidas, aquela nuvem de testemunhas mencionadas por Paulo em Hebreus 12:1. É justamente essa nuvem de testemunhas — presente em nosso dia a dia — que pode nos influenciar, atraída por nossos pensamentos, gostos e ações. Tal influência pode ser positiva ou negativa, a depender da categoria dos Espíritos com os quais estamos em sintonia ( vide questão 56 ). INSPIRAÇÃO, SEGUNDO KARDEC Em O Livro dos Médiuns , item 183, Kardec pergunta: — Qual é a causa primeira da inspiração? Espírito que se comunica pelo pensamento. — A inspiração tem por objeto apenas a revelação de grandes coisas? Não. Ela tem, muitas vezes, relação com as circunstâncias mais comuns da vida. Por exemplo, você quer ir a alguma parte: uma voz secreta diz para não ir, porque há perigo, ou então, essa voz diz para fazer uma coisa na qual você nem pensava; é a inspiração. Há bem poucas pessoas que não tenham sido mais ou menos inspiradas em certos momentos. Os termos inspiração e influênciação podem ser considerados sinônimos no contexto espírita, sobretudo ao nos referirmos ao modo pelo qual os Espíritos atuam em nosso cotidiano, conduzindo-nos tanto para o bem quanto para o mal. Sob essa ótica, conclui-se que todos os indivíduos, em algum momento, já foram influenciados — positiva ou negativamente — pelos Espíritos. Contudo, é essencial reconhecer que, apesar dessas influências, somos os principais responsáveis por nossas escolhas. TUDO É CULPA DOS ESPÍRITOS? É comum observar indivíduos que, negligenciando a autorresponsabilidade, atribuem seus erros exclusivamente à influenciação espiritual, justificando — de forma simplista — que determinadas situações ocorreram devido a um processo obsessivo. A verdade é que, mesmo que a influência exista, a decisão de ceder a ela é sempre nossa. A obsessão não é unilateral e só se consolida quando há afinidade entre obsessor e obsidiado, ambos compartilhando os mesmos gostos, prazeres e inclinações. Nessa dinâmica, a influenciação torna-se recíproca (simbiose), não sendo mais possível determinar quem influencia quem. OBSESSÃO ENTRE ENCARNADOS É justo mencionarmos que essa influência também ocorre entre encarnados. Dependendo da intensidade e da persistência dessa atuação, esse comportamento pode ser classificado como um processo obsessivo na categoria encarnado para encarnado . Conforme a médium e escritora espírita Suely Caldas Schubert menciona em sua obra Obsessão/Desobsessão: Profilaxia e Terapêutica Espíritas , a obsessão entre encarnados é um fenômeno frequente. A autora descreve que tal obsessão se caracteriza pelo controle mental que uma pessoa exerce sobre a outra, frequentemente mascarado como afeto ou proteção. Contudo, essa forma de amor apresenta-se como possessiva e sufocante, resultando na restrição da liberdade do indivíduo alvo dessa influência. Sentimentos como ciúmes, ódio, inveja, paixão, orgulho ou desejo de poder estão intimamente relacionados a essa modalidade obsessiva. A pessoa sob controle, frequentemente, não reconhece que está sendo manipulada, acreditando que tais ações decorrem de um excesso de afeto. Nesse ponto, o controle e a perseguição continuam no mundo espiritual, quando ambos estão dormindo, parcialmente desprendidos do corpo físico. Em outras ocasiões, são rivais que, em estado de vigília (acordados), frequentemente emitem fluidos perniciosos uns contra os outros, e, durante o sono, no processo de desdobramento, buscam-se mutuamente para dar continuidade às suas desavenças. Além disso, existem pessoas que entendem como os processos de influência funcionam e, aproveitando seu poder magnético e hipnótico, usam isso de forma consciente para obter vantagens. Essas pessoas, dotadas de um vasto conhecimento em magia e manipulação energética, ao desencarnarem, são conhecidas como magos e feiticeiros. No plano espiritual, continuam a influenciar negativamente suas vítimas, agora com maior liberdade ( vide questão 62 ). Falaremos mais sobre este tópico na questão 71, ao tratarmos das diferentes modalidades de obsessão. RECONHECENDO NOSSOS PENSAMENTOS A respeito dessa temática, o autor Hermínio C. Miranda, em Diversidade dos Carismas , afirma: “Quando a emissão de pensamentos alheios nos alcança, eles se misturam sutilmente aos nossos a ponto de nem sempre conseguirmos distinguir uns dos outros . Sabendo disso é que os espíritos conseguem nos influenciar, seja com pensamentos positivos e construtivos, seja com ideias negativas. Só com alguma experiência e acurado senso analítico podemos identificar ideias alheias na correnteza normal dos nossos pensamentos...” Não há um critério evidente para identificar, de forma imediata, o que vem da nossa mente e o que é influência espiritual. Apenas o autoconhecimento permitirá essa distinção. Portanto, cabe a cada pessoa, por meio de suas experiências, observar a qualidade de seus pensamentos, seus padrões mentais e comportamentais, bem como a reação a cada impulso que recebe, independentemente de sua origem. Alguns médiuns relatam que, em determinadas circunstâncias, os pensamentos sugeridos pelos Espíritos inferiores podem parecer pesados e grosseiros, como se a ideia ou imagem em questão tivesse invadido sua mente de forma abrupta (violenta). Já os pensamentos dos Espíritos superiores tendem a ser mais suaves e delicados. Como a sensibilidade varia de pessoa para pessoa, cada indivíduo perceberá essas influências de maneira única, com base em suas próprias experiências (sensações) e no autoconhecimento. Texto extraído do livro Mediunidade com Kardec de Patrick Lima . Capítulo 7: Obsessões Pergunta 65: Os Espíritos podem influenciar nossos atos e pensamentos? Como citar: LIMA, Patrick. Mediunidade com Kardec. Poverello Edições, 2023. 1ª ed. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS KARDEC , Allan. O Livro dos Espíritos. Tradução de Guillon Ribeiro. FEB; 93ª edição. Rio de Janeiro, 2014. KARDEC , Allan. O que é o Espiritismo. Tradução de Evandro Noleto Bezerra. FEB Editora, 2016. BÍBLIA DE JERUSALÉM . Hebreus 12:1. 14ª impressão. Editora PAULUS, 2017. KARDEC , Allan. O Livro dos Médiuns. Tradução de Salvador Gentile. 9ª edição. Editora Boa Nova, 2004. SCHUBERT , Suely Caldas. Obsessão/desobsessão: Profilaxia e Terapêutica Espíritas. 2ª edição. FEB Editora, 2015. MIRANDA , Hermínio C. Diversidade dos Carismas. LACHATRE, novembro de 2019, 9ª edição.
- 64. Jesus Cristo era médium? Existe médium perfeito?
Muitos podem se perguntar: Jesus, o Espírito mais puro e elevado que já passou pela Terra, poderia ser considerado um médium? Em caso afirmativo, devido à sua perfeição moral, seria ele, então, um médium perfeito? A resposta para essa questão pode ser encontrada no capítulo XV de A Gênese , onde Kardec esclarece, de forma categórica, que Jesus não se qualificaria como médium, pois o médium é um intermediário, um instrumento dos Espíritos desencarnados. O Cristo, por sua vez, não necessitava de assistência, pois era Ele quem assistia aos outros. Concluindo seu pensamento, o mestre lionês questiona: qual Espírito teria a audácia de insuflar seus próprios pensamentos na mente do Cristo, incumbindo-o de os transmitir? Se Jesus recebia algum influxo estranho, esse só poderia vir de Deus. De acordo com a definição de um Espírito, Ele, o Cristo, era médium de Deus. EXISTE MÉDIUM PERFEITO? Os Espíritos superiores afirmaram a Allan Kardec, em O Livro dos Médiuns , capítulo XX, que a perfeição não existe na Terra e, por conseguinte, também não há médium perfeito. Eles explicaram que, em vez de perfeito , é mais adequado utilizar o termo bom médium , o que já é algo notável, dado que são poucos os que atingem essa qualidade. O médium perfeito seria alguém contra quem os maus Espíritos jamais ousariam agir ou enganar. MÉDIUNS FAMOSOS, MAS NÃO INFALÍVEIS Entretanto, no meio espírita, é comum ouvir de alguns adeptos, especialmente entre os menos experientes ou aqueles que permanecem empolgados com os fenômenos mediúnicos, afirmações como: Tal pessoa é um grande médium, pois recebe comunicações de várias entidades e percebe a presença dos Espíritos onde quer que esteja. Mediunidade é grandeza? Existem grandes médiuns? Há quem acredite que o médium X ou Y seja infalível e perfeito. Essa percepção — equivocada — geralmente se apoia em fatores como sua fama, a vasta produção psicográfica, as obras assistenciais realizadas, a quantidade de palestras proferidas, as homenagens e títulos recebidos, entre outros destaques midiáticos. Tal crença é ainda reforçada pelo nome do guia espiritual que os acompanha, sobretudo se este for reconhecido como uma personalidade de destaque no movimento espírita. Por mais adiantado e moralmente evoluído que o médium seja, bem como pela qualidade e envergadura de seus guias e protetores espirituais, há diversos fatores que contribuem para erros e equívocos no processo mediúnico. Dentre eles, podemos destacar: O personalismo, levando à inserção de ideias pessoais nas mensagens mediúnicas; O animismo, inerente a toda comunicação mediúnica; A mistificação, que se distingue do animismo; As influências energéticas do ambiente; As interferências provenientes de encarnados e desencarnados; Os impactos causados por abalos emocionais e psíquicos; etc. O MÉDIUM NÃO É UM SEMIDEUS Sobre este assunto, a médium e escritora espírita Yvonne do Amaral Pereira, em À Luz do Consolador , afirma que o médium não é criatura infalível, semideus que pudesse vencer todas as dificuldades para estar ininterruptamente harmonizado com as forças superiores. Às vezes, até será bom que certas dificuldades e decepções o surpreendam, a fim de que não advenham a presunção e a vanglória e ele se esforce sempre por melhorar os próprios atributos e obter possibilidades de intercâmbio mais ou menos permanentes com as esferas iluminadas. Dando continuidade, Yvonne reitera que o médium, em vez de ser uma personagem infalível, é um ente humano como outro qualquer. [...] Por isso mesmo não será motivo para escândalo ou desilusão se um ou outro médium deixar de apresentar testemunhos intercambiais verdadeiramente perfeitos com o Além, se nos lembrarmos de que até o local, o ambiente onde se exerça o mistério augusto, muitas vezes poderá influir nas comunicações recebidas. Ainda na referida obra, a autora reforça que o médium é apenas um aparelho receptor de pensamentos e forças psíquicas alheios. Estas, porém, tanto poderão provir de Espíritos esclarecidos como de ignorantes, sendo que até mesmo infiltrações mentais humanas poderão perturbá-lo no momento do fenômeno de transmissão, além da sua própria mente, que poderá, desagradavelmente, intervir se as condições vibratórias em geral não se encontrarem assaz dominadas e controladas pela entidade comunicante. Complementando a sua observação, Yvonne destaca que o médium nem sempre estará em condições mentais e físicas para exercer o mandato com brilhantismo. Um choque emocional, preocupações dominantes poderão alterar a boa sintonização com o agente exterior, redundando o pormenor em alteração da comunicação que se processa. O QUE DIZ KARDEC? Consultemos O Livro dos Médiuns (cap. XX) para ver o que Kardec e os Espíritos superiores dizem sobre esse tópico: Visto que as qualidades morais do médium afastam os Espíritos imperfeitos, como é que um médium dotado de boas qualidades transmite respostas falsas, ou grosseiras? — Conheces, porventura, todos os escaninhos da alma humana? Demais, pode a criatura ser leviana e frívola, sem que seja viciosa. Também isso se dá, porque, às vezes, ele necessita de uma lição, a fim de manter-se em guarda. Se ele só com os bons Espíritos simpatiza, como permitem estes que seja enganado? — Os bons Espíritos permitem, às vezes, que isso aconteça com os melhores médiuns, para lhes exercitar a ponderação e para lhes ensinar a discernir o verdadeiro do falso. Depois, por muito bom que seja, um médium jamais é tão perfeito, que não possa ser atacado por algum lado fraco. Isto lhe deve servir de lição. As falsas comunicações, que de tempos a tempos ele recebe, são avisos para que não se considere infalível e não se assoberbe. Porque, o médium que receba as coisas mais notáveis não tem que se gloriar disso, como não o tem o tocador de realejo que obtém belas árias movendo a manivela do seu instrumento. Isso significa que, muitas vezes, não conseguimos nem mesmo entender completamente o que se passa dentro de nós mesmos, quanto mais o que ocorre nas profundezas da mente e da alma de outra pessoa. Mesmo os médiuns famosos, que se destacam por seu trabalho social, pela produção mediúnica e por um progresso moral visível, ainda não alcançaram a perfeição. Eles continuam em evolução e sujeitos a falhas e enganos durante esse processo. Por essa razão, os guias e protetores espirituais permitem que tais indivíduos enfrentem circunstâncias desafiadoras, com o objetivo de avaliar e consolidar seu progresso, incentivando a vigilância, a humildade e a submissão aos preceitos do Cristo. Como não existe médium perfeito, também não há médium infalível. Nesse sentido, é fundamental lembrar que as bases doutrinárias do Espiritismo foram consolidadas por Allan Kardec ao longo de seus livros e periódicos. Dessa forma, ao nos depararmos com a vasta produção mediúnica disponível atualmente, é essencial realizar uma análise crítica de cada obra, priorizando o conteúdo em si, independentemente da identidade do autor, do médium, do Espírito comunicante ou da editora responsável pela publicação. RAZÃO, LÓGICA E BOM SENSO Para concluirmos, trazemos — em síntese — as palavras do Espírito Erasto, discípulo de São Paulo, extraídas da obra acima mencionada: Onde, porém, a influência moral do médium se faz realmente sentir, é quando ele substitui, pelas que lhe são pessoais, as ideias que os Espíritos se esforçam por lhe sugerir e também quando tira da sua imaginação teorias fantásticas que, de boa-fé, julga resultarem de uma comunicação intuitiva. [...] Contra este escolho terrível vêm igualmente chocar-se as personalidades ambiciosas que, em falta das comunicações que os bons Espíritos lhes recusam, apresentam suas próprias obras como sendo desses Espíritos. [...] Na dúvida, abstém-te, diz um dos vossos velhos provérbios. Não admitais, portanto, senão o que seja, aos vossos olhos, de manifesta evidência. Desde que uma opinião nova venha a ser expedida, por pouco que vos pareça duvidosa, fazei-a passar pelo crisol da razão e da lógica e rejeitai destrambelhadamente o que a razão e o bom senso reprovarem. Melhor é repelir dez verdades do que admitir uma única falsidade, uma só teoria errônea. Texto extraído do livro Mediunidade com Kardec de Patrick Lima . Capítulo 6: Aspectos Morais da Mediunidade Pergunta 64: Jesus Cristo era médium? Existe médium perfeito? Como citar: LIMA, Patrick. Mediunidade com Kardec. Poverello Edições, 2023. 1ª ed. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS KARDEC , Allan. A Gênese. Tradução de Evandro Noleto Bezerra. FEB Editora, 2013. KARDEC , Allan. O Livro dos Médiuns. Tradução de Salvador Gentile. 9ª edição. Editora Boa Nova, 2004. PEREIRA , Yvonne do Amaral. À luz do Consolador. FEB Editora, 2014.
- 63. Quais são os principais tipos de Espíritos que costumam ser atendidos em uma reunião mediúnica?
E Jesus, tendo ouvido isto, disse-lhes: Os sãos não necessitam de médico, mas, sim, os que estão doentes; eu não vim chamar os justos, mas, sim, os pecadores ao arrependimento. (Marcos 2:17) Quais são os principais tipos de Espíritos que costumam ser atendidos em uma reunião mediúnica? No contexto espírita, as reuniões mediúnicas são organizadas para promover um intercâmbio seguro entre o plano físico e o espiritual. Esses encontros, realizados nos centros espíritas, reúnem médiuns, dialogadores e passistas que, sob a orientação dos Espíritos superiores, trabalham de forma gratuita para auxiliar as entidades em sofrimento, oferecendo amparo e esclarecimento espiritual. Além disso, esse intercâmbio também visa os processos de desobsessão, cura, entre outros. CATEGORIA DOS ESPÍRITOS MANIFESTANTES No livro Diálogo com as Sombras , o autor e pesquisador espírita Hermínio C. Miranda destaca que os Espíritos assistidos — ou que se manifestam de forma espontânea —durante as reuniões mediúnicas pertencem, geralmente, às seguintes categorias: Mentores ou Guias Espirituais (Anjos da Guarda) São Espíritos elevados e benevolentes que organizam, supervisionam e auxiliam os trabalhos que serão realizados nas reuniões mediúnicas (desobsessão, esclarecimento, curas, etc). Em algumas ocasiões, podem trazer uma saudação breve ou compartilhar orientações rápidas na abertura dos trabalhos. No entanto, é importante lembrar que essas comunicações são espontâneas e não acontecem — de forma fixa ou obrigatória — em todas as casas ou grupos mediúnicos. Espíritos Sofredores São Espíritos que se encontram em estado de sofrimento, causado por desequilíbrios emocionais e morais. Cientes de que a casa espírita funciona como um verdadeiro hospital de almas, geralmente apresentam-se de forma espontânea — ou são conduzidos pelos Espíritos benfeitores — em busca de ajuda e alívio para suas angústias. Pertencente a essa categoria, também destacamos a manifestação de Espíritos suicidas, dementados, recém-desencarnados... Espíritos Mutilados São aqueles que apresentam mutilações ou deformidades, simbolizando as consequências de seus atos, traumas ou ideias fixas. Suas aparências frequentemente refletem, de forma simbólica, as dores morais ou existenciais que carregam. Espíritos Desorientados São aqueles que não reconhecem sua condição de desencarnados, acreditando ainda pertencer ao plano físico. Como resultado, tendem a permanecer ligados ao plano material, aos familiares, ao trabalho ou à antiga residência. Fanáticos Religiosos (Inimigos do Espiritismo) São Espíritos presos a crenças dogmáticas ou fanáticas. Eles mantêm erros e ilusões baseados em conceitos religiosos antigos ou mal interpretados. Acreditando serem os donos da verdade , consideram as outras crenças como equivocadas e lutam contra elas de todas as formas. Espíritos Intelectuais São aqueles que valorizam excessivamente o intelecto, utilizando-o de maneira arrogante ou manipuladora. Eles tendem a desconsiderar valores éticos e morais superiores. Espíritos Obsessores ou Vingativos São Espíritos impiedosos que perseguem os encarnados em razão de ressentimentos do passado. Eles demonstram rancor, desejo de vingança e têm dificuldade em transmutar suas emoções negativas. Geralmente, são persistentes em seu desejo de retaliação e resistem ao diálogo fraterno e esclarecedor. Em síntese, os obsessores são incansáveis, encontram satisfação no mal e sentem enorme prazer ao perturbar as suas vítimas. Alguns são revoltados por estarem sem o corpo físico; outros, invejosos e ignorantes. Dirigentes das Trevas São líderes de organizações espirituais inferiores que coordenam ações obsessivas por meio de estratégias complexas. Essas organizações possuem, quase sempre, estruturas hierárquicas bem definidas e com diferentes níveis de comando. Os Planejadores Subordinados aos Dirigentes das Trevas, os Planejadores são Espíritos especializados na elaboração de obsessões e perseguições, atuando de maneira precisa e meticulosa. Eles aplicam seus amplos conhecimentos para manipular tanto os encarnados como os desencarnados. Entre os Planejadores, destacam-se os Juristas, Espíritos que, devido ao seu domínio das leis espirituais e humanas, recorrem a argumentos de justiça como justificativa para suas perseguições e punições cármicas. Os Executores São agentes diretos das ações obsessivas, geralmente subordinados aos Dirigentes e Planejadores. Sua principal função é implementar vinganças e tormentos, seguindo as ordens de suas hierarquias espirituais. Magnetizadores e Hipnotizadores (Magos e Feiticeiros) São Espíritos que dominam a manipulação energética (magnetismo) e hipnótica, usando essas habilidades para exercer influência negativa sobre suas vítimas. Pelo seu conhecimento em magia, são vulgarmente chamados de magos e feiticeiros. COMUNICAÇÃO DE ENCARNADOS Vale a pena esclarecer ao leitor que, em certas ocasiões, Espíritos de pessoas encarnadas também podem se manifestar em reuniões mediúnicas. A condição de estar encarnado não impede a alma de se comunicar. Afinal, a alma encarnada não deixa de ser um Espírito e, mesmo estando revestida por um corpo físico, isso não a impossibilita de se comunicar mediunicamente. Allan Kardec, inclusive, chegou a suspeitar que algumas das mensagens recebidas durante as reuniões que frequentava fossem de Espíritos encarnados. Essa hipótese foi confirmada mais tarde pelos Espíritos que o guiavam em sua missão. Mais à frente, em um capítulo subsequente, realizaremos uma análise mais aprofundada sobre essas comunicações. Por ora, vamos voltar ao tema central deste estudo. QUALIDADES ESSÊNCIAIS Nas reuniões mediúnicas, encontramos uma grande diversidade de Espíritos, com características e estados de consciência variados. Cada um é assistido de acordo com suas necessidades e sua condição espiritual. Entretanto, uma regra se mantém inalterada: todos, sem exceção, devem ser tratados com paciência, respeito, compreensão e amor fraternal. Essas qualidades são essenciais para que o trabalho mediúnico seja realizado de forma eficiente e compassiva. Embora o amor, a caridade e a benevolência sejam pilares dos verdadeiros espíritas e cristãos, essas virtudes não impedem que, em determinadas circunstâncias, os trabalhadores espíritas, encarnados ou desencarnados, adotem atitudes firmes e enérgicas. Isso porque o amor, a justiça e a disciplina caminham juntos, como elementos indispensáveis ao nosso crescimento espiritual e educativo. Por fim, como nos relembra o Evangelho de Marcos na abertura deste texto, Jesus chama para si aqueles que precisam de cuidado e acolhimento, pois os que estão saudáveis não carecem de médicos. Essa premissa também fundamenta as reuniões mediúnicas, onde são acolhidos Espíritos em diversas condições de necessidade, que requerem socorro, amparo, esclarecimento ou orientação para prosseguirem em sua marcha evolutiva. Texto extraído do livro Mediunidade com Kardec de Patrick Lima . Capítulo 6: Aspectos Morais da Mediunidade Pergunta 63: Quais são os principais tipos de Espíritos que costumam ser atendidos em uma reunião mediúnica? Como citar: LIMA, Patrick. Mediunidade com Kardec. Poverello Edições, 2023. 1ª ed. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BÍBLIA DE JERUSALÉM . Marcos 2:17. 14ª impressão. Editora PAULUS, 2017. MIRANDA , Hermínio C. Diálogo com as Sombras. FEB Editora, 2018.
- 62. O que os meus pensamentos revelam sobre as minhas companhias espirituais?
Na questão 56 ( vide aqui ), abordamos os temas referentes à sintonia e afinidade. Contudo, diante da necessidade de nos aprofundarmos um pouco mais sobre o assunto em questão, ou na tentativa de explicá-lo de forma mais clara, apresentamos o texto a seguir. Na mediunidade, assim como tudo na vida, encontraremos o pensamento como grande gerador de energia e atração. Isto é, a qualidade dos nossos pensamentos determina quem são as nossas companhias espirituais. Sempre que substituímos um pensamento negativo por um positivo e praticamos o amor e a caridade em nossas ações cotidianas, entramos em sintonia e comunhão com os bons Espíritos. Por outro lado, a persistência em pensamentos e comportamentos inferiores, assim como toda atitude contrária aos ensinamentos de Jesus, resulta na conexão com Espíritos de menor grau evolutivo. SINTONIA, SEGUNDO ANDRÉ LUIZ Em Nos Domínios da Mediunidade , o autor espiritual André Luiz (psicografado por Chico Xavier) afirma que, em mediunidade, não podemos esquecer o problema da sintonia, visto que atraímos os Espíritos que se afinam conosco, tanto quanto somos por eles atraídos. Complementando o seu raciocínio, dessa vez em Mecanismos da Mediunidade , André Luiz (via Chico Xavier) nos ensina que o cérebro humano funciona como uma antena , tanto emitindo quanto recebendo variadas energias de acordo com o tipo de pensamento ou emoção vivenciada. Ao manifestarmos um simples pensamento, seja como encarnados ou desencarnados, nossa mente emite uma frequência que se exterioriza e se propaga pelo espaço, buscando outras mentes. Ao encontrar as mentes que estejam em sua mesma faixa vibracional, o pensamento inicial recolhe nas mentes em sintonia outros elementos similares ao seu, retornando ao cérebro emissor, trazendo um material fluídico mais robusto (é como se emitíssemos uma fagulha e recolhêssemos uma fogueira). Desse momento em diante, cada sujeito passa a influenciar os que estiverem na sua mesma faixa de frequência, na mesma medida que por eles também são influenciados (processo de simbiose coletiva). Isso é válido para os diversos matizes de pensamentos e emoções, no qual cada um recebe de acordo com o que transmite. As consequências da frequente comunhão — e sintonia — com Espíritos desequilibrados e de baixa envergadura moral é a manifestação de diversas doenças físicas e psíquicas (quase sempre sem diagnóstico ou tratamento eficaz na medicina terrestre), assim como os casos recorrentes de obsessão e possessão. Cada pessoa está imersa, portanto, no campo das suas próprias exteriorizações mentais e morais, sendo sua responsabilidade evitar, na medida do possível, sentimentos e pensamentos de natureza inferior. MEDIUNIDADE x RESPONSABILIDADE Em Diversidade dos Carismas , Hermínio C. Miranda traz a sua contribuição a respeito da sintonia ao asseverar que o médium é um ser que franqueou o acesso da sua intimidade aos seres invisíveis desencarnados (e até encarnados, sob condições especiais). Se ele adota atitudes de descaso, indiferença e preguiça, estará chamando para sua convivência espíritos semelhantes . É como um aparelho receptor de rádio ou televisão: captam a estação na qual se acham sintonizados e não, as outras. Em seguida, Miranda esclarece que, diante do aflorar mediúnico, aquele que deseja praticar a mediunidade de maneira adequada deve se dedicar a ela com seriedade (seriedade é diferente de fanatismo). Por outro lado, se a pessoa busca apenas uma forma de se entreter ou de chamar a atenção, é mais prudente que se envolva em outra atividade, pois assim evitará complicações futuras e responsabilidades menos graves. O QUE DIZ KARDEC? Em O Evangelho Segundo o Espiritismo , Kardec ressalta que o médium que queira gozar sempre da assistência dos bons Espíritos tem de trabalhar por melhorar-se. O que deseja que a sua faculdade se desenvolva e engrandeça tem de se engrandecer moralmente e de se abster de tudo o que possa concorrer para desviá-la do seu fim providencial. A reforma íntima, quando fundamentada nos ensinamentos do Cristo, atua como uma blindagem — em favor do médium — contra as influências negativas. Ao irradiar uma psicosfera equilibrada e saudável, o medianeiro se torna mais resistente às forças do mal, repelindo, assim, os Espíritos inferiores que tentam se aproximar com o intuito de prejudicá-lo. Sem dúvida, cada indivíduo é responsável pelas entidades espirituais que atrai para o seu cotidiano. Independentemente da sua natureza, sejam elas inferiores ou elevadas, as consciências com as quais nos conectamos refletem uma afinidade vibratória com nossos sentimentos, pensamentos, desejos e intenções mais profundas. Nada, em absoluto, passa despercebido à percepção aguçada da espiritualidade. Em suma, aquele que deseja descobrir quem são as suas companhias espirituais deve, primeiramente, observar seus próprios pensamentos e atitudes. Assim, com base na qualidade do seu modo de pensar e agir, não será difícil deduzir quem são os Espíritos com os quais está sintonizado. Texto extraído do livro Mediunidade com Kardec de Patrick Lima. Capítulo 6 : Aspectos Morais da Mediunidade Pergunta 62: O que os meus pensamentos revelam sobre as minhas companhias espirituais? Como citar: LIMA, Patrick. Mediunidade com Kardec. Poverello Edições, 2023. 1ª ed. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS XAVIER , Francisco Cândido. Nos Domínios da Mediunidade. André Luiz (espírito). FEB Editora, 2018. XAVIER , Francisco Cândido; VIEIRA , Waldo (psicografia). Mecanismos da Mediunidade. André Luiz (espírito). FEB Editora, 2013. MIRANDA , Hermínio C. Diversidade dos Carismas. LACHATRE, novembro de 2019, 9ª edição. KARDEC , Allan. O Evangelho Segundo o Espiritismo. Tradução de Salvador Gentile. 21ª edição. Editora Boa Nova, 2017.
- 61. Identidade dos Espíritos: Quais critérios usados por Kardec para identificar a elevação de um Espírito?
Em Mediunidade: Desafios e Bênçãos , o autor Manoel Philomeno de Miranda — pela psicografia de Divaldo Franco — reitera que a morte é apenas uma mudança de roupagem, uma transferência de posição vibratória, sem que ocorram fenômenos miraculosos que envolvam e transformem os mortos. Em outras palavras, ninguém se torna anjo ou santo , gênio ou sábio , simplesmente por ter desencarnado. Com a morte do corpo físico, o homem leva consigo, ao além-túmulo, todas as virtudes e vícios que cultivava enquanto encarnado. Se, porventura, sentia prazer em ações de má índole durante sua existência carnal, continuará praticando e buscando, após o desenlace do corpo físico, os mesmos comportamentos e transgressões. Isso significa que, tanto na Terra quanto no mundo espiritual, há pessoas — os vivos deste e do outro mundo — de diversos matizes evolutivos, compondo incalculáveis temperamentos, gostos, desejos, moralidades e inclinações. Dessa forma, é recomendado a todos que desejam estabelecer um intercâmbio com o plano espiritual que desenvolvam a capacidade de identificar, perceber e distinguir o grau evolutivo do Espírito comunicante, para não se tornar alvo de entidades manipuladoras e malévolas. COMO SABER SE UM ESPÍRITO É DE ORDEM ELEVADA OU INFERIOR? Em O Livro dos Médiuns e Resumo da Lei dos Fenômenos Espíritas , Kardec destaca pelo menos duas formas eficazes de reconhecer a natureza moral de um Espírito, sendo elas: a linguagem (teor da mensagem) e a sensação física (se assim podemos nos referir). É fundamental esclarecer, logo de início, que as sensações provocadas pela presença dos Espíritos não devem ser confundidas com a impressionabilidade puramente física ou nervosa (nem sempre aquele arrepio que você sente é de origem espiritual). LINGUAGEM E IMPRESSÃO TRANSMITIDA PELOS BONS ESPÍRITOS A aproximação de um Espírito superior é sempre acompanhada por uma sensação boa, suave e agradável, além de um sentimento de paz e quietude, alegria e tranquilidade. Os Espíritos de ordem elevada, aqueles que são verdadeiramente superiores e bons, apresentam uma linguagem sempre digna, nobre, lógica e isenta de contradições. Sua fala reflete a sabedoria, a benevolência, a modéstia e a mais pura moral, sendo concisa e sem palavras desnecessárias. LINGUAGEM E IMPRESSÃO TRANSMITIDA PELOS ESPÍRITOS MALÉFICOS As entidades menos evoluídas despertam nos médiuns, ao se aproximarem, sensações penosas, angustiantes e desagradáveis ¹. Essa interação pode provocar um misto de desânimo, irritação e perturbações de ordem psíquica e física, além de outras percepções negativas. Quanto à linguagem, os Espíritos inferiores, marcados pelo orgulho ou pela ignorância, tendem a compensar o vazio de suas ideias com uma prolixidade excessiva. Pensamentos evidentemente falsos, máximas contrárias à sã moral, conselhos ridículos, expressões grosseiras, triviais ou fúteis, e, enfim, qualquer traço de malevolência, presunção ou arrogância são sinais inquestionáveis de inferioridade em um Espírito. SENSIBILIDADE MEDIÚNICA Kardec trata desse tópico — referente a sensibilidade mediúnica — em O Livro dos Médiuns (Cap. XIV). De acordo com o codificador, os médiuns sensitivos ou impressionáveis são aqueles suscetíveis de sentir a presença dos Espíritos por uma impressão vaga , por uma espécie de leve roçadura sobre todos os seus membros, sensação que eles não podem explicar. Dando continuidade ao seu raciocínio, Kardec afirma que esta faculdade se desenvolve pelo hábito e pode adquirir tal sutileza, que aquele que a possui reconhece, pela impressão que experimenta, não só a natureza, boa ou má, do Espírito que lhe está ao lado, mas até a sua individualidade, como o cego reconhece, por um certo não sei quê, a aproximação de tal ou tal pessoa. Torna-se, com relação aos Espíritos, verdadeiro sensitivo. Em complemento, o autor destaca que os médiuns delicados e muito sensitivos devem abster-se das comunicações com os Espíritos violentos, ou cuja impressão é penosa, por causa da fadiga que daí resulta. CONTEÚDO DA MENSAGEM + SENSIBILIDADE MEDIÚNICA Os médiuns ostensivos, de modo geral, podem identificar a verdadeira natureza do Espírito comunicante ao observar, com prudência, bom senso e racionalidade, tanto as sensações físicas (quando estes se aproximam) quanto o conteúdo da mensagem apresentada. Entretanto, há pessoas cuja sensibilidade não é suficientemente desenvolvida, o que as impede de perceber, de imediato, a impressão física que o Espírito transmite ao se aproximar. Nesse caso, o conteúdo das mensagens ditadas pelos Espíritos deve ser analisado com seriedade e atenção redobrada. Isso porque há Espíritos mistificadores capazes de reproduzir conteúdos aparentemente nobres e edificantes, com astúcia suficiente para enganar até os mais experientes estudantes do espiritismo. Quando questionados, os Espíritos pseudossábios e embusteiros facilmente perdem a compostura, expondo a sua verdadeira essência. Uma simples objeção sobre suas afirmações pode fazer com que se mostrem irritados, atacando aqueles que, de maneira sábia, refutaram suas propostas, muitas vezes contrárias ao bom senso e à moral. Em contraste, os bons Espíritos constantemente orientam seus interlocutores a analisarem criticamente todas as informações provenientes da comunicação com o plano espiritual, inclusive as suas próprias instruções, promovendo assim a fé raciocinada e o fortalecimento do senso crítico. LINGUAGEM SIMPLES x ERUDITA Reconhece-se a natureza evolutiva de um Espírito por meio da sua linguagem, assim nos disse Allan Kardec. É importante deixar claro que, ao mencionar o termo linguagem , Kardec se referia ao conteúdo moral da mensagem que estava sendo apresentada, independentemente de possuir linguagem culta, erudita, simples ou informal. Há quem acredite, de forma equivocada, que uma entidade que se manifesta com uma oratória mais refinada, seja através da psicografia ou psicofonia, é automaticamente mais elevada do que aquelas que se comunicam de maneira mais simples e distante da norma culta. Algumas instituições espíritas adotam esse argumento para barrar a manifestação de Espíritos que não se enquadram no padrão de linguagem que, segundo elas, seria o correto. (recomendamos a leitura das obras do linguista brasileiro Marcos Bagno sobre preconceito linguístico). Dessa forma, entidades como caboclos, pretos-velhos, boiadeiros, entre outras, são frequentemente tachadas de primitivas — por parte do movimento espírita brasileiro — devido à linguagem que utilizam. ( vide questão 47 ) Aqui, não nos referimos propriamente à doutrina Espírita, o consolador prometido que tem como base o amor e a caridade para com todos. Falamos das pessoas que ocupam papéis de liderança nos centros espiritistas, mas que, em diversas situações, ainda demonstram pensamentos discriminatórios e atitudes excludentes (acrescentando seu personalismo e suas próprias ideias aos conceitos kardequianos). Para concluir a nossa explanação, trazemos o pensamento de Manoel Philomeno de Miranda, contido em sua supracitada obra. O benfeitor destaca que os Espíritos mais evoluídos, despidos de formalismos terrenos, não se preocupam excessivamente com o estilo da linguagem empregada. Sua prioridade é assegurar que o conteúdo da mensagem seja compreensível para todos, buscando que os encarnados despertem — e se preparem — para a vida que os aguarda após o fenômeno da morte. Basta recordar que o próprio Cristo ajustava o conteúdo de suas parábolas conforme o público que o ouvia, utilizando elementos extraídos do cotidiano de cada grupo. Em algumas ocasiões, numa única parábola, empregava mais de uma analogia, com o objetivo de alcançar todos os presentes, dos mais simples aos mais instruídos. Portanto, a verdadeira elevação de um Espírito não está na sofisticação da linguagem que ele utiliza, mas na profundidade de suas ideias, na moralidade de seus ensinamentos e na bondade que transmite. ¹ Há Espíritos mistificadores e de intenções maléficas cuja vibração pode ser igual ou superior a do médium (a vibração do médium, em alguns casos, é inferior à do Espírito). Nessas circunstâncias, um médium descuidado, ao entrar em sintonia com tais Espíritos, acredita estar em conexão com entidades elevadas, tornando-se vítima de sua própria desarmonia. ( sair ) Texto extraído do livro Mediunidade com Kardec de Patrick Lima . Capítulo 6: Aspectos Morais da Mediunidade Pergunta 61: Identidade dos Espíritos: Quais critérios usados por Kardec para identificar a elevação de um Espírito? Como citar: LIMA, Patrick. Mediunidade com Kardec. Poverello Edições, 2023. 1ª ed. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS FRANCO , Divaldo Pereira (psicografia). Mediunidade: Desafios e Bênçãos. Manoel Philomeno De Miranda (espírito). Editora LEAL, 2019. KARDEC , Allan. O Livro dos Médiuns. Tradução de Salvador Gentile. 9ª edição. Editora Boa Nova, 2004. KARDEC , Allan. Resumo da Lei dos Fenômenos Espíritas. Tradução de Salvador Gentile. IDE Editora, 2012.
- 60. De que maneira a meditação contribui para o equilíbrio e o desenvolvimento da mediunidade?
A mente humana é como um rio. Quando as suas águas estão agitadas, dificilmente conseguimos analisar — com clareza — o que há em seu interior. Contudo, quando este rio entra em repouso, a visão de seu leito se torna mais nítida. De maneira semelhante, a mente do médium, em seu estado de agitação ou serenidade, influencia diretamente a qualidade do seu trabalho mediúnico. O médium cuja mente permanece agitada ou ansiosa, incapaz de relaxar ou concentrar-se, e que não consegue abstrair — mesmo que momentaneamente — as preocupações cotidianas, dificilmente obterá uma comunicação mediúnica satisfatória. De modo contrário, quanto maior for o relaxamento e a tranquilidade mental do medianeiro, melhor será a sua percepção mediúnica. SERENIDADE E SILÊNCIO MENTAL Ademais, como bem nos orientou Manoel Philomeno de Miranda, em Mediunidade: Desafios e Bênçãos , através da psicografia de Divaldo Pereira Franco: " Aos médiuns é imprescindível a serenidade interior, a fim de poderem captar os conteúdos das comunicações e as emoções dos convidados espirituais ao tratamento de que necessitam. A mente equilibrada, as emoções sob controle, o silêncio íntimo facultam o perfeito registro das mensagens de que são portadores , contribuindo eficazmente para a catarse das aflições dos seus agentes.” Em outras palavras, a tranquilidade emocional e o silêncio interior favorecem a sintonia ideal entre o medianeiro e os Espíritos comunicantes. Já as fixações mentais, os clichês e todo sentimento perturbador obstruem a mente do médium, dificultando a sintonia necessária para uma comunicação de qualidade. O QUE É MEDITAÇÃO? Em vista disso, na atualidade, a meditação tem sido utilizada com bastante frequência nas casas espíritas, especialmente no decorrer do curso de educação mediúnica ¹ (comumente chamado de GEM – Grupo de Estudos Mediúnicos). Mas afinal, o que é meditação? O principal órgão de saúde dos Estados Unidos, o Centro Nacional de Saúde Complementar e Integrativa (NCCIH, na sigla em inglês), afirma que o termo "meditação" refere-se a uma variedade de práticas que se concentram na integração da mente e do corpo e são usadas para acalmar a mente e melhorar o bem-estar geral. A NCCIH também aponta que certos tipos de meditação envolvem manter o foco mental em uma sensação particular, como a respiração, um som, uma imagem visual ou um mantra (palavra ou frase repetida). Meditar, portanto, é o exercício de concentrar-se no momento presente, voltando-se para dentro de si, desconectando-se do mundo exterior, e buscando focar a atenção em algo específico (como a respiração, um som ou um ponto fixo). TENSÃO x RELAXAMENTO Entretanto, o autor e pesquisador espírita Hermínio Corrêa de Miranda, em Diversidade dos Carismas , destaca que a concentração não consiste em fixar na mente um pensamento ou imagem. Ainda na referida obra, o autor salienta que em vez de um esforço quase físico ou mental de concentração, o médium precisa é exatamente do contrário, isto é, de um estado de relaxamento que crie, em si mesmo, a receptividade necessária ao desempenho de sua tarefa. Dando continuidade ao seu raciocínio, Hermínio ressalta que o esforço de concentração resulta não apenas improdutivo, mas contraproducente, dado que, em vez de criar um relaxamento propício aos processos mentais, mantém o corpo e a mente em estado de tensão indesejável. Na prática, durante uma reunião mediúnica, a fim de estabelecer uma conexão clara e eficaz com o plano espiritual, o médium deve buscar um estado de tranquilidade mental e serenidade, afastando, tanto quanto possível, os pensamentos ansiosos, as distrações e os conflitos internos. TODA PERCEPÇÃO É MENTAL! André Luiz afirma, em Nos Domínios da Mediunidade, pela psicografia de Chico Xavier, que a percepção mediúnica, seja ela qual for (vidência, audiência, psicofonia, entre outras) ocorre através da mente. Dito isto, como podemos esperar que uma mente agitada e desequilibrada ofereça uma comunicação clara e fiel? Seria possível a um médium, incapaz de cerrar os olhos serenamente por breves momentos, transmitir mensagens mediúnicas sem que o seu descontrole interfira no conteúdo? O médium deve ser como um instrumento de corda; este, por sua vez, precisa estar bem afinado para que sua sonoridade seja genuinamente fiel ao dedilhar do músico (o Espírito comunicante). Portanto, o medianeiro que deseja ser um trabalhador humilde e fiel na seara de Jesus precisa aprender a cultivar uma mente serena, calma, tranquila e relaxada. Para isso, a meditação é uma das ferramentas indicadas. ¹ Na transição para a parte prática, após a fundamentação teórica, o médium vai gradualmente se habituando aos exercícios meditativos, como o apagar das luzes, o fechamento dos olhos e o relaxamento mental, para, enfim, perceber psiquicamente a aproximação dos Espíritos que serão atendidos. Texto extraído do livro Mediunidade com Kardec de Patrick Lima . Capítulo 6: Aspectos Morais da Mediunidade Pergunta 60: De que maneira a meditação contribui para o equilíbrio e o desenvolvimento da mediunidade? Como citar: LIMA, Patrick. Mediunidade com Kardec. Poverello Edições, 2023. 1ª ed. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS FRANCO , Divaldo Pereira (psicografia). Mediunidade: Desafios e Bênçãos. Manoel Philomeno De Miranda (espírito). Editora LEAL, 2019. NATIONAL CENTER FOR COMPLEMENTARY AND INTEGRATIVE HEALTH . Meditation and mindfulness: effectiveness and safety. Disponível em: https://www.nccih.nih.gov/health/meditation-and-mindfulness-effectiveness-and-safety. MIRANDA , Hermínio C. Diversidade dos Carismas. LACHATRE, novembro de 2019, 9ª edição. XAVIER , Francisco Cândido. Nos Domínios da Mediunidade. André Luiz (espírito). FEB Editora, 2018.
- 56. Sintonia e Afinidade: Como os pensamentos atraem ou repelem certos Espíritos?
No tocante à mediunidade, tudo é questão de afinidade e sintonia. Quando nos referimos à sintonia, estamos falando diretamente da exteriorização do pensamento. Ao pensar, o homem exterioriza seu pensamento por meio de ondas e frequências que se propagam pelo espaço, semelhante a um aparelho de rádio ou TV. Após a emissão do pensamento, a onda mental exteriorizada parte em busca de seus cômpares, isto é, outras mentes — de encarnados ou desencarnados — que estejam na sua mesma faixa vibracional e que compactuem com seus gostos, prazeres, hábitos e predileções. Ao sintonizar com outros seres de princípios equivalentes, o pensamento retorna ao seu emissor, agora enriquecido com conteúdos, energias e ideias absorvidas dessas mentes afins. Assim, o indivíduo não apenas reencontra seu próprio pensamento, mas recebe-o transformado, carregando influências e insights adicionais que foram gerados nas interações com outras consciências em sintonia. Ou seja, toda vez que o homem emite um simples pensamento, ele está absorvendo muitos outros, provenientes das mentes com as quais entrou automaticamente em sintonia (LEI DE SINTONIA E AFINIDADE). O cérebro humano, portanto, é uma verdadeira usina energética, atraindo — quando estão em mesma sintonia/frequência — ou repelindo — quando não há sintonia e reciprocidade — toda onda mental e fluídica em seu entorno. Por conseguinte, podemos concluir que, segundo a definição espírita, sintonia é a identificação ou similaridade entre as ondas mentais de dois ou mais Espíritos afins (afinidade de gostos, interesses, sentimentos, entre outros), sejam eles encarnados ou não. A ressonância, no entanto, refere-se ao retorno da onda mental que regressa ao seu ponto de origem ao encontrar uma vibração compatível. A sintonia é estabelecida quando uma onda de pensamento ou sentimento é emitida e encontra um correspondente vibratório semelhante. Isto é: só existe sintonia entre os seres quando há afinidade. PENSAMENTOS ELEVADOS x INFERIORES Esse mecanismo — que é contínuo e constante no homem — de emissão e recepção energética ocorre tanto para pensamentos elevados, quanto em pensamentos inferiores. Ao pensarmos em algo nobre e edificante, estamos sintonizando com mentes de igual natureza, mas ao projetarmos um pensamento infeliz ou nefasto, estamos nos conectando com seres que se regozijam na maldade, na mentira e na perversidade . O gravame ocorre justamente nesse caso, quando a reabsorção desses fluidos é malsã e deletéria, proveniente da comunhão com mentes em desalinho e enfermiças, comprometendo e interferindo no comportamento íntimo do sujeito invigilante. À guisa de metáfora, sintonizar no contexto espiritual é semelhante à sintonização de uma faixa de rádio. Por exemplo, cada estação de rádio possui a sua frequência própria, onde todos aqueles que sintonizam nessa faixa sonora passam a ter acesso ao que a emissora de rádio está transmitindo. Da mesma forma, quando um indivíduo emana um pensamento, ele está emitindo uma onda mental que será captada por todos aqueles que se encontram em sua mesma frequência e vibração. Todas as mentes, sejam de encarnados ou desencarnados, que tiverem pensamentos e sentimentos similares – isto é, afinidade – estarão em sintonia e ressonância vibratória entre si. Logo, tendo o homem consciência ou não, ele está em constante contato e sintonia psíquica com outras mentes de natureza igual à sua. Não foi por acaso que Jesus nos recomendou a vigilância e a oração, pois cada qual só interage com as forças de igual vibração, sendo cada indivíduo responsável pelas companhias espirituais que elege para sua vida. PENSAMENTO INFERIOR x PROCESSO OBSESSIVO Os indivíduos habituados a emitirem pensamentos negativos e inferiores são os que mais padecem em processos obsessivos, pois estão em constante intercâmbio com outras mentes em desequilíbrio, as quais, aproveitando-se dessas aberturas, passam a perseguir e a obsidiar o sujeito invigilante, buscando dominá-lo e influenciá-lo ao mal. Em Roteiro , o benfeitor Emmanuel, pela psicografia de Francisco Cândido Xavier, destaca que a mente, em qualquer plano, emite e recebe, dá e recolhe, renovando-se constantemente para o alto destino que lhe compete atingir. Estamos assimilando correntes mentais, de maneira permanente. De modo imperceptível, "ingerimos pensamentos" a cada instante, projetando, em torno de nossa individualidade, as forças que acalentamos em nós mesmos. Por isso — arremata Emmanuel — , quem não se habilite a conhecimentos mais altos, quem não exercite a vontade para sobrepor-se às circunstâncias de ordem inferior, padecerá, invariavelmente, a imposição do meio em que se localiza. Em outros termos, o homem está invariavelmente ligado a outros seres, encarnados e desencarnados, onde constantemente é sondado por outras mentes que sintonizam com o seu estado íntimo. O QUE DIZ KARDEC? A esse respeito, em O Livro dos Espíritos , questão 457, Kardec pergunta: — Podem os Espíritos conhecer os nossos mais secretos pensamentos? “Muitas vezes chegam a conhecer o que desejaríeis ocultar de vós mesmos. Nem atos, nem pensamentos se lhes podem dissimular.” Já na questão 484, do referido livro, o insigne codificador indaga: — Os Espíritos se afeiçoam de preferência por certas pessoas? “Os bons Espíritos simpatizam com os homens de bem, ou suscetíveis de se melhorarem; os Espíritos inferiores com os homens viciosos ou que possam vir a sê-los. Daí sua afeição, por causa da semelhança das sensações.” Clarificando, o intercâmbio entre as mentes só ocorre quando os envolvidos estão em uma mesma faixa vibracional e/ou moral. Em vista disso, cada pessoa sintonizará apenas com a faixa mental que ela emite, ou melhor, que se afiniza, seja elevada ou inferior, benéfica ou malsã. Tal sintonia recebe resposta imediata após a emissão do apelo mental, tendo como analogia a imagem de um plugue e uma tomada que se encaixam perfeitamente. DIGA-ME O QUE PENSA, E EU REVELAREI SUAS COMPANHIAS ESPIRITUAIS Em síntese, no início da sua jornada evolutiva, o Espírito tem mais instintos do que razão. Na medida em que vai evoluindo, esses instintos permanecem fixados em seu íntimo. Persistindo em seu adiantamento, pouco a pouco, a base de muita luta e esforço, essas fixações inferiores vão dando espaço a pensamentos e atos mais nobres e elevados. Isso significa que, durante a sua jornada evolutiva, é de suma importância que o médium mantenha a vigilância, pois, por mais que ele tenha consciência do seu processo evolucional, quando ainda se compraz em pensamentos primitivos e de ordem inferior, coloca-se em posição favorável para a comunhão com entidades vampirescas, que se utilizarão das suas más tendências para se alimentarem, induzindo-o ao abismo em graves padecimentos obsessivos. Através da psicografia de Divaldo Pereira Franco, o autor espiritual Manoel Philomeno de Miranda, na obra Mediunidade: Desafios e Bênçãos , informa que na raiz de qualquer distúrbio social, emocional, psíquico, orgânico, intelectivo há, invariavelmente, uma vinculação espiritual negativa. Portanto, para sair da influência e perseguição de Espíritos maléficos e obsessores, é preciso romper com a sintonia até então estabelecida. Nesse contexto, práticas como a leitura edificante, o estudo das obras da codificação, a prece, a realização do evangelho no lar, o atendimento espiritual na casa espírita, o passe, a utilização de água fluidificada, a mudança de padrão mental (o cultivo de bons pensamentos) e a reforma íntima são exemplos de hábitos valiosos. Essas ações visam auxiliar todos aqueles que desejam se libertar das influências espirituais inferiores. PEQUENOS INFORTÚNIOS Não encontrando brechas para atacar suas vítimas, muitas dessas entidades maléficas se afastam, enquanto outras permanecem à espreita, buscando influenciar negativamente as pessoas próximas ao médium. Dessa forma, através dos pequenos infortúnios e contrariedades do dia a dia — seja no trabalho, no trânsito, na faculdade ou no ambiente doméstico —, o médium pode baixar sua vibração. Este é o momento-chave em que os perseguidores sintonizam com suas vítimas, dando ensejo a uma obsessão mais direta. Texto extraído do livro Mediunidade com Kardec de Patrick Lima . Capítulo 6: Aspectos Morais da Mediunidade Pergunta 56: Sintonia e Afinidade: Como os pensamentos atraem ou repelem certos Espíritos? Como citar: LIMA, Patrick. Mediunidade com Kardec. Poverello Edições, 2023. 1ª ed. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS XAVIER , Francisco Cândido. Roteiro. Emmanuel (espírito). FEB Editora, 2021. KARDEC , Allan. O Livro dos Espíritos. Tradução de Guillon Ribeiro. FEB; 93ª edição. Rio de Janeiro, 2014. KARDEC , Allan. O Evangelho Segundo o Espiritismo. Tradução de Salvador Gentile. 21ª edição. Editora Boa Nova, 2017. FRANCO , Divaldo Pereira (psicografia). Mediunidade: Desafios e Bênçãos. Manoel Philomeno De Miranda (espírito). Editora LEAL, 2019. FRANCO , Divaldo Pereira; TEIXEIRA, Raul. Diretrizes de Segurança - Mediunidade (questão 27). InterVidas, 2012.












